Futebol

Cocada fala sobre clássico deste domingo e relembra tempo de jogador

Luiz Edmundo Lucas Correa, o Cocada: eis um personagem lendário na história dos confrontos entre Flamengo e Vasco. No dia 22 de junho de 1988, ele foi o herói de um título carioca que perduraria até hoje como a última vitória do Vasco em uma final de Campeonato Carioca sobre o maior rival. Precisando apenas de um empate, o Vasco assegurava o título com um 0 a 0 pouco empolgante.

Mas aos 42 minutos do segundo tempo, o lateral direito saiu do banco de reservas para, dois minutos depois, entrar na história de um dos maiores clássicos brasileiros na atualidade.Com um passe de Bismarck, Cocada arrancou em velocidade pela direita, encarou o ex-zagueiro Edinho e, após bonito corte para dentro, chutou de esquerda. Um chute forte e preciso que colocou a bola no ângulo esquerdo do goleiro Zé Carlos.

Na comemoração, tirou a camisa e acabou sendo punido pelo árbitro da partida. O Vasco, que tinha vencido o Carioca do ano anterior, sagra-va-se bicampeão do torneio.Na saída do campo, porém, o mais curioso: sem querer, Cocada faria uma “profecia” quando entrevistado pelos repórteres esportivos que o esperavam à beira do campo. “Estará escrito daqui a 20 anos que o Vasco da Gama conquistou o bicampeonato com o gol de Cocada aos 44 minutos dos segundo tempo”, disse o jogador, que, 26 anos depois do gol histórico, ainda vê o time rubronegro manter o tabu.

Formado em educação física e funcionário da secretaria de esportes de sua cidade natal Campo Grande-MG, onde voltou a viver, Cocada conta também que nunca desejou a manutenção do tabu. “Nunca pensei isso. Eu gosto do Vasco. Estou torcendo para que o time quebre esse tabu”, disse o jogador, que concedeu entrevista exclusiva ao CRAQUE na semana do clássico.

No bate-papo por telefone, e, entre outros assuntos, lembrou da jogada que consagrava o auge de sua carreira como jogador, do tempo em que se estende o tabu de títulos do Vasco sobre o Flamengo, analisou o jogo da semifinal do Carioca neste domingo e falou do carinho que tem pelo Flamengo de Zico, onde também foi campeão (Brasileiro, em 1983).

“Era um privilégio treinar com o time durante a semana e vê-lo jogar do banco, no domingo”, disse ele.Nascido em Campo Grande em 16 de abril de 1961, Cocada, que é irmão mais velho do também ex-jogador do São Paulo e Seleção Brasileira Müller, completou nesta semana 54 anos de idade. Confira abaixo a entrevista completa com o eterno ídolo vascaíno.

Você sabia que faria aquele lance ou a jogada saiu naturalmente?

Eu era um jogador muito rápido. Eu tinha convicção de que eu poderia realizar um bom lance. Quando parti com a bola, sabia que a defesa do flamengo já estava extenuada, fizeram grande jogo, tinha grandes jogadores na equipe, mas Edinho, por exemplo, já era veterano. Tinha consciência de que não me pegaria. Fui para tocar para o Romário, que já estava se posicionando para receber a bola, mas o Aldair marcou o Romário e me deixou decidir o lance.

E a entrevista que você deu após o jogo? Que ‘profecia’ foi aquela?

É, tem todo esse histórico (risos)... foi uma felicidade muito grande de um jogador, construir aquele lance, qualquer pessoa que jogou futebol sabe o quanto (é difícil), estando frio ainda, acertar um chute, principalmente na velocidade que foi.Você é vascaíno de coração?Três anos dentro de São Januário, passei os melhores momentos da minha carreira ali dentro. Convivi com elenco, jogadores como Romário, Bismarck, Mazinho, tive o prazer de conviver com essas pessoas maravilhosas. Hoje posso dizer que sou amigo do senador Romário. Quando ele vem em Campo Grande, sempre nos encontramos. Romário é um cara fantástico. É o jogador mais inteligente com quem joguei, tanto que hoje está bem sucedido.

Você é reconhecido pelos torcedores do Vasco até hoje?

Todo torcedor do Vasco daquela época lembra e por onde eu vou, sou bem recebido. A maioria lembra daquele lance. Fui em Santa Catarina, fui muito bem recebido. Aí em Manaus, a mesma coisa. Então você conhece Manaus?Sim, também tenho um grande amigo vascaíno aí em Manaus, faço questão de colocar aí; Arnóbio Santeiro (risos). Eu inclusive fiz um gol fantástico contra o Nacional, tão bonito quanto esse que fiz na final do Carioca de 88. Exatamente como aquele. Atravessei o campo em velocidade, cortei para a esquerda e bati cruzado no ângulo.E quanto ao clássico deste domingo.

O que acha dos times e o que espera para a partida?

Será um jogo aberto, as duas equipes são muito parecidas, não tem supremacia, então a partida pra mim é totalmente aberta, pode ser 1 a 0 pro Flamengo, 1 a 0 pro Vasco. o Flamengo talvez tenha uma ‘superioridadezinha’, um treinador mais experiente, mais tempo (de entrosamento), elenco mais à mão. O Vasco ainda é um time em formação, mas (o Flamengo) não está muito acima do Vasco. A questão é que o Flamengo se acertou: contratou Luxemburgo, a diretoria também se acertou. Digamos que eles passam por águas mais tranquilas. O Vasco tem um bom treinador, ainda jovem, tentando se firmar. O Vasco tem mais problemas, mas nem por isso vai ser fácil...

E quanto a qualidades individuais. Quem você acha que pode se destacar na partida?O melhor jogador do Vasco é o goleiro. Mas o Vasco tem meninos bons de bola, como o Thalles. E quando o senhor acha que o Vasco conseguirá quebrar o tabu de finais imposto pelo Flamengo?

Um dia vai ser, mas não posso dizer que vai ser agora. Quando se trata de tabu entre time grande, é uma coisa complicada. O Vasco passou fase de turbulência, tentando se ajeitar, com problemas internos, externos. Muito time, quando passa esse tipo de instabilidade, cai de produção

Então, enquanto durar o tabu, melhor pra você?

(risos)Não! Eu estou torcendo que o Vasco quebre esse tabu, que volte a comemorar um título em cima do Flamengo. Nunca pensei isso, gosto do Vasco. Não gosto de ver um time dessa grandeza numa situação assim. O Vasco merece coisas melhores. Torço pro sucesso do Vasco, quero ver o Vasco numa condição superior a que se encontra hoje. Passaram por muitas turbulências, muitos problemas complicados, e agora começa a se reestruturar depois de amargar uma segunda divisão, coisa que nem queria nem tocar no assunto, porque é muito triste ver um time grande na segunda divisão. Lugar de time grande é na primeira divisão. Quanto mais times grandes na primeira divisão, melhor o nível do futebol brasileiro.Seu apelido remete a um doce, mas o senhor causou grande amargor na torcida rubro-negra, não?É, tem um contraponto aí, são circunstâncias da vida. Ganhei esse apelido ainda na infância, aqui em Campo Grande.

O senhor é diplomático ao falar do Flamengo.

Eu gosto muito do Flamengo, tenho um carinho muito grande pelo clube, que permitiu ser Campeão Brasileiro (1983). Tive o privilégio de fazer parte daquele grupo, que o Flamengo naquela oportunidade era o melhor time do mundo, um time fantástico. Tinha o prazer de treinar e ver o time jogar do banco, no domingo.

Alguma mensagem para os vascaínos de Manaus?

Tenho vontade de voltar em Manaus porque gostei muito dessa cidade aí. Qualquer comemoração, festividade, que tiver aí, se puder me convidar seria uma honra!

Fonte: A Crítica
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