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Cocada relembra título de 1988 e aponta Pikachu como seu sucessor

A história de Luiz Edmundo Lucas Corrêa se confunde com a de muitos meninos pelo país afora. De origem humilde, alimentava o sonho de ser jogador nos campinhos de terra batida. Era ali, de pés sujos, que se sentia Jairzinho, craque do Botafogo e ídolo de infância. Aos 6 anos, costumava varrer a calçada de uma mercearia em Lar do Trabalhador, comunidade pobre de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Em troca, ganhava doces. Vem daí o apelido com o qual foi imortalizado na galeria de um dos maiores clássicos do futebol mundial. Sim, o garoto cresceu e precisou de apenas alguns minutos para fazer companhia a Roberto Dinamite, Romário, Zico, Adílio... Foi de Cocada o gol do último título que o Vasco conquistou sobre o Flamengo, na noite de 22 de junho de 1988, na decisão do Campeonato Carioca. 

"Entrei em campo aos 41 minutos do segundo tempo, marquei aos 44 e fui expulso aos 45. Não tive uma carreira brilhante, mas sou um privilegiado por ter feito aquele gol com uma camisa tão pesada. De lá pra cá, já estive em vários cantos do país e a torcida vascaína sempre me tratou com carinho", orgulha-se Cocada, que trocou a Estrela Solitária da infância pela Cruz de Malta: "Foram três anos em São Januário, tempo suficiente para virar vascaíno para sempre".

O Vasco entrou naquela final com um ponto de bonificação, já que havia conquistado o segundo e o terceiro turnos do Carioca — os rubro-negros tinham vencido o primeiro. A vitória por 2 a 1 no primeiro jogo decisivo (gols de Bismarck e Romário, com Bebeto descontando) deu ao Gigante da Colina a vantagem do empate na grande final. A partida se encaminhava para um 0 a 0, até que Bismarck, já no fim, roubou a bola e acionou Cocada. O lateral-direito disparou e deu um corte seco em Edinho antes de soltar a bomba no ângulo de Zé Carlos. Dispensado do Flamengo pelo técnico Carlinhos, na comemoração jogou a camisa no banco do rival e levou o vermelho.

"Não imaginava mais que entraria, porque os treinadores podiam fazer apenas duas substituições. Estava até com as chuteiras desamarradas quando o Laza (Sebastião Lazaroni) me chamou... O Flamengo estava em cima e, quando recebi do Bismarck, fui pro ataque para aliviar a pressão. Os dias seguintes àquele campeonato foram uma loucura. Não tinha mais cocada em lugar nenhum, os vascaínos compraram tudo para dar aos amigos flamenguistas... Até lançaram um disco. De um lado, tinha o hino do Vasco; do outro, o Garotinho narrando meu gol", diverte-se o herói que, antes de ser expulso, recuperou a camisa: "Tá louco que ia deixá-la pra trás! Anos mais tarde, dei ela de presente para o médico que operou meu pai aqui em Mato Grosso do Sul". 

Foto: Divulgação / Prefeitura de Campo GrandeO médico Nelson Trad Filho e Cocada
O médico Nelson Trad Filho e Cocada

O tempo passou e, depois de uma série de conquistas épicas nos anos 90 e 2000, os dias para o Vasco ficaram amargos. Para Cocada, porém, o investimento pesado que o Flamengo fez em seu elenco lhe dá apenas o favoritismo, não a certeza do título.

"Pelo dinheiro gasto, pelos jogadores que têm, eles são muito, muito favoritos. Se eu fosse o Alberto Valentim, não estaria dormindo direito. Vi a partida contra o Avaí, pela Copa do Brasil, o time não está passando confiança para a torcida. Mas tudo pode acontecer num clássico decisivo como esse, entre dois clubes tão grandes", ressalta o ex-atleta: "Como torcedor, fico triste que o Vasco tenha desenvolvido essa dificuldade de bater o Flamengo em decisões. Até aquele timaço com Romário, Juninho Pernambucano e tantos outros craques perdeu, mas são coisas do futebol. Uma hora acaba...".

De volta ao ponto de partida, Cocada se formou em Educação Física e hoje trabalha na Prefeitura de Campo Grande. Na comunidade Lar do Trabalhador, onde mora novamente, assistirá pela TV às finais entre Vasco e Flamengo, neste e no próximo domingo. Se o ex-lateral-direito tem um candidato a novo Cocada?

"Pikachu. Sou fã desse menino, merece muito!", profetiza o ídolo, ansioso por virar apenas uma doce lembrança.

Fonte: O Dia
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