José Henrique Coelho, presidente do MUV e ex-vice-presidente de marketing do Vasco, concedeu entrevista coletiva nesta quinta-feira e deu prosseguimento aos ataques a Roberto Dinamite e a sua administração. Coelho acusou Roberto de omissão na venda irregular de ingressos, o que classificou de caixa dois, má gerência das finanças e fraude no orçamento.
Fraude
\"O orçamento para 2009 apresentou um déficit de R$ 7 milhões. Na hora de apresentarem os números para o Conselho Deliberativo, a diretoria ficou receosa. Só que fraude nos orçamentos sempre foi um dos pontos que eu mais combati na antiga administração. No momento da aprovação do orçamento, fui contra, principalmente por ser um dos responsáveis diretos pela aquisição de novos recursos para o clube. Mas eles acrescentaram R$ 13 milhões no valor, com a autorização do presidente Roberto Dinamite e do vice-presidente José Hamilton Mandarino, e o orçamento fechou em R$ 6 milhões positivos.\"
Salários
\"O Vasco, hoje, não tem condição de arcar com os próprios compromissos. O clube está exposto a própria sorte. Para materializar o que quero dizer, entre luvas e salários, nosso treinador recebe R$ 280 mil mensais. Em contrato, foi estabelecido uma premiação de R$ 1,2 milhão em caso de retorno à Série A, independentemente da colocação. É o maior salário já pago a um treinador na história do Vasco e pessimamente negociado porque o clube não tem condições para isso. O valor previsto para o pagamento da comissão técnica, especialmente com a chegada de Rodrigo Caetano, é mais do que o dobro do que estava estabelecido.\"
Nepotismo
\"No Brasil, o Superior Tribunal Federal já denunciou contra o nepotismo em cargos públicos. Sou totalmente a favor do tribunal. Não seria justamente no Vasco que eu admitiria isso. Desde o início que eu tentei alertar o presidente sobre isso. O genro do Roberto Dinamite foi contratado para cuidar da logística do clube em viagens. Não conheço os valores do contrato e mesmo que eles sejam de mercado, encaro essa situação como totalmente desnecessária. Leonardo Marins, cunhado de Dinamite funcionário de seu gabinete na Assembléia Administrativa, foi contratado como seu secretário no clube com um salário equivalente a RS 9.500,00, equivalente ao dobro do que ele recebia na Assembléia. Sou contrario a essa situação, que me custou várias horas de suor.\"
José Hamilton Mandarino
\"Adepto da política da boa vizinhança. Como vice-presidente administrativo do clube, ele não expôs sua opinião contrária a alguns destes salários exorbitantes que estão sendo pagos. No último jogo do Brasileiro, Mandarino autorizou a entrada de 300 torcedores de graça. O Mandarino foi omisso em suas atribuições.\"
Ingressos - Caixa dois
\"O ingresso é a forma de um vascaíno ajudar o clube. Quando eu levava algum familiar, fazia questão de comprar ingresso para cada um deles. Mas havia quem achasse engraçado. Havia ingressos na diretoria e muitos pegavam, muitas vezes vendiam estes ingressos. Estou tornando público agora o fato de que a sala da presidência foi invadida mais de uma vez na temporada passada por chefes de facções para a cobrança de venda de ingressos por R$ 5. Não há fiscalização para meia entrada nas roletas. Isso é uma forma de burlar a lei. O Vasco está deixando de ganhar, em média, R$ 50 mil reais por semana. Uma média de 800 ingressos são pegos por conselheiros. Como estes ingressos são vendidos mais baratos, eles não entram no borderô. Por isso, é caixa dois. Isso foi para mim a gota d\"água. Tem conselheiro que compra ingresso consignado, a preços mais baratos, e os distribuem para as torcidas organizadas. Augustinho Taveira, ex-presidente do MUV, é um dos que praticam este ato ilícito. A justificativa de Roberto Dinamite e do Mandarino era a mesma: \"essas coisas são assim mesmo, a torcida já está acostumada a isso.\"
Vergonha
\"O Ministério Público, que tanto nos ajudou na eleição, e que está sempre atento a essa questão da meia entrada, deve estar envergonhado. O deputado federal Roberto Dinamite também, já que foi um dos que votaram na lei da meia entrada.\"
Despejo
\"Mesmo não sendo a minha área, sempre bati na tecla da importância de um centro de treinamento. Tive a oportunidade de conversar com Dorival Júnior sobre a importância de modernizar as instalações. Sugeri que parte da renda dos ingressos fosse convertida no pagamento de uma parcela da dívida que o Vasco tem com os donos do Vasco-Barra, mas isso não foi para frente. Mais dia, menos dia, teremos que pagar esta dívida. Temo pelo despejo em meio à disputa da Série B, quando o Vasco mais precisará. Então será triste ter que procurar um campo no exército ou até mesmo no campo de um amigo. O risco disso acontecer existe.\"
Candidatura
\"Não sou candidato a nada, não tenho vontade de me candidatar. Eu tentei apenas ajudar numa área que eu domino.\"
Decepção
\"Na política, estamos acostumados a promessas de campanha que não são cumpridas. Diria que o nosso ídolo (Roberto Dinamite) tem boas intenções, do contrario eu não o teria apoiado durante os últimos cinco anos. Mas acredito que algumas decisões mal tomadas poderão comprometer a sustentabilidade futura do clube. É preciso uma medida imediata. Minha saída não é personalizada. Acredito que o foco de algumas pessoas tenha mudado. Saio triste em razão da irresponsabilidade financeira, administrativa, e a falta de comprometimento de algumas pessoas.\"
Futuro
\"Vou tirar alguns dias de folga, mas nunca do Vasco. Continuo como presidente do MUV, mas ele foi desmobilizado desde a vitória na eleição.\"
Impeachment
\"A chance disso acontecer é zero. Não está previsto no estatuto do clube. Isso é oba-oba que pode ser comentado por aquele que arruinou o clube. A administração de Eurico Miranda é responsável por 97% da dívida atual do Vasco, que gira em torno de R$ 300 milhões. Quando chegamos, a nossa receita era de R$ 600 mil e a despesa, R$ 3,6 milhões. Ainda hoje, temos um déficit grande, de mais de R$ 2 milhões.\"