Outro torcedor, este do São Paulo, reconhece que o time comete muitas, muitas faltas mesmo, mas faz a ressalva: são faltas do jogo, faltas que fazem parte do futebol. E prossegue: o time do São Paulo não faz faltas violentas, não quebrou a perna de ninguém, etc...
Ah, que bom! Quer dizer: as faltas, mesmo que sejam mais de 30 por jogo, fazem parte do futebol desde que não quebrem a perna do adversário ou não lhe decepem a cabeça, não é mesmo? Enquanto não acontecer nada disso, o São Paulo pode fazer faltas à vontade, com a complacência dos juízes de araque e ao sabor das recomendações táticas do professor Muricy.
E, por que não?, com a complacência de uma parcela da mídia esportiva também.
Por exemplo: o comentarista da tevê no jogo do São Paulo com o Vasco, sábado, encantou-se particularmente com duas especialidades do Muricy: a disciplina tática para manter o time inteiro em seu campo, defendendo, e a frieza para fazer cera, deixar o tempo correr sem jogar.
Eis, portanto, dois recursos altamente criativos do espetáculo do futebol que agradam ao apurado senso estético do comentarista: a retranca e a cera.
De tão encantador, o recurso da cera passou a ser altamente edificante. O público consumidor e os estetas do futebol devem adorar pagar ingresso para ter o prazer de apreciar um time fazer cera tão bem.