Se tem um jogador que saiu com moral do empate em 0 a 0 com o Atlético-PR foi o zagueiro Jomar. Ovacionado pela torcida, o jovem, de 20 anos, ainda tenta se adaptar às mudanças que vêm ocorrendo em sua vida.
De origem humilde, Jomar, que é morador da comunidade de Costa Barros, na Zona Norte do Rio, concedeu nesta segunda-feira sua primeira entrevista coletiva. Nervoso, nem lembrava o defensor viril que tem feito boas atuações, suficientes para obter a titularidade no Vasco.
– Na minha estreia contra o Fluminense fiquei um pouquinho ansioso, mas essa de agora (concedendo entrevista) está sendo pior (risos). É a primeira vez que estou aqui, mas estou feliz demais por dar entrevista – disse com jeito simples.
Embora já tenha o reconhecimento do torcedor, Jomar ainda não mudou muito a rotina. Continua indo aos treinos da equipe de ônibus e metrô e convive na maior naturalidade com os moradores de Costa Barros.
– Lá tem muito vascaíno. Eles ficam cobrando, pedem camisa, mas é legal... Agora eles estão colocando até um telão para assistir aos meus jogos – revelou o zagueiro, que será titular novamente nesta quarta contra a Portuguesa.
Jomar revelou que um dos maiores conselheiros de sua carreira é o ex-zagueiro e coordenador das divisões de base Vasco, Mauro Galvão. O ídolo cruz-maltino foi quem o incentivou a jogar o mais simples possível.
- Tive a oportunidade de trabalhar com o Mauro Galvão na base. Ele sempre conversava comigo: "faz o simples, sem enfeitar, jogue sério, sem rir para os atacantes". Foi um aprendizado grande. Fico feliz por um grande jogador como o Mauro Galvão, que é um ídolo aqui, estar sempre me apoiando - elogiou.
Conhecedor dos talentos que surgem no Gigante da Colina, Mauro Galvão lembrou das conversas com o pupilo:
- Eu procurei passar para ele muita tranquilidade por essa transição, que é muito complicada. Dizia para ele se manter preparado, porque desde que o jogador assina contrato com um clube, independentemente da idade, ele tem de estar preparado para quando a chance no time profissional chegar.
Satisfeito com o que tem visto, o capitão da Libertadores de 98 foi só elogios:
- O Jomar está fazendo exatamente a mesma coisa que fazia na base. E é muito bom quando um jogador consegue manter isso no profissional. Essa transição é muito difícil. E desde que eu cheguei ao Vasco, vi um jogador muito aplicado, sério, com uma boa condição física e com um tempo de recuperação ótimo.
O estilo duro em campo, porém, contrasta com o perfil carismático fora dele. Sempre com um largo sorriso no rosto, Jomar é querido no grupo e chamado carinhosamente de "Negão" pelos jogadores. Parceiro de zaga e um dos mais experiente do elenco, Cris só tem coisas boas a falar do jovem.
- O Jomar é um moleque ainda, mas é um grande jogador, tem grandes qualidades e tem tudo para seguir com uma grande carreira profissional. Ele mereceu tudo o que aconteceu contra o Atlético-PR, jogou muita bola, tanto por cima quanto por baixo. Eu estou sempre conversando com ele e procurando passar a minha experiência. O Jomar está no caminho certo e agora é com ele. O espaço dele está aí e é só ele dar sequência ao trabalho.
MÃE NÃO PERDE UM JOGO
Aos poucos, Jomar vai caindo nas graças da galera, mas antes da fama, no período de "vacas magras", ele já possuía uma fã incondicional, daquelas que não perdem um jogo e estão sempre gritando e incentivando na arquibancada: sua mãe Marileusa.
- Minha mãe sempre me acompanhou. Ela grita, me incentiva mesmo, e quando a vejo durante o jogo é um estímulo a mais para mim. Jogo pela minha família - disse Jomar, que carrega o nome do pai e tem o irmão Joel, de 24 anos.
Marileusa, inclusive, esteve presente em São Januário e presenciou ao vivo o estádio inteiro gritando o nome do filho.
- Quando ela chegou do jogo me deu um abraço e ficou muito emocionada pela torcida ter gritado meu nome. Foi bem legal - se recordou emocionado.