Para Dorival, Vasco já tem a base para a Série B, mas ainda buscará reforços
Manhã de segunda-feira na orla da Praia da Barra. Menos de 24 horas após a vitória sobre o Flamengo, Dorival Júnior olha a paisagem, que costuma servir de cenário para suas caminhadas. É lá que, por vezes, tenta esquecer o trabalho. Até que se pega pensando nos problemas que ainda vê no Vasco. Observador obstinado do futebol, capaz de assistir a todos os jogos que puder na TV, coube a ele guiar o clube na busca de jogadores desconhecidos e formar um time que, segundo ele, será a base vascaína na Série B. Mas que será reforçado.
Temos a base. Mas não adianta achar que está bom. O risco é entrar na zona de conforto. Estamos atentos a alguns nomes avisa.
Saborear a vitória no clássico, segundo Dorival, dura minutos. Ele define o treinador como um administrador de problemas das pessoas.
Ontem, já pensava em como substituir Carlos Alberto, Titi e Ramon, suspensos, contra o Mesquita. Já pensava motivar os jogadores que estão na reserva. Já pensava em trabalho: O futebol consome muito. E montar um time mais ainda. Você apanha, não sabe quando vai encaixar.
Mas estou satisfeito. Tivemos menos problemas do que imaginávamos.
Dorival diz não ser obsessivo, mas respira futebol. Seus treinos chegam a durar quase três horas. Em casa, pelo pay-per-view, vê todos os estaduais possíveis. O Paulista em especial:
É um celeiro de reforços para a Série B, com jogadores que poderemos buscar ou até enfrentar.
O Campeonato Inglês é seu preferido, mas Dorival vê até a Série A2 de São Paulo. Este talvez seja um segredo de seu sucesso no Vasco. Ao chegar, havia pouco dinheiro e poucos jogadores.
A diretoria admitia não conhecer o mercado. Dorival mantém uma rede de contatos pelo Brasil. São técnicos, ex-jogadores e pessoas de confiança. Tudo para checar informações e mapear o mercado. Ao preparador Celso Rezende e ao auxiliar Ivan Izzo, pede que façam o mesmo.
Até meus filhos veem jogos e me dão dicas conta Dorival. Em 2007, no São Caetano, busquei o Luiz Henrique, que tinha caído para a Série C com o São Raimundo. Até o presidente me questionou. Ele foi bem e foi vendido para o Palmeiras. Já descobrimos um jogador no Sul, fomos checar e ele pode vir para a Série B.
À beira do mar, paz e reflexões
No Vasco, ele teve uma ajuda que, no Brasil, é vista com reservas. O empresário Carlos Leite auxiliou indicando jogadores e negociando com nomes que Dorival queria:
Se não fosse ele, o Vasco não formaria um time agora. Era preciso conhecer o mercado. Muitos jogadores nem queriam conversar com o Vasco. A responsabilidade não pode ficar só nas costas do treinador. Tem que haver consenso com a diretoria.
Com a chegada do diretor-executivo Rodrigo Caetano, a responsabilidade passou a ser dividida. Aí surgiu o nome que mais surpreendeu Dorival:
Foi o Ramon. O Rodrigo, que veio do Sul, o conhecia bem. Ele tem força, vibração, trabalha no limite.
Titi, Jéferson e Élton foram outras descobertas que viraram titulares.
Dorival adora ver futebol, mas faz uma ressalva: Não aguento jogo ruim. Ao deparar com um jogo truncado, não fica mais do que 20 minutos.
Mas depois eu volto para ver se o jogo melhorou brinca.
O trabalho afasta a solidão. A família ficou em Florianópolis:
Não dá para trazer. Técnico tem contrato semanal. Eu renovo o meu a cada domingo.
Mas Dorival curte uma relação recente mas intensa com o Rio. Morando em frente ao mar, encontra a paz para as horas em que, nem sempre com sucesso, tenta espairecer.
O Rio sempre me instigou. Futebol, samba, carnaval, coisas que fazem parte da vida do nosso povo, acontecem aqui. É um novo mercado para mim, um novo desafio. Todo profissional quer trabalhar no Rio diz Dorival. Sempre tive ligação com o mar. Ajuda a buscar coisas boas, recuperar-se do desgaste do futebol.