Na última quinta-feira, o Ministério Público do Rio de Janeiro pediu a destituição do presidente do Vasco, Eurico Miranda, e toda a sua diretoria por ligação íntima com a principal torcida organizada do clube.
É comum a relação de organizadas e diretorias no clube de São Januário - realidade em prática a muitos anos em São Januário, principalmente com a organizada do clube que segue banida de qualquer evento esportivo até o fim de 2017. A seguir, tente entender o quebra-cabeça que explica a relação de proximidade entre o poder e a Força Jovem.
No dia 12 de março, a eleição da Força Jovem do Vasco empossou nova diretoria após 725 votos contados. Ela, que venceu o pleito com vantagem de 83 votos, segue no apoio a Eurico Miranda, atual presidente do Vasco e candidato à reeleição. Do outro lado, a oposição da uniformizada se divide, mas concentra apoio na candidatura de Alexandre Campello, da "Frente Vasco Livre".
Eurico, ao lado de integrantes da Força Jovem do Vasco.
Historicamente, ter bom relacionamento com diretorias de clubes gera facilidades com ingressos, vínculos empregatícios diretos e indiretos e acesso a dependências do clube. Desde que reassumiu em São Januário, Eurico desalojou as organizadas de salas que ocupavam no estádio e anunciou o corte de ingressos.
Em maio, com a justificativa de atender a torcedores de baixo poder aquisitivo, o Vasco aderiu à fórmula semelhante a do Flamengo, que criou segmento de sócio torcedor para organizadas. . Desde que reassumiu em São Januário, Eurico desalojou as organizadas de salas que ocupavam no estádio e anunciou o corte de ingressos.
Presidente da FJV indo para lançamento da candidatura de Eurico.
O plano funciona da seguinte maneira: há limite de mil ingressos a preços de R$ 10 por partida. Para ter acesso, um torcedor precisa ser cadastrado e comprovar "baixo poder aquisitivo" para receber carteira de associado, com CPF e guichê exclusivo para a entrada. O plano atende a organizadas, entre elas a FJV.
A relação com as organizadas não se limita ao Vasco no Rio de Janeiro. Recentemente, os presidentes de Flamengo e Botafogo também apareceram em fotos com membros de torcida. Em São Paulo, presidentes do Palmeiras foram a eventos de uniformizadas. Recentemente, a dona da Crefisa, patrocinadora do clube, bancou festas de organizada.
Campello tem apoio de chapa derrotada na FJV
Membros da chapa "A história diz o ideal", que recebeu 318 votos na eleição da FJV, foram a diversos encontros do grupo de Campello, que tem também o apoio da "Cruzada Vascaína", que se desmembrou recentemente depois da divisão interna pelo apoio a Fernando Horta para a presidência do Vasco.
Clayton Leal, Anderson Coelho, o Cabeça, Robson Cruz (Robinho), Bruno Fet, e Jonathan Fernandes, entre outros, estão ao lado da "Frente Vasco Livre". Robinho chegou a ir em encontros com Julio Brant, como num churrasco em maio, mas tem compromisso com o outro grupo de oposição.
Boa parte do grupo apoiou Eurico na última eleição. Em junho de 2015, vazou áudio de Anderson "Cabeça" para Eurico Brandão, filho de Eurico Miranda e atual vice-presidente de futebol, em que o torcedor lembrava da ajuda no pleito do clube e pedia "atenção para projetos" e emprego para pessoas próximas.
Alguns membros da FJV estão empregados no Vasco. A diretoria nega que tenha relação e que conceda privilégios e ingresso às organizadas. Em entrevista recente ao Globo Esporte, o presidente do Vasco, Eurico Miranda, disse que não discriminaria membro de organizada de trabalhar no clube.
O candidato Fernando Horta tem alguns funcionários na Unidos da Tijuca que foram membros da FJV. Fernando Leal foi presidente da FJV. Cece (Márcio de Almeida), Beto Grajaú e Mc Charles também são antigos integrantes da organizada.
Presidenciáveis falam de relação
O GloboEsporte.com procurou todos os pré-candidatos para falar sobre organizadas e outros temas referentes ao relacionamento com elas. Apenas Fernando Horta preferiu não responder:
- Para falar sobre relação com torcidas organizadas é melhor entrevistar o atual presidente do Vasco. Eu tenho relação com vascaínos - disse Horta.
Ex-integrantes da FJV apoiam candidatura de Fernando Horta.
As perguntas eram:
1 - Qual é sua relação com a Força Jovem e outras organizadas?
2 - Por que alguns membros de organizadas estiveram em encontros de sua chapa?
3 - Como você vê a influência da Força Jovem e de organizadas na eleição do Vasco?
4 - Os membros de organizadas terão cargos como funcionários diretos ou indiretos no clube?
Confira as respostas de Alexandre Campello:
1- A Frente Vasco Livre não tem qualquer relação com a Força Jovem ou outra torcida organizada do clube. Somos um movimento político que recebe apoio de diversos grupos de sócios, e que não nega apoio de nenhum associado. Não há, repito, nenhuma relação direta com as torcidas organizadas, nem qualquer tipo de tratativa com estas instituições. Acontece que nossas reuniões são abertas, as pessoas podem participar, mas posso garantir que jamais houve negociação de cargo, amador ou profissional, com as torcidas organizadas.
2- Alguns membros de torcidas organizadas estiveram, sim, em nossas reuniões, afinal, como eu disse, nossos encontros são abertos. Neles, no entanto, apenas fazemos exposição de propostas e ideias da Frente Vasco Livre.
3- Não vejo influência em relação ao processo eleitoral do clube. A não ser pelo fato de que, dentro das torcidas, existem sócios com direito a voto, como qualquer outro. A atual gestão, sim, como o Ministério Público apurou, parece ter relações muito estreitas com membros de uma torcida organizada, a ponto de contratar alguns deles como funcionários remunerados do clube. O MP deve estar atento para que a eleição de 7 de novembro transcorra normalmente, em paz e com lisura, sem que esses personagens citados possam de alguma maneira atuar para atrapalhar o processo.
4- Não temos qualquer tipo de trato com as torcidas organizadas. Nossas tratativas são feitas com os sete grupos políticos que compõem a oposição, e apenas isso. Se eleito, a ideia é que a relação do clube com as torcidas organizadas seja transparente e pública.
Confira as respostas de Julio Brant:
1- Não temos nenhuma relação com torcida organizada, mas com vascaínos, sócios e torcedores, que nos apoiam. Se algum deles fazem parte de torcida, não sei. Mas não temos nenhuma relação com torcida. Nossa relação é com sócio e torcedor vascaíno.
2- Não me lembro de ter tido contato institucional com nenhuma organizada. Isso não aconteceu. O que pode ter acontecido foi que membros de organizada foram aos nossos encontros, que são públicos. E aí se discutem assuntos relacionados ao nosso programa de gestão.
3- Infelizmente, eu vejo que é utilizada a torcida como uma massa de manobra para o processo eleitoral. É o que temos visto nas últimas eleições. Mas o que eu entendo é que isso cada vez mais tem sido olhado com cuidado pela Justiça. A gente acredita na Justiça. O que for legal tem que ser participante naturalmente do processo eleitoral. Tem membros de organizadas que são sócios e pagam em dia. Têm que participar do processo.
4- Não. Não queremos esse tipo de relação com torcida organizada. Nossa relação vai ser do clube, institucional e transparente. A mesma que teremos com uma teremos com as outras. E essa regra da relação será publicada no site, e todos os torcedores que quiserem formar uma organizada saberão que tipo de apoio terão do clube. Será um apoio igual para todas as torcidas.
Confira as respostas de Otto Carvalho:
1 - Nosso grupo não possui relação com torcidas organizadas, mas temos projetos para que o clube se beneficie dessa relação. Temos que saber separar os marginais dos verdadeiros torcedores, pois nas torcidas organizadas existem torcedores com o intuito de ajudar o clube.
2 - Não tivemos reunião com nenhuma torcida organizada, mas poderíamos ter sem problemas, pois prezamos pela comunicação e transparência. A melhor maneira de solucionar qualquer problema é conversando, pois se a ideia é ajudar o Vasco, queremos ouvir. O que não toleraremos são pessoas que queiram se aproveitar do Vasco.
3 - Historicamente no Vasco as torcidas organizadas são utilizadas de forma política pelos grupos, inclusive havendo grandes confusões em dias de convenções dos grupo e no próprio dia da eleição. Nossa proposta é acabar com esse uso político que acaba arranhando a imagem do Vasco e fracionando a própria torcida.
4 - Não sou a favor desse tipo de relação com o Clube. Ele precisam ter independência em relação à administração, do Vasco, até para poderem cobrar atitudes da Diretoria no sentido de elevar o Vasco, cada vez mais, ao topo de todas a s atividades desportivas e sociais. Entretanto, se também forem associados ao Clube, podem exercer o papel de eleitores e elegíveis, dentro do processo democrático natural e responsável.