Esse estudo sobre as receitas do Campeonato Carioca, a exemplo do que foi postado sobre as receitas do Campeonato Paulista, também foi realizado pelo Everton Oliveira para a Pluri Consultoria.
Abro esse post com um gráfico que, sozinho, diz muito do que precisamos saber sobre os campeonatos estaduais:
O visual é claro e preocupante: tábula rasa em toda a competição com um único pico digno de registro: a disputa do primeiro turno, a Taça Guanabara e outro menor na final da Taça Rio.
Uma parte importante da explicação reside na impossibilidade de uso do Maracanã. Outra parte igualmente importante está ligada ao fechamento do Engenhão depois da segunda rodada do segundo turno, o que, na prática, detonou o público na final da Taça Rio.
Por fim, a terceira parte da explicação sobre os números do campeonato: a dupla conquista do Botafogo campeão nos dois turnos eliminou a rentável e verdadeira final do campeonato. Meu DNA futebolístico, forjado em São Paulo no decorrer de muitos Paulistas, só consegue enxergar e registrar as finais-finais (obrigado, Luxemburgo, pelo zagueiro-zagueiro), mesmo acompanhando o futebol do Rio de Janeiro há décadas. É uma fórmula interessante, sem dúvida, mas acredito que só seja válida, plenamente, para o futebol carioca. Esses fatores poderosos deprimiram os números de público e renda do campeonato.
A receita bruta dos 125 (o 126º foi disputado com portões fechados) realizados chegou a R$ 8,3 bilhões, com uma arrecadação média de apenas R$ 66,7 mil. Somente três clubes tiveram suas médias de arrecadação acima desse valor: Vasco, Flamengo e Botafogo. O campeão brasileiro em vigor, o Fluminense, conseguiu somente a quarta maior média de arrecadação, que foi inferior à média do certame e menos da metade da média do terceiro colocado.
Pouco mais de 109.000 pessoas foram aos estádios cariocas e nada pagaram, graças a leis e concessões diversas. Esse número corresponde a 26,7% do público total. Das 10 partidas que disputou como mandante, o Vasco teve mais não pagantes que pagantes em três delas.
O gráfico mostra que em mais da metade dos jogo do campeonato o público pagante foi inferior a mil pessoas. Pouco mais de um terço teve público entre mil e dez mil pagantes e somente 7 jogos, correspondentes a 5,6% do total, tiveram público superior a dez mil pagantes.
A tabela acima mostra a realidade das bilheterias: 12 dos 16 clubes participantes tiveram prejuízo nas bilheterias, ou seja, pagaram para jogar. somente Vasco e Flamengo conseguiram receitas acima da média líquida e somente quatro clubes esses dois e mais Friburguense e Botafogo conseguiram terminar a competição com lucro na bilheteria, embora com valores extremamente baixos, pífios mesmo.
Considerando as 126 partidas, os mandantes tiveram prejuízo em 83 delas 66% do total. Todas as 16 equipes tiveram pelo menos três jogos com prejuízo. O único clube a registrar prejuízo em todas as partidas como mandante foi o Fluminense.
Com relação aos pequenos, os 12 clubes mandaram 22 jogos contra os grandes. Em 21 dessas partidas as despesas foram maiores que a receita. O único jogo a registrar lucro foi Friburguense x Flamengo. Isso é um verdadeiro e doloroso chute na canela desprotegida do mito de que os jogos contra os grandes salvam os pequenos.
A maior receita e público foi da decisão da Taça Guanabara. Já a decisão da Taça Rio teve apenas a 5ª maior receita com o 6º maior público.
Mais uma coleção de números que deixam clara a necessidade de mudanças, ressalvando, novamente, o Maracanã fechado e o Engenhão com problemas, e, claro, a dupla conquista botafoguense, que animou a torcida e deprimiu o caixa.