Há mais do que paixão movendo Fábio Fernandes. Afinal, por que o sócio-presidente e diretor de criação da F/Nazca, uma das maiores agências de publicidade do Brasil, iria doar, de forma amadora, parte de seu tempo ao Vasco e assumir a vice-presidência de marketing, setor que boa parte dos clubes brasileiros são sempre acusados de negligenciar? Ele enxerga no Vasco atual, além de problemas, um território rico em oportunidades. O desafio é romper práticas antigas e transformar torcedor em cliente. Fábio, que passa a maior parte do tempo em São Paulo, vai comandar uma equipe profissional. Sonha fazer de São Januário um local de culto à paixão pelo clube, transformar a experiência de quem vai a um jogo e usar o estádio como pólo de atração de negócios.
- O Vasco deve ser tão apaixonado por sua torcida quanto ela é pelo clube - diz.
- REBAIXAMENTO: \"É sempre um problema. Ainda mais neste ano. Cair já é ruim e, se fosse escolher, este seria o último dos anos. A crise retraiu a iniciativa privada, é difícil buscar apoios. Não faço a linha de quem vê a queda como ritual de passagem. Mas é inevitável, então devemos aproveitar as oportunidades. Os ventos da mudança uniram o Vasco. A torcida tem esperança no futuro. A campanha \"O sentimento não pode parar\" foi um presente que os clientes nos deram e vamos usá-lo.\"
- ESTRATÉGIA: \"Só de ter visão crítica sobre práticas do esporte brasileiro já faria o clube avançar uns dez anos. Em publicidade, analisamos forças, fraquezas, oportunidades e ameaças a um produto. Ter estádio próprio, orgulho da torcida, é uma força e cria oportunidades. E uma arena para eventos. Pode-se ter jogos patrocinados, influindo até no comportamento do público para beneficiar um parceiro. Neste ano, a torcida do Vasco não tende a variar o humor. Ela se uniu por um ideal. Mas claro que há fraquezas e ameaças, tanto pela crise quanto pela situação do clube.\"
- OPORTUNIDADES: \"Ser o clube mais importante da Série B é atraente para parceiros. Acho mais inteligente ser o foco da atenção numa festa de 300 pessoas do que ser um dos focos numa festa de 1 milhão. O Vasco fará jogos que vão atrair cidades não atendidas pela Série A. Uma empresa do Nordeste pode usar o Vasco para atingir seus clientes.\"
- O MERCADO: \"Temos que ser capazes de entregar, a parceiros e clientes, um bom produto. Não dá para fechar com a Eletrobrás e, em meses, com o Vasco crescendo, pedir para triplicar o valor. Ganha-se na média, com respeito ao parceiro. Vamos fazer uma pesquisa ampla, mas o Vasco é seguramente o clube que mais rejeição teve nos últimos anos e o que mais diminuiu esta rejeição nos últimos meses. Até rubro-negros reconhecem novos ares, têm um olhar de simpatia. A torcida não tem mais vergonha de ves- tir a camisa, aprofundou a paixão. São condições boas para qualquer marca: potencial de crescimento e menos rejeição.\"
- MODELO EUROPEU: \"Tudo é proporcional. No Brasil, claro que o mercado é menos rico. O que não dá é para um clube do Congo agir como clube do Congo. Ou seja, já que não se respeita torcedor, cliente, parceiros, continuar assim. Vai demorar para o Vasco ser um Barcelona, para o Brasil ser um país europeu. A máquina, o atleta, custa caro. Tem o mesmo valor para todos, é difícil competir. Mas o bom atendimento ao torcedor, a estrutura, a busca de receitas, tudo dentro de uma proporcionalidade, isto é obrigação. Fazer certo é o passo para competir mundialmente.\"
- VISÃO DE FUTURO: \"O Vasco tem que ser moderno, tão apaixonado por sua torcida quanto ela pelo clube. Criar um SAT (Serviço de Atendimento ao Torcedor). Na campanha de sócios, dar benefícios e saber o que o cliente espera. Noventa mil pessoas é 0,5% da torcida. Se metade ajudar, a diferença será absurda. Patrocínio será sempre importante, mas a dependência dele pode diminuir.\"