Ele tinha tudo para ser só mais um Silva, mas sua vontade de ajudar a família e ver sua estrela brilhar falou mais alto. Do início amador no Desportiva, em Vitória, à chegada ao clube de São Januário como promessa do futebol brasileiro. Diante da hegemonia do rival, o Vasco da Gama apostou em um jovem de apenas 18 anos, mas muito talentoso.
Após um breve recomeço nos juniores, logo mostrou potencial para integrar a equipe dos profissionais. Sempre acompanhado do talento e audácia, fez do Maracanã lotado o seu palco para dar um lençol em Zico, na final da Taça Guanabara de 1982. Já no seu primeiro ano, sagrou-se Campeão Carioca com o Vasco, após o time passar quatro anos batendo na trave.
Lançamentos certeiros e precisão nas cobranças de pênaltis. Ao lado de Romário e Roberto Dinamite, um Pequeno Príncipe brilhou. Hoje, para vocês, uma entrevista exclusiva com o Embaixador do Brahma Vasco, o grande craque Geovani.
Blog da Colina Como foi seu início de carreira ainda na Desportiva-ES e a transferência para uma potência como o Vasco, em 1982, aos 18 anos de idade?
Geovani Difícil como para todos os jogadores, pois tinha que andar muito para ir treinar. Às vezes, não tinha condições de ir treinar por falta de dinheiro, às vezes ia a pé, mas consegui vencer essas adversidades jogando 4 anos seguidos: 2 anos no amador e 2 anos no profissional, porque queria muito ser jogador de futebol e assim ajudar meus familiares. Foi tudo que eu esperava que acontecesse e aconteceu: jogar num grande clube do futebol brasileiro.
Blog da Colina Foi difícil se adaptar ao novo clube?
Geovani No início foi muito difícil à adaptação, pois já tinha jogado campeonato brasileiro profissional pela Desportiva e quando fui para o Vasco tive que praticamente ter um início de carreira nos juniores, com Joel Santana como treinador, mas Deus sempre foi generoso comigo e em 2 meses já estava na equipe profissional com o treinador que me lançou, o Antônio Lopes.
Blog da Colina Você já chegou ao Vasco sendo Campeão Carioca em cima do arquirrival Flamengo, após o título bater na trave nos quatro anos anteriores. O que isso representou para a sua caminhada de sucesso na Colina?
Geovani Não sei se sou pé quente, mas acredito que sim, pois fui campeão pelo amador da Desportiva em 79, profissional em 80 e 81, e, na minha chegada ao Vasco, fui campeão pelos juniores e profissional em 82, e em 83 campeão sul-americano pela seleção brasileira sub20 e Mundial. Sendo assim, posso dizer que sou pé quente (rsrs).
Blog da Colina No ano seguinte, a seleção brasileira sub-20 conquistou o Mundial da categoria e você foi o craque do torneio, o cérebro do time comandado pelo Jair Pereira. Fale um pouco sobre a sua participação nesta conquista.
Geovani - Quando fui convocado pelo Jair Pereira para o sul-americano, nos treinamentos eu fazia parte do time reserva, pois o Vasco não me liberava para todas as convocações e Jair já tinha um time base. Nos coletivos eu estava treinando bem, sendo assim o Jair me colocou no time titular, até o inicio do sul-americano, depois ele me efetivou como titular já no torneio e fomos campeões e classificamos para o Mundial. Para o Mundial, fui convocado novamente, mas eu tinha sido campeão carioca profissional pelo Vasco e revelação do Campeonato Carioca de 82 e já tinha iniciado o Campeonato Carioca de 83 (profissional) e eu estava jogando bem. Na convocação para o Mundial, Jair Pereira me chamou em seu quarto em Guanajuato, no México, e falou dessa forma comigo: Geovani, você pode ser craque no Vasco, grande jogador do futebol brasileiro, mas pra mim você só vai ser um grande jogador se você ganhar o Mundial, ser o melhor do Mundial e artilheiro. Uma coisa até ouvi e tentaria ser, o melhor do mundial, mas artilheiro jamais pensaria ser, pois não era de fazer muitos gols, mas uma coisa posso dizer: DEU TUDO CERTO, pois não só fui o melhor mas também o artilheiro do Mundial com 6 gols. Um detalhe: Gilmar era cobrador de pênalti da seleção e contra Holanda perdíamos de 1 a 0. Vou só te falar alguns jogadores da Holanda: Van Basten, Gullit, Frank Rijkaard. O Gilmar já tinha saído, sendo assim sobrou pra mim a cobrança de pênalti, dali pra frente me tornei o cobrador oficial da seleção até a final contra a Argentina, onde me tornei artilheiro e o melhor do Mundial. Dos jogadores da Holanda citados, posso dizer dos nossos: Bebeto, Dunga, Jorginho, esses são alguns que foram depois campeões pela principal.
Blog da Colina Qual foi a sua maior dificuldade na carreira, Geovani?
Geovani Foi como eu disse a dificuldade financeira de poder ir treinar, como a maioria dos jogadores que iniciam a carreira, as dificuldades são grandes, mas não pode desanimar, porque se você quiser ser jogador, você tem batalhar muito, pois os frutos virão.
Blog da Colina Muitos dizem que o ano de 1988 foi o seu melhor. Pode nos falar um pouco sobre esta incrível temporada, quando você conquistou a medalha de prata nas Olimpíadas de Seul, foi campeão carioca e quase conquistou o Brasileirão?
Geovani Acho que todos os momentos no Vasco foram todos muito bons, pois jogar num clube como o Vasco da Gama nesse tempo todo (12 anos), não poderia ser melhor. Acredito que a melhor fase foram esses anos seguidos: 87, 88 e 89 quando fui para Itália. Obrigado, Vascão, por ter me aturado tanto tempo nesse grande clube!
Blog da Colina Uma pergunta que todo torcedor quer saber: Por que nenhum goleiro conseguia pegar os pênaltis que você cobrava? Era impressionante! Não errava uma cobrança sequer.
Geovani Posso dizer que eles não pegavam porque não queriam. Estou brincando, pois eu treinava demais pênalti com Acácio, Regis, Paulo Cesar e Alcides (goleiro capixaba campeão pelo Vasco), isso facilitava muito nos jogos quando precisava bater algum, pois treinava com goleiros de alto nível.
Blog da Colina A sua saída do Vasco para o Bologna da Itália, em meados de 1989, foi prematura? Arrepende-se? Você acabou não indo à Copa de 1990
Geovani Até me arrependi, poderia ter esperado e ir depois da Copa de 90, mas se não tivesse ido não teria hoje os meus filhos que são as minhas pedras preciosas!
Blog da Colina Como era jogar ao lado do Roberto Dinamite?
Geovani Difícil no começo, pois via o Roberto como ídolo maior do Vasco na TV, como vejo até hoje. Depois com o convívio, ficou fácil, pois ele ajudava todos os mais jovens.
Blog da Colina Qual foi seu momento mais importante no Vasco?
Geovani Todos os momentos para mim foram importantes nesse clube grande do futebol brasileiro, do primeiro ao último dia que joguei nesse clube do meu coração!
Blog da Colina Uma curiosidade: Qual foi o melhor time do Vasco em que você jogou? 1987 ou 1992?
Geovani Joguei em vários times, seria injusto citar apenas esses dois, pois tiveram outros que não conquistaram títulos, mas tinham grandes equipes.
Blog da Colina Geovani, em 2006, você foi acometido por uma doença que ataca os nervos e os músculos da perna, a Polioneuropatia. Como você está hoje e qual foi o papel do Vasco na sua recuperação?
Geovani - Muito bem, jogando futevôlei e até arrisco um futebol society. Digo aos torcedores vascaínos que estou curado, pois o Deus que sirvo é grande e obrigado por todos que na Tua crença pediram pela minha recuperação!
Blog da Colina Como foi receber o convite para ser o Embaixador do Brahma Vasco?
Geovani Foi uma alegria ser lembrado por uma grande empresa e representar a torcida vascaína, afirmando que fui um importante jogador.
Blog da Colina Para finalizar, gostaríamos que mandasse um recado para os leitores do Blog da Colina.
Geovani - Obrigado pelo carinho. Continuamos acreditando no Gigante da Colina e mostrando que o sentimento nunca vai parar! Força, Vascão!