Em 7 de agosto de 2022, os sócios do Vasco aprovaram a venda da SAF: as chaves do departamento de futebol foram entregues à 777 Partners no início de setembro, após a assinatura do contrato. A holding americana, em contrapartida, assumiu contratualmente uma série de obrigações, dentre as quais o aporte de R$ 700 milhões até o fim de 2024.
Mas como funciona essa fiscalização? Quem são os responsáveis por vigiar se de fato todos os pormenores do acordo estão sendo respeitados?
As recentes notícias sobre inadimplência da gestão, com atrasos nas parcelas de compras de jogadores e comissões a empresários, jogaram luz sobre o tema. Preocupada com o fluxo de caixa, a diretoria trata o assunto internamente e espera regularizar os pagamentos em breve.
O Vasco associativo tem dois representantes no Conselho de Administração da SAF: o presidente Jorge Salgado e o 2º VP Geral Roberto Duque Estrada. São eles os principais defensores dos interesses do clube dentro do organograma da empresa.
Além disso, a SAF tem seu próprio Conselho Fiscal, que é formado por dois membros indicados pela 777 e um pelo Vasco. Seu papel é descrito da seguinte maneira no estatuto da empresa:
"O Conselho Fiscal opinará sobre as contas anuais da Diretoria, orçamento de capital, as demonstrações financeiras da SAF Vasco e as operações patrimoniais nelas refletidas, além das atribuições estabelecidas no acordo de acionistas da SAF Vasco".
Diferente do Conselho de Administração, as escolhas para o Conselho Fiscal foram predominantemente técnicas. "Foram buscar gente no mercado", resumiu uma pessoa ouvida pela reportagem.
Graduados, com currículo recheado de experiência e formações que vão da engenharia à economia, os três conselheiros exercem funções remuneradas na empresa. A relação com o Vasco não foi pré-requisito para a escolha - dois deles sequer são vascaínos.
Esses são os membros do Conselho Fiscal da SAF do Vasco*:
Carlos Antonio Rodrigues Jorge (indicado pela 777)
É o presidente do Conselho Fiscal. Carlos Jorge é brasileiro, formado em Engenharia Eletrônica pela UFRJ e possui especialização em e- Business pela FGV e Master Of Business Administration pela Kellogg School Of Management da Northwestern University. É sócio e cofundador da Chicago Advisory Partners e atua como Secretário Geral da Open Finance Brasil. É um profissional com experiência em estratégia, inovação e governança em diversos setores industriais.
Wander Faria de Souza Azevedo (indicado pela 777)
Wander Azevedo é brasileiro, formado em Engenharia Elétrica pela UNICAMP e possui especialização em Business Administration pela FGV, master of Business Administration pela Kellogg School Of Management da Northwestern University. É Chief Strategy Officer (CSO) da Previneo, tendo atuado em empresas como Accenture Strategy e HSBC Bank Brasil. É um profissional sênior, com experiência em estratégias, processos de governança e funções consultivas, tendo liderado a implementação de projetos críticos no ramo financeiro. Experiência na implementação e execução de processos de governança e funções de supervisão.
Marco Norci Schroeder (indicado pelo Vasco)
Marco Schroeder é brasileiro, formado em Economia pela UFRGS e possui especialização em General Management Program pela Harvard Business School (HBS). Foi Diretor Presidente (CEO) da Oi S.A, grupo onde desempenhou diversas funções no Brasil e Portugal entre 2002 e 2017. Atuou também como diretor na área financeira na NET e Grupo RBS. Participa atualmente do Conselho Deliberativo da Fundação Sistel como Vice-Presidente do Conselho.
*informações retiradas do site oficial do Vasco.
Como funciona o Conselho Fiscal?
Enquanto o Conselho de Administração da SAF tem a obrigação estatutária de reunir-se ao menos uma mês por trimestre, a periodicidade dos encontros do Conselho Fiscal não é definida no estatuto. O presidente pode convocar um encontro a qualquer momento, e o quórum de instalação se dá pela maioria dos membros em exercício - ou seja, as reuniões podem contar com a presença de dois ou três conselheiros.
O ge apurou que a troca de informações é constante. A princípio, durante o período de transição onde a prioridade era arrumar a casa, os relatórios foram menos elaborados, mas a intenção é em breve estruturá-los trimestralmente. Eles se debruçam tão e somente sobre os números da empresa e deixam as discussões sobre resultados esportivos e rumos do futebol para outros dirigentes.
O Conselho Fiscal , por exemplo, aprovou por unanimidade as demonstrações financeiras dos primeiros meses da gestão (de agosto a dezembro), mas com ressalvas. A principal delas: " [...] aportes serão necessários nos próximos anos para que o Vasco da Gama Sociedade Anônima do Futebol tenha continuidade em seus negócios – o nível de receitas e resultados atual é incompatível com o nível de dívidas já assumidas por esta SAF."
A 777, vale lembrar, tem a obrigação de injetar mais R$ 510 milhões até 2024. Desses, R$ 120 deverão ser aportados em setembro.
E o clube associativo?
A associação não tem a missão de fiscalizar a SAF, tampouco tem acesso às informações internas do futebol do Vasco. Isso fica a cargo dos representantes que foram indicados aos conselhos. O compartilhamento de informações entre eles é parcial.
Tal fato incomoda alguns sócios e conselheiros, que gostariam, especialmente em ano eleitoral no Vasco, de acompanhar mais de perto as contas da SAF. Em dezembro, um grupo protocolou ordem para que Salgado e Duque Estrada prestassem esclarecimentos sobre investimentos e promessas da 777.
O clube é, hoje, uma entidade à parte que segue tendo o seu próprio Conselho Fiscal - este tem o dever de fiscalizar os contratos estabelecidos com a 777 Partners, assim como outros contratos que dizem respeito ao andamento do clube, como o aluguel de São Januário.
"O Vasco está recebendo esse valor?" e "os requisitos estão sendo atendidos?" são as perguntas que precisam ser feitas. Caso haja necessidade, os conselheiros podem acionar a diretoria administrativa ou até mesmo o Conselho Deliberativo.
Como acionista de 30% da SAF, o Vasco associativo ainda pode vender 20% - a lei da SAF exige que os clubes mantenham ao menos 10% das ações. A venda é cogitada e pode ser uma solução para o clube ter receitas para cumprir com suas obrigações e até mesmo investir em São Januário.