"Protesta a Itália contra a presença de Niginho no scratch". A manchete na capa do jornal O GLOBO (veja a página ao final do post), na edição de 1º de junho de 1938, há exatos 80 anos, informava sobre a situação complicada do atacante Leonízio Fantoni, revelado pelo Cruzeiro quando a equipe mineira se chamava Palestra Itália. Reserva de Leonidas da Silva na seleção brasileira durante a Copa de 1938, na Itália, Niginho foi impedido de jogar pelos cartolas locais devido a uma polêmica que começou três anos antes, quando ele deixou o clube italiano Lázio para voltar ao Brasil em uma fuga da guerra.
O atleta mineiro foi contratado pela Lázio em 1931, seguindo o caminho de seu irmão Ninão e seu primo Nininho. Lá, os três jogaram com brasileiros como De Maria, Pepe e Benedito, o que levou o time a ser apelidado de "Brasilázio". Mas a trajetória de Leonízio, que tinha cidadania italiana, foi interrompida em 1935, quando o governo fascista de Benito Mussolini o convocou para se juntar às tropas na Etiópia, que havia sido invadida pelas forças da Itália.
Temendo os campos de batalha, Niginho, com autorização da Lázio, voltou para o Brasil. Nos anos seguintes, sem o consentimento do clube europeu, o jogador atuou pelo Palmeiras, que na época também se chamava Palestra Itália, e depois pelo carioca Vasco da Gama, no qual estava quando foi chamado pelo treinador Ademar Pimenta para ser o reserva de Leônidas da Silva, o inesquecível Diamante Negro, na seleção brasileira. Mas, mesmo quando Leônidas se machucou, Niginho não pôde entrar em campo.
Leônidas se contundiu na partida entre Brasil e Tchecoslováquia pelas quartas-de-finais de Copa de 1938, e, portanto, Niginho deveria substituí-lo justamente contra a Itália, na semi-final. Mas a equipe italiana já vinha alertando a Fifa de que o atacante era um desertor e que não tinha autorização da Lazio para atuar. No fim das contas, sem Leônidas e sem Niginho, o Brasil foi derrotado pela Itália por 2 a 1 e perdeu a chance de disputar o que seria a sua primeira final de Copa do Mundo.
Em entrevista ao GLOBO depois da elminação, o treinador Ademar Pimenta explicou por que Niginho não entrou em campo contra a Itália.
- A Federação Italiana não enviou um protesto, e sim uma reclamação à Fifa de que o jogador brasileiro não completara o contrato que tinha a cumprir com o Lazio. A comunicação visava, naturalmente, apoiar qualquer pretensão de nulidade de jogo, caso o Brasil vencesse a Itália. Para afastar qualquer dúvida e não criar caso, preferimos não incluir Niginho, embora a exclusão do substituto de Leônidas nos prejudicasse bastante. É mais uma prova da correção do Brasil. Tal correção, porém, exige que não se aceite uma injustiça - disse o técnico, ainda revoltado com o gol de pênalti convertido pela Itália porque, segundo ele, a penalidade foi marcada irregularmente.