Formado em sua maioria por funcionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o grupo "Desenvolve Vasco" foi convocado pelo presidente Alexandre Campello para lidar com o principal e mais delicado problema do clube: as finanças. Com um "cartão de visitas" de R$ 586 milhões de dívidas herdadas de 2017 para resolver logo de cara, os envolvidos conseguiram fechar 2018 com uma redução de R$ 80 milhões deste número e ganharam carta branca da diretoria, o que os motivou a traçar um planejamento ainda mais ousado: diminuir o total do passivo para apenas R$ 113 milhões até 2024.
Encabeçando o grupo está Adriano Mendes, nomeado vice-presidente de Controladoria do clube. Profissional de auditoria externa, está no BNDES há 16 anos e, na estatal, avalia se quem solicita verba do banco terá condições de pagar. Com formação como contador, mestrado na UERJ e MBA no IBMEC, ele é que tem dado as diretrizes financeiras do Vasco adotando uma postura de austeridade.
Com o raro status de "unanimidade" entre as diversas correntes do conflituoso e pesado ambiente político cruzmaltino, Mendes foi o responsável por fazer o balanço e apresentar os números do clube no evento realizado para parceiros comerciais e possíveis investidores, feito pelo Vasco, na última terça-feira (18), na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
Entre opositores de Campello, já há quem o veja como um "salvador" do mandatário, ao ponto de alguns o citarem, em tom de brincadeira, com a alcunha de "Posto Ipiranga", apelido dado ao economista Paulo Guedes, futuro ministro da Economia e espécie de "guru financeiro" do presidente eleito Jair Bolsonaro.
"O ano de 2018, sendo bem objetivo, era para ficar em pé e fazer as reformas necessárias para começar a decolar em 2019, e é isso que mostramos. Reestruturamos o clube mesmo em um momento de dificuldade. Em 2019, sem dúvida, toda essa estrutura, desde o 1º de janeiro, vai começar a dar resultado. Provavelmente serão melhores, já que os custos serão menores, poderemos qualificar as pessoas, e as receitas vão começar a acontecer. Acho que 2019 será o ano da virada", disse Adriano Mendes, após o evento.
Integrante virou deputado federal e se afastou
Outro nome importante do Desenvolve Vasco é Paulo Ganime, nomeado vice de Gestões Estratégicas do Vasco. Embora não trabalhe no BNDES, possui um currículo profissional de respeito.
Formado em Engenharia de Produção pelo CEFET-RJ, estudou Economia na UERJ e fez um MBA na PUC-RIO. Com 15 anos de experiência nas áreas financeira e de gestão de projetos em empresas multinacionais como Shell e Michellin, morou cinco anos na França e nos Estados Unidos gerenciando equipes na Europa, Ásia e Américas.
Seu trabalho administrativo no Vasco, porém, foi interrompido com a campanha para deputado federal pelo partido NOVO-RJ que culminou em sua eleição.
Com um mandato a cumprir, Ganime - que esteve presente no evento da última terça - promete foco total ao cargo e fará apenas algumas consultorias ao clube quando for solicitado.
Integrantes em outras áreas
Há ainda integrantes do Desenvolve Vasco em outras áreas do clube, como a secretaria (que faz todo o controle, por exemplo, de sócios que estão aptos ou não a votar) e também na vice-presidência de desportos aquáticos, com Tiago Lezan Santanna.
Grupos da Petrobras e 'Cruzada' também sustentam diretoria
Há outro grupo oriundo de uma empresa estatal que tem servido de base para a diretoria: o "PetroVasco", formado em sua maioria por funcionários da Petrobras. Eles receberam do presidente Alexandre Campello a missão de tocar a parte patrimonial do clube com a nomeação de um de seus líderes para a vice-presidência de Patrimônio: Rodrigo Saavedra.
Com carta branca para montar sua equipe, ele escalou companheiros e está focado nos projetos de construção do centro de treinamento e reforma de São Januário, também apresentados no evento da última terça pelo vice de Obras, Pedro Seixas.
Dos grupos de importância na diretoria, há também o "Cruzada Vascaína", com forte atuação na política cruzmaltina e que tem como seu principal representante no setor financeiro do clube João Marcos Amorim, vice de Finanças.
Faltam R$ 18 milhões para clube fechar 2018
No evento da última terça, Adriano Mendes apresentou, inicialmente, a realidade encontrada ao se debruçar sobre as contas do Vasco, com elevado comprometimento de receita da TV, atraso de débitos operacionais de 2017 e altos gastos de folha e custeio do clube.
A partir disso, em seus cálculos, estipulou que a meta financeira que precisa ser atingida neste primeiro ano a fim de equacionar parte da dívida é R$ 120 milhões.
Em slide, demonstrou que R$ 57 milhões foram obtidos com a venda do atacante Paulinho para o Bayer Leverkusen (ALE), R$ 25 milhões com ganho de eficiência (aumento de receita e redução de custos) e os R$ 38 milhões restantes seriam oriundos do empréstimo aprovado pelo Conselho Deliberativo. Porém, até o momento, somente R$ 20 milhões deles bateram nos cofres cruzmaltinos, com os outros R$ 18 milhões ficando travados momentaneamente, fato que, segundo ele, foi o responsável por ocasionar os atrasos nos salários dos funcionários.
O bloqueio ocorre por algumas divergências nos termos do contrato. Porém segundo a diretoria, há um otimismo de que muito em breve isto será solucionado, permitindo com que o Vasco consiga atingit sua meta financeira para 2018.
"Financeiramente era um ano para ficar em pé, conseguir os R$ 120 milhões, que é algo que estamos conseguindo, e vamos terminar o ano com uma estrutura pensada para um Vasco maior", disse Adriano Mendes.
No evento, Campello anunciou que um mês de salários para os funcionários foi pago, restando agora dezembro e 13º de 2018 além de alguns débitos referentes a 2017. Os vencimentos dos jogadores estão em dia.
Reduziu despesas
Uma das medidas adotadas e que foi apresentada no evento foi a redução de despesas do clube. Gráfico exibido mostra que elas caíram de R$ 183 milhões em 2017 para R$ 168 milhões, uma diminuição de R$ 15 milhões. Ela se deu tanto por enxugamento do quadro de funcionários como também na implantação de um sistema da empresa "Totvs", que ajudou no controle geral de gastos vascaínos.
Maior lucro da década e aumento gradativo do resultado
Adriano Mendes afirma que o Vasco obteve o maior lucro da década em termos de resultado líquido, pulando de salto do negativo de R$ 31 milhões para o positivo de R$ 67 milhões. O vice-presidente de Controladoria engloba nestes números receitas, crescimento do sócio-torcedor e royalties, entre outras questões.
Ainda em termos de resultados líquidos, mais uma vez estipula metas ousadas, com um salto para R$ 117 milhões em 2024.
Aumento exponencial do fluxo de caixa
Levando em consideração tais lucros calculados com as despesas de financiamentos, parcelamentos e acordos, o departamento financeiro do Vasco projeta um salto do fluxo de caixa de um negativo de R$ 27 milhões, em 2019, para um positivo de R$ 102 milhões, em 2024.
Neste período de seis anos, pretendem, com as reduções de despesas, sair de R$ 45 milhões a serem pagos de acordos trabalhistas e cíveis para apenas R$ 7 milhões. Nos fiscais, de R$ 23 milhões para R$ 6 milhões. Por fim, em empréstimos bancários e de adiantamentos de TV e federações, de R$ 33 milhões para R$ 3 milhões.
Equacionamento da dívida
No slide final de sua apresentação, Adriano Mendes apresentou de modo geral a evolução da diminuição da dívida de R$ 586 milhões, em 2017, para R$ 133 milhões, em 2024, levando em consideração débitos com fornecedores, federações, passivos fiscais, PROFUT, acordos cíveis e trabalhistas, adiantamentos e empréstimos bancários.