Caíque é um daqueles personagens folclóricos do futebol que todo time deveria ter. Fanático pelo Vasco, ele virou, além de um torcedor-símbolo, uma celebridade em São Januário, no Maracanã e na sua vizinhança em Nova Iguaçu. O vascaíno, que na verdade se chama Carlos Henrique do Nascimento - Caíque é um apelido de família -, não tem outra escolha: é sinal da cruz com a mão direita, galho de arruda na esquerda e uma placa de papelão pendurado no pescoço. Fé. É a mensagem que Caíque manda para o Vasco.
- Continuo com fé. Eu ainda acredito. A única mensagem que posso levar de frase no cartaz é é essa. Vou ficar daqui me benzendo, mas acho que ainda dá sim - afirma o torcedor.
Caíque não vai a Joinville. Vai assistir ou em casa ou com a mãe, dona Zélia. O pai, o falecido Antônio Botelho do Nascimento, foi quem levou o menino Carlos Henrique para os estádios desde pequeno. A estrada é longa. Caíque tem 46 anos e viu de perto as grandes fases do Vasco - estava no Morumbi na conquista do Brasileiro de 1989 e, claro, na virada do século de 2000, quando inaugurou seu jeito de torcer e se tornou famoso ao se benzer sem parar e levar placa com a palavra "fé" - e também os momentos mais difíceis nos últimos anos, com dois rebaixamentos - em 2008 e 2013.
- Para dizer a verdade, não lembro quando comecei a ir aos jogos. Ia com meu pai. O seu Antônio Botelho. Ele era fanático, sempre frequentou São Januário e Maracanã. Puxei ele. Minha mãe tinha medo da violência, mas fui indo aos jogos, gostei e passei a ir sempre - conta Caíque.
Sem chance de ir a Joinville - "estou durinho", conta ele -, o torcedor do Vasco, que tem 46 anos, é solteiro e não tem filho, trabalha em loja de material de construção próximo de casa na cidade da Baixada Fluminense. Ironicamente, sua especialidade é cuidar de rebaixamentos de teto com canos de PVC.
- Não tenho carteira assinada. Faço um biscatinho aqui, outro ali, em rebaixamento de PVC, de teto, coloco gesso, essas coisas - diz ele, que muitas vezes é reconhecido pelas pessoas quando está trabalhando. - Sempre tem um engraçadinho que fala, às vezes provoca, chama de maluco, que eu faço sinal da cruz. Outros falam que faço isso para ficar famoso.
Como todo torcedor brasileiro, Caíque também tem a veia de treinador de futebol. Para ele, faltou uma boa retranca e malandragem para segurar o resultado contra o Corinthians. Ele também reclama das arbitragens do Brasileiro, conta alguns prejuízos em jogos do Vasco - lembra logo do jogo contra o Avaí e a Chapecoense -, mas não desanima. E já se prepara para ir busca de um novo e, de certa forma, velho destino: Couto Pereira, na última rodada.
- Tenho vontade de ir. Fui naquela Copa do Brasil de 2011 (Coritiba 3 x 2, com título vascaíno). Fomos campeões e eu estava lá. O Vasco tem que ganhar do Joinville, depois do Santos e deixar tudo para a última rodada. Aí vai ser aquele sofrimento de novo. Vou pegar papelão, tinta e deixar tudo no esquema. "Nego" acha que escrevo durante o jogo, porque já acertei o placar uma vez num Vasco x Náutico. Botei 2 a 0 e acertei. Mas não é nada disso. Só pego meu galho de arruda, faço a placa e vou para o jogo. Eu inventei isso. Começou na Mercosul. E aí virou moda.