A convocação para a reunião extraordinária do Conselho Deliberativo do Vasco na próxima segunda-feira chegou primeiro na imprensa do que para muitos conselheiros do clube. Representantes de pelo menos cinco grupos políticos diferentes não receberam ainda o documento, que vazou na tarde desta quinta-feira.
Em teoria, a convocação deve chegar até 48 horas antes da reunião, marcada para a noite de segunda-feira, na sede náutica do Vasco, na Zona Sul do Rio de Janeiro, para "conhecer denúncias (...) de atos praticados pelo presidente (...) e deliberar sobre a instauração ou não de inquérito administrativo". Mas a demora causou estranheza.
- Até agora não recebi nada. Me causa estranheza também que um dos itens da convocação não tenha qualquer embasamento no estatuto. Também estranhei que haja um balanço do clube publicado, com diversas irregularidades apontadas, e ninguém queira apurar isso - disse Otto Carvalho, benemérito do Vasco.
Outros conselheiros também se mostraram surpresos com o segundo item da carta de convocação:
2.a) Tomar conhecimento da nomeação e composição de Comissão Especial de Inquérito a ser nomeada para tal fim pelo Presidente do Conselho Deliberativo nos termos do que estipula a alínea "e" do inciso I, do artigo 85 do Estatuto Social; e
2.b) Discutir e deliberar sobre a adoção ou não de medida(s) liminar(es) e/ou preventiva(s) em defesa dos interesses sociais e/ou da garantia da instrução probatória e lisura do procedimento, assegurando ao Presidente da Diretoria Administrativa o exercício do contraditório e da ampla defesa.
Conflito com o regimento do Conselho
Conselheiros argumentam que não há no estatuto do Vasco qualquer artigo que corrobore o item 2.b - apenas no regimento interno do Conselho Deliberativo. Há a expectativa de que seja pedida a suspensão de Alexandre Campello de forma provisória, caso seja aprovada a instauração de uma comissão para apurar as denúncias.
- Não tem previsão estatutária. O que pensamos é que tem previsão no regimento interno do Conselho Deliberativo. Mas o regimento regula as atividades do órgão. O estatuto sobrepõe totalmente. O Conselho não pode deliberar uma pena que não existe - disse um membro ligado à oposição.
A reportagem tentou contato com Roberto Monteiro, presidente do Conselho Deliberativo e autor da convocação, mas não obteve sucesso.
Até agora, duas acusações a Campello se tornaram públicas: a de que ele teria pedido empréstimo de R$ 160 mil ao ex-vice-presidente de Patrimônio, Luiz Gustavo, e a de que teria contratado e privilegiado médicos de sua empresa para trabalhar no departamento de futebol.
Durante a semana, em coletiva dos 13 vices que deixaram o Vasco no sábado, Fred Lopes, ex-VP de futebol, disse que seria "uma irresponsabilidade tratar de impeachment", mas a convocação da reunião para segunda-feira é vista justamente como uma manobra para tentar a destituição de Campello.