As partidas mais aguardadas do Rio de Janeiro, as finais da Copa do Brasil, em 19 e 26 de julho, estão recheadas de esquemas de segurança. Para conter a ação dos cambistas, foi determinado pela organização que cada torcedor poderia comprar apenas dois ingressos.
Mas não é bem isso que está acontecendo. A reportagem do LANCE! conferiu de perto a ação de um cambista que revelou como fazia para driblar a determinação (confira na página ao lado).
Intrigada com a facilidade para se adquirir mais ingressos do que é permitido, a reportagem resolveu tentar comprar mais de dois bilhetes de uma vez. Surpreendentemente, e com muita facilidade, a missão foi bem sucedida.
O primeiro passo foi definir quantos ingressos seriam comprados. Por ser mais que o dobro do permitido, a reportagem decidiu que tentaria obter cinco entradas.
Como o nosso \"professor\" ensinou que nas Laranjeiras era o melhor ponto para se dar o golpe, a sede do Flu foi a escolhida. Chegando lá, o segurança que coordenava a fila de torcedores reconheceu o repórter, que já havia trabalhado por lá de manhã. Como ali a missão não teria sucesso, a reportagem do LANCE! rumou para outro ponto de venda: a bilheteria 8 do Maracanã.
O cenário contribuiu para a ação: movimento pequeno, poucos policiais na fiscalização e caixas vazios.
Às vias de fato, então: - Cinco ingressos por favor - pediu a reportagem do LANCE!.
- Cinco? Mas eu só estou autorizado a vender dois ingressos por pessoa - respondeu o funcionário.
- Jura que tem problema?
O bilheteiro para e conversa com o funcionário do guichê ao lado: - Tá bom então. Vou quebrar o seu galho. São 150 reais.
Pagamento feito, ingressos contados e conferidos, só restou o agradecimento ao \"favor\" que foi feito.
- Muito obrigado e um bom dia de trabalho - agradeceu o repórter.
- De nada, fique com Deus e bom jogo - respondeu.
O número de cinco ingressos, porém, foi apenas o escolhido pela reportagem, aleatoriamente. A abordagem, e depois o sucesso, foram tão tranqüilos que a impressão que fica é que se fossem solicitados dez, eles haveriam sido comprados.
A facilidade era tamanha que se o repórter quisesse pular para o caixa ao lado e comprar mais cinco ingressos, teria conseguido. Talvez isso explique por que cada vez mais há bilhetes nas mãos de cambistas.
Na sede do Fluminense, o cambista que se identificou como Paulo Berbt (não foi mostrado nenhum documento) saiu da fila muito tranqüilo com o seu bolinho de 20 ingressos. Questionado pelo repórter sobre como tinha conseguindo comprar aquela quantidade de entradas, Paulo, de 22 anos, calmamente começou a sua aula.
Segundo o cambista, o processo é simples. O primeiro passo é entrar normalmente na fila e comprar os dois ingressos permitidos. Depois, é tentar chegar no caixa ao lado e comprar novamente.
Outra estratégia utilizada é abordar torcedores comuns que estão na fila para comprar apenas um ingresso e dar o dinheiro para eles comprarem um segundo ingresso para o próprio Paulo. E por aí o número de bilhetes vai aumentando.
Mas Paulo reconhece que não é em todo lugar que ele consegue concluir seus planos com sucesso.
Na Gávea e em General Severiano, segundo o cambista, a missão é bem mais complicada.
- Antes de chegar aqui, passei pela Gávea e nem saltei do carro.
Percebi de longe que daria confusão se eu tentasse qualquer manobra.
Lá sempre acaba em confusão. Aqui nas Laranjeiras a situação é bem mais tranqüila e eu posso desenvolver o meu trabalho - afirmou.
Cambista desde os 18 anos, e não só em partidas de futebol, Paulo reconhece que não é a profissão ideal. Mas por estar necessitando do dinheiro para pagar a faculdade de Educação Física que cursa, o \"trabalho\" acaba virando o ideal.
- Esse ramo é um investimento certo. Dificilmente se perde dinheiro, você só
tem a lucrar. Em um jogo como esse, então, que a procura é muito grande, vou ter um bom faturamento - garantiu.
Paulo já decidiu a sua estratégia para o primeiro jogo da final. Quando os ingressos se esgotarem, ele vai começar a revender. E o preço?
No mínimo R$ 50, quase o dobro do valor correto na bilheteria.