O futuro de Miranda por enquanto é um grande ponto de interrogação. Suspenso preventivamente por tempo indeterminado por doping, o zagueiro do Vasco nega que tenha ingerido intencionalmente qualquer substância ilegal. Os advogados do jogador preparam a defesa, que será entregue de forma escrita, na próxima semana. Ainda não há data para o julgamento, mas a expectativa é que a decisão ocorra ainda neste ano. Paralelamente, o atleta vem trabalhando com um preparador físico particular em uma academia na Barra da Tijuca.
Miranda foi flagrado em exame antidoping realizado no jogo contra o Defensa y Justicia, pela Copa Sul-Americana, em 3 de dezembro do ano passado. A substância detectada foi a canrenona, um diurético proibido pelos controles de doping. Miranda e seus advogados acreditam que tenha ocorrido uma contaminação de um suplemento que o jogador vinha usando. O produto foi indicado por um médico pessoal, mas não contém substâncias ilegais e teve o aval do corpo médico do Vasco.
Defesa crê em pena reduzida; suspensão pode chegar a 2 anos
A pena base da Conmebol para esse tipo de substância é de dois anos de suspensão, mas a defesa acredita que conseguirá reduzi-la ou até transformá-la em advertência, caso consiga provar que Miranda não teve a intenção de se dopar e foi vitima de contaminação na manipulação do remédio em um laboratório do Rio de Janeiro.
- O Matheus (Miranda) é um atleta jovem, que nunca teve problema de peso, então não teria motivo para usar um diurético. Além disso, queremos mostrar, com dados de performance, que ele não teve nenhuma mudança drástica de desempenho que pudesse ser causada pela absolvição de substância. Queremos mostrar que foi uma fatalidade - disse André Ribeiro, advogado de Miranda.
- Acreditamos que possa ter uma redução da pena pelo histórico dele. É um atleta que sempre teve muito cuidado e foi acompanhado de perto pelos médicos do Vasco. Foi uma substância diurética e não um anabolizante. No período anterior à coleta, ele só ingeriu um suplemento indicado pelo médico pessoal, mas que obviamente não tem nenhuma substância proibida e foi aprovado pelo Vasco. Acreditamos na contaminação na farmácia de manipulação. Ele também ingeriu medicamento para a Covid-19 alguns dias antes - completou André Ribeiro.
Miranda teve Covid-19 em meados de novembro e desfalcou o Vasco por três jogos, poucos dias antes da partida contra o Defensa y Justicia, em 3 de dezembro, quando ele foi flagrado no exame antidoping. Apesar de ter ingerido medicação por conta da infecção de coronavírus, a defesa do jogador não acredita que esse tenha sido o motivo da contaminação. Além de se tratar de um remédio industrializado, a canrenona (substância encontrada na coleta de Miranda) costuma ficar no corpo por no máximo 24 horas.
- O Matheus (Miranda) vinha fazendo uso contínuo desse suplemento manipulado por 30 dias. Então provavelmente foi algo que ele ingeriu no dia do jogo - suspeita o advogado André Ribeiro.
Não há prazo para sentença, mas a expectativa é o julgamento aconteça ainda em 2021. Em 7 de setembro, em audiência preliminar, Miranda apresentou sua defesa. No dia 16, a Conmebol comunicou o Vasco sobre a suspensão preventiva. Miranda estava em Maceió, com a delegação vascaína, para o jogo contra o CRB, mas foi retirado da partida.
Os advogados do jogador entregarão à Unidade Disciplinadora da Conmebol, na próxima semana, a defesa por escrito. A tendência é que ocorra uma nova audiência, com participação do zagueiro e de testemunhas, provavelmente por videoconferência. Em seguida será marcado o julgamento. Caso não concorde com a sentença, Miranda ainda poderá recorrer da decisão na Corte Arbitral do Esporte, em Lausanne, na Suíça.
Apesar de o departamento jurídico do Vasco não estar participando da defesa de Miranda, o clube tem dado o apoio necessário, disponibilizando dados para a defesa e se colocando à disposição. Caso o jogador seja punido, o departamento de futebol pretende renovar o contrato de Miranda pelo período de uma eventual suspensão. O atual vínculo acaba em dezembro.
Rotina de treinos
Miranda está proibido de jogar, treinar, ir às dependências do clube e dar entrevista como jogador do Vasco. Toda essa situação, obviamente, o deixa chateado. O zagueiro de 21 anos vinha sendo titular e disputou 23 partidas neste ano. Após o baque inicial, o jogador resolveu cuidar da forma física com um profissional particular.
Na semana passada, ele iniciou treinos com um personal trainer. Miranda procurou Iuri Evangelista, ex-preparador físico da base do Vasco. Os dois trabalharam juntos no clube entre 2018 e 2019. O zagueiro vem treinando cinco dias por semana.
- A ideia é deixá-lo na ponta dos cascos para quando ele puder voltar. Os treinos são feitos cinco dias por semana e são divididos em trabalhos de força, potência, resistência e prevenção de lesões. Estamos montando um trabalho para ele se manter em alto nível e não sentir tanta diferença quando voltar. Nesta semana começamos algo mais especifico, com bola. O trabalho em campo é muito importante. O plano é fazer tudo o que pudermos para aproximá-lo da rotina de jogador. A única diferença será o contato e os treinos com grupo - disse Iuri.
O preparador ressalta que Miranda está motivado e não demonstra abatimento pelo fato de estar suspenso. O assunto, aliás, não entra em pauta nos treinos. O foco é estar preparador para o momento em que puder voltar a jogar futebol:
- O Miranda não fala sobre o que aconteceu. A ideia é sempre mantê-lo focado nos treinos. Ele é disciplinado, leva o trabalho a sério. Em nenhum momento se mostrou abatido. Vamos para cima. Essa é a ideia.
- Ele é um cara trabalhador. Sempre gostou de trabalhar, focado, disciplinado. As coisas acabam se tornando mais fáceis. Ele está sempre muito motivado. Chegou duas vezes mais cedo do que eu na academia. Não tem como dar errado. Estamos trabalhando bastante. Ele tem correspondido muito bem. Tem sido muito produtivo. Vai voltar muito bem, tem feito um trabalho personalizado. Como não sei o período que ele ficará fora, vamos construindo isso. Quando ele voltar, não estará muito atrás do grupo. Ele é um atleta forte fisicamente e mentalmente. E não ficou parado - avaliou o preparador de Miranda.