A partida entre Botafogo e Vasco começou às 21h30 desta terça-feira, mas a equipe de Rafael Paiva parece que não entrou em campo no mesmo horário. Os dois gols em 11 minutos e a expulsão de João Victor no fim do primeiro tempo deram a impressão de que uma goleada histórica viria. O placar em 3 a 0 para os alvinegros ficou barato.
O Vasco entrou completamente desligado em campo para enfrentar o líder do Brasileirão e o finalista da Libertadores. O primeiro gol do Botafogo saiu aos oito minutos, muito cedo, mas ele já parecia questão de tempo, uma vez que Luiz Henrique já infernizava a defesa vascaína, e Adryelson já havia acertado a trave em um cabeceio.
O time de Artur Jorge é conhecido pela verticalidade, velocidade e qualidade dos homens do ataque. O Botafogo tinha todo o espaço do mundo para passar pela primeira linha de marcação do Vasco, composta por Payet, Jean David, Vegetti e Puma Rodríguez. Espaçado, o time de Rafael Paiva foi superado com tranquilidade pelo Botafogo, e os gols saíram sem o rival fazer tanta força.
Depois de um chutão de Léo Jardim, com o time do Vasco postado, o time perdeu a primeira, a segunda e a terceira bola. Cocão e Paulo Henrique saltaram a linha defensiva, subiram a marcação e não mataram a jogada. Fatal. Marlon Freitas, Alex Telles, Almada, Savarino, Igor Jesus e Luiz Henrique em contra-ataque contra João Victor, Léo e Lucas Piton.
O camisa 10 do Botafogo, nas costas de Piton e livre de marcação, acertou um bonito chute para abrir o placar. O jogo reiniciou aos nove minutos e 20 segundos. Dois minutos e 10 segundos depois, mais um golaço do Botafogo, desta vez com Luiz Henrique.
No período de 130 segundos após o reinício da partida, o Vasco tocou na bola dez vezes. Cinco vezes até um lançamento de Léo para Vegetti, que terminou em posse do Botafogo. Duas vezes em um chutão de João Victor, que deu um chutão, e Payet perdeu a dividida para Gregore. E mais duas vezes até voltar para João Victor, que deu passe em Hugo Moura, e o volante entregou a bola a Savarino.
Os dois lances mostram o que foi a tônica do jogo. O Botafogo atropelava e antecipava todas as ações de um Vasco que pareceu ter entrado desligado e perdido em campo.
Com 2 a 0 no placar, o Vasco pareceu ter acordado por alguns minutos e poderia ter entrado de vez no jogo, mas parou em duas boas defesas de John — em chute de Vegetti, logo após o gol de Luiz Henrique, e em boa jogada de Paulo Henrique pela direita, aos 20.
Mas parou aí. Estes foram os últimos suspiros do Vasco na partida. Aos 30 minutos, Puma protagonizou um lance bizarro. O lateral uruguaio pisou na bola e entregou de presente a Igor Jesus, que perdeu a chance do terceiro.
Em poucos minutos, outros dois lances que traduzem a partida. Aos 37 minutos, Payet deu um passe errado e desconexo de calcanhar, entregando a bola para Igor Jesus, que foi parado por João Victor no meio de campo. O zagueiro recebeu amarelo. Menos de dois minutos depois, mais uma falta de João em Igor, e o árbitro expulsou o jogador do Vasco. Duas faltas bobas que prejudicaram qualquer esboço de reação.
O cenário era parecido com o do clássico contra o Flamengo no primeiro turno, que terminou em 6 a 1 para o adversário. Na ocasião, João Victor também foi expulso antes do intervalo, quando o Vasco perdia por 3 a 1. Rafael Paiva fez o que Álvaro Pacheco deveria ter feito: povoar mais o meio de campo e recuar o time.
Paiva sacou Payet e Jean David, que foram dois homens a menos na recomposição durante toda a partida, e entrou com Galdames, no intervalo, e Maicon, logo após a expulsão de João Victor. O Botafogo seguiu martelando, mas deu a impressão de tirar o pé com a vitória já encaminhada.
Com um a menos, o Vasco subiu a linha de marcação com cinco atletas, e todos foram driblados em uma triangulação com Marlon Freitas, Savarino e Almada. Os carrinhos sem sucesso de Hugo e Maicon finalizaram o lance. O gol de Júnior Santos fechou a derrota que poderia ter sido ainda maior, caso o Botafogo não tivesse rodado o time dando minutos a jogadores do banco de reservas.
Derrota serve de lição dentro e fora de campo
O Vasco está com a vida encaminhada no Brasileirão pela permanência e busca uma vaga na Pré-Libertadores de 2025. Após as vitórias contra Cuiabá e Bahia, o time pareceu ter entrado relaxado contra o Botafogo, mas um relaxamento que se transformou em desatenção, em vez de deixar a equipe mais leve.
O Botafogo atropelou o Vasco do início ao fim, e a realidade é de que o time escapou de mais uma goleada acachapante em clássicos em 2024. O trabalho de Rafael Paiva deu tranquilidade para a equipe sonhar com uma vaga em competição internacional no ano que vem, mas o time precisa recuperar o senso de urgência que teve em outros jogos.
O Vasco não pode se dar ao luxo de entrar desligado em um clássico.
A vitória também dá lições fora de campo. O Botafogo atacou o mercado com contratações certeiras em 2024, reformulando o time que perdeu o Brasileirão do ano passado no fim do campeonato. Com exceção de Luiz Henrique e Almada, transferências recordes, o clube atacou as carências com inteligência no mercado, investindo em um modelo de jogo definido, com jogadores que chegaram sem grandes custos, como Savarino, Gregore e Barboza, por exemplo.
O Vasco no início do ano, ainda sob o comando da 777, não atacou as carências do elenco que lutou para não cair em 2023, mesmo após as vendas de Pec e Marlon Gomes, e depois das lesões de Paulinho e Jair. No meio do ano, já na gestão de Pedrinho, o clube também não sanou as principais lacunas do elenco. Jean David, Maxime, Souza e Alex Teixeira até aqui não conquistaram seus espaços, e somente Coutinho e Emerson jogaram com mais frequência.
A derrota de 3 a 0, da maneira que foi, é simbólica para um Vasco que precisa corrigir muitas coisas para 2025. E o trabalho já começa agora. Até lá, resta a disputa das últimas seis rodadas do Brasileirão para o torcedor vascaíno sonhar com a volta a uma grande competição continental.