Alecsandro foi contratado pelo Vasco para vestir a camisa 9 e ser o responsável pelos gols do time. Correspondeu à altura e foi importante na conquista do título da Copa do Brasil, participando de oito jogos e marcando cinco vezes (média de 0,62), além de uma assistência. Em todas as fases ele marcou ou deu passe para um companheiro balançar a rede.
Se os cruz-maltinos estão satisfeitos com Alecsandro, a recíproca parece ser verdadeira. Três meses após a transferência, ele diz estar bem adaptado ao Rio de Janeiro e ao clube. Tanto que já pensa em ficar mais tempo do que prevê o seu contrato, de três anos.
- Estou morando em um apart-hotel, mas já estou colocando mobília em um apartamento de frente para a praia, porque eu gosto muito. Tinha pensado em ficar pouco tempo, até o término do meu contrato, mas o Rio acabou me conquistando. Já penso em ficar aqui por mais seis ou sete anos.
Aos 30 anos, o centroavante disse que os momentos felizes que viveu até agora no Vasco o fizeram querer construir uma história mais longa e se tornar um ídolo. Ele planeja se aposentar aos 39 e não quer mais ser um cigano no futebol. A meta é criar raízes na Colina.
- Em três meses, já vi mais de 100 mil torcedores juntos gritando o meu nome. Isso mexe. Em toda a minha carreira, o clube no qual fiquei mais tempo foi o Internacional. Foram dois anos e meio. O resto eram seis meses, um ano... Não mais que isso. Penso em jogar até os 39 anos. Romário jogou até os 40, né? Gosto de treinar e me cuido bastante. Se não ocorrer nada imponderável, como uma lesão grave, pretendo cumprir o meu objetivo.
E, para felicidade da torcida vascaína, tem mais careta vindo por aí. Depois de pensar em aposentar a comemoração de gols que faz em homenagem ao seu pai, Lela, que jogou no Coritiba, Alecsandro avisou que mudou sua decisão. Mas com moderação.
- Eu tinha falado que ia aposentar, mas mudei de ideia. Mas seguirá sendo uma surpresa, pode sair em oportunidades ou gols especiais. A torcida achou legal. Só não pode pedir para tirar foto assim (risos). A primeira vez que eu fiz a careta foi pelo Vitória, no dia do aniversário do meu pai. Depois, fiz no Cruzeiro também. A família toda fica feliz com esta comemoração, e os torcedores já pediram um boneco meu com a careta. Quem sabe o marketing não faz?
Confira a entrevista completa com o camisa 9:
GLOBOESPORTE.COM: Você costuma crescer em momentos decisivos. Foi assim no Inter e agora no Vasco, quando fez um gol em cada jogo da decisão da Copa do Brasil.
Alecsandro: Meu pai costumava me dizer que o jogador é lembrado e valorizado quando vai bem em jogos importantes. Todos lembram dos gols do Lela campeão brasileiro pelo Coritiba. Graças a Deus tenho ido bem na maioria dos jogos decisivos nos últimos anos.
Seus gols ajudaram o Vasco a quebrar um longo jejum. Havia presenciado uma comemoração destas em sua carreira?
Eu fiquei impressionado. No ano passado, antes de viajarmos para o Mundial de Clubes, mais de 25 mil torcedores do Internacional lotaram o Beira-Rio para nos apoiar. Passaram o vídeo da Libertadores. Foi muito legal. Mas a recepção dos vascaínos no aeroporto foi incrível. A gente sabia que teria muitos torcedores, mas não imaginava que fosse ser daquele jeito.
No fim das contas você entrou no clima e se jogou do alambrado de São Januário. Ganhou até algumas escoriações... O que passou pela cabeça naquele momento?
Eu estava cansado da maratona. Quando entrei no gramado, vi meus companheiros correndo que nem loucos e preferi ficar no alambrado mesmo. Foi quando eu resolvi escalar. Chegando lá em cima, vi que não tinha mais volta: ou pulava para a arquibancada ou pulava para o campo. A galera começou a gritar meu nome, eu fui me empolgando e resolvi pular. Foi uma loucura que veio no calor do momento. Acabou que eu me cortei na boca, na testa e fiquei com um dente mole. Mas valeu a pena. Foi algo que nunca tinha vivido. Minha mãe nem acreditou que era eu quando viu a foto. Vou pegar e fazer um quadro. Foi inesquecível a sensação de ficar no meio da bateria.
A torcida parece ter gostado da sua iniciativa de comemorar gols de forma criativa. Acha que está faltando mais irreverência aos jogadores brasileiros na hora de vibrar?
O gol é o ápice do futebol, o que move os torcedores. Em alguns campeonatos, como no Emirados Árabes, onde eu joguei, é proibido escalar goleiros estrangeiros, o que, na teoria, aumenta a quantidade de gols. Isto mostra o que todos querem ver. Alguns jogadores ficam sem saber como comemorar. Nos jogos fora de casa, temos 90% de torcedores do time da casa e 10% dos visitantes. Se você corre para comemorar o gol e bate de frente com a torcida adversária, é mal interpretado. Acho que se pendurar no alambrado deve ser proibido mesmo, mas o que tem de mais tirar a camisa? Agora não podemos ter nada por baixo com mensagem também que já dão o amarelo.
Alguma vez fez alguma comemoração deste tipo?
Uma vez eu levei dentro do calção uma chupeta para homenagear o meu filho. Agora, a Fifa diz que o jogador não pode levar para o campo qualquer objeto que não seja o material de jogo...
O título trouxe o orgulho vascaíno de volta aos torcedores. Como se sente sendo um dos responsáveis por isso?
Pois é. Quando cheguei aqui, quase não cruzava com vascaínos na rua. Ia ao shopping e não via camisas do Vasco. Hoje, isso mudou. São famílias inteiras uniformizadas, crianças que nunca antes haviam comemorado uma conquista. Isso é um prêmio para nós.