A Justiça do Rio de Janeiro manteve o resultado da eleição que apontou Jorge Salgado como presidente do Vasco. Em julgamento na tarde desta terça-feira, a 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça analisou recursos apresentados pelo clube, pelo mandatário eleito e por um grupo de sócios ligados ao candidato Leven Siano.
O julgamento desta tarde foi na segunda instância. Em todos os casos, a votação foi unânime para manter a validade do pleito que elegeu Salgado, ocorrido de forma híbrida (online e presencial) em 14 de novembro de 2020.
O desembargador relator do caso, Camilo Rulière, proferiu seu voto e foi acompanhado integralmente pelos colegas Fabio Dutra e Sergio Ricardo. Todos descartaram haver indícios de fraude. Em determinado momento, Camilo Ribeiro Ruliere criticou a postura de dirigentes vascaínos:
- É lamentável que o Vasco, em todos os pleitos, esteja passando por sucessivas demandas de grupos que querem obter a vitória na eleição. É democrático que muitas pessoas participem das eleições, mas é mais democrático ainda que, não havendo nenhuma irregularidade, se aceite a vitória do concorrente. (...) Isso interfere até no desempenho dos atletas profissionais. Essa eterna guerra, essa eterna disputa... é o único clube aqui do Rio de Janeiro, pelo meu conhecimento, que tem em todas as eleições essas desavenças. Acaba o pleito, é alegação para cá, alegação para lá. Esse problema tem de acabar. As pessoas têm de organizar. A Justiça resolve os conflitos de interesse, mas a Justiça não resolve outros conflitos que estão além do conflito puro e simples. É lamentável isso.
O que foi julgado nesta tarde?
1º agravo de instrumento solicitado pelo Vasco
Pedia que fosse confirmada a reforma da decisão do juiz Paulo Roberto Correa, da 7ª Vara Cível, que deu liminar em janeiro suspendendo a posse de Salgado por indícios de fraude na eleição do dia 14. O Vasco, na época, cassou a liminar, e Salgado tomou posse. Agravo aceito. Placar 3 a 0.
2º agravo de instrumento solicitado por Salgado
Assim como o primeiro, tinha o objetivo de confirmar a reforma da decisão do juiz Paulo Roberto Correa, da 7ª Vara Cível, que deu liminar em janeiro suspendendo a posse de Salgado por indícios de fraude na eleição do dia 14. O Vasco, na época, cassou a liminar, e Salgado tomou posse. Agravo aceito. Placar 3 a 0.
Neste caso, ainda havia um agravo interno solicitado por Eloi de Souza Ferreira e outros sócios, conhecidos como Templários, ligados a Leven, que pedia a reforma da decisão da desembargadora Mônica de Faria Sardas, que foi quem cassou a liminar concedida pelo juiz Paulo Roberto Correa. Negado. Placar 3 a 0.
3º agravo de instrumento solicitado por Eloi e outros
Pedia a reforma da decisão da desembargadora Mônica de Faria Sardas, que concedeu efeito suspensivo para permitir a posse de conselheiros e de Salgado no Vasco em janeiro. Na época, ela derrubou a liminar dada pelo juiz Paulo Roberto Correa. Agravo negado. Placar 3 a 0.
Leven e seus apoiadores entendem que a eleição válida foi a realizada em 7 de novembro, de forma presencial em São Januário. Algo que posteriormente foi anulado pela Justiça. Em uma rede social, o candidato comentou:
- Não há motivos para tristeza quando se sabe o caminho. As sementes estão plantadas, façam delas grandes árvores.
Um outro agravo, de Salgado, que pedia o julgamento da suspeição do juiz Paulo Roberto Correa, que no passado teve relação com o ex-presidente Eurico Miranda, não foi analisado. Documentos ainda estavam sendo digitalizados e advogados entraram com petições na proximidade do julgamento desta tarde.
Entenda a polêmica na eleição do Vasco
Na noite de 6 de novembro, o desembargador Camilo Rulière determinou que a eleição do Vasco acontecesse de forma presencial no dia seguinte, sábado (7/11). O pleito teve início às 9h55 e tinha previsão de terminar às 22h. Porém, no começo da noite, uma decisão do presidente do STJ, Humberto Martins, mandou suspender a votação.
Mesmo com a decisão do STJ, a mesa diretora da Assembleia Geral decidiu prosseguir o pleito, com apenas dois candidatos: Leven Siano e Sérgio Frias. Os outros três - Alexandre Campello, Jorge Salgado e Julio Brant - deixaram o clube, argumentando que não iriam desobedecer a uma ordem judicial.
Pouco depois das 22h, quando ainda havia sócios na fila para votar, as luzes de São Januário foram apagadas e a votação encerrada. As urnas, em um primeiro momento, foram lacradas. Porém, a mesa diretora da Assembleia Geral não achou lugar para deixá-las e resolveu fazer a contagem às 2h. Leven Siano foi o mais votado.
Na visão do presidente da Assembleia Geral do Vasco, Faués Cherene Jassus, o Mussa, a decisão do STJ que suspendeu a votação também deixou valendo a ação que marcava a eleição para o dia 14.
Uma semana depois, no dia 14, ocorreu a eleição online com a participação de apenas dois candidatos: Jorge Salgado (Mais Vasco) e Julio Brant (Sempre Vasco). Alexandre Campello (Rumo Certo) retirou a candidatura, Sérgio Frias (Aqui é Vasco) reconheceu a vitória da chapa Somamos, e Leven Siano entendeu ter sido eleito no dia 7.
Na disputa entre Salgado e Brant, o candidato da Mais Vasco foi o mais votado. No entanto, minutos após o resultado ser anunciado na sede do Calabouço, o STJ devolveu a questão para o TJ-RJ. Dias depois, o desembargador Camilo Rulière marcou o julgamento para o dia 17 de dezembro, quando a Justiça entendeu que Jorge Salgado era o vencedor da eleição. Desde então o grupo de Leven Siano vem recorrendo da decisão.
Antes do julgamento do dia 17 de dezembro, Leven Siano convidou Jorge Salgado a aceitar a decisão tomada pelo TJ-RJ, qualquer que fosse ela. O candidato da Mais Vasco, no entanto, não concordou, pediu para o adversário retirar todas as ações judiciais e sugeriu a realização de uma nova eleição. Leven não topou, e o impasse seguiu até a decisão.