A iniciativa de apresentar aos clubes como será o calendário do futebol brasileiro até foi inédita por parte da CBF. Mas isso não representa que o mundo ideal foi transportado para o papel. Sobretudo em um ano com Copa do Mundo em novembro, fugindo ao padrão histórico da competição.
Mas não dá para alegar que tudo é novidade. O cenário tem elementos incômodos já conhecidos, como conflitos de datas de torneios nacionais com os compromissos das seleções, um ritmo alucinante entre as partidas e um período reduzido de pré-temporada —para quem disputar a final da Copa do Brasil, dez dias. Os estaduais, inclusive, já começam em 26 de janeiro, durante uma data Fifa. Para o diretor de competições da CBF, Manoel Flores, o que está no papel é o "calendário possível, dentro de um quadro complexo".
Na reunião de ontem (4), o Flamengo chegou a levar a demanda de que os estaduais começassem em 15 de janeiro. Isso evitaria conflito do Brasileirão com três datas Fifa em junho ou setembro. Como a CBF, pela conversa que teve com as federações, só trouxe até o dia 26, o desenho é que há dor de cabeça em cinco das oito datas inicialmente afetadas.
Pela conversa de Manoel Flores com o UOL Esporte, o desenho de 2022 traz a perspectiva de um 2023 peculiar, já que as férias dos atletas que não forem à Copa do Mundo começam em 14 de novembro. Em tese, uma temporada com muito menos aperto. Mas a CBF sabe que, se nada mudar, o calendário será, a partir de 2024, "o possível, dentro de um quadro complexo". De novo.
Calendário 2022
Estaduais: de 26 de janeiro a 3 de abril
Copa do Brasil: de 23 de fevereiro a 19 de outubro
Série A: de 10 de abril a 13 de novembro
Série B: de 9 de abril a 5 de novembro
Supercopa do Brasil: 20 de fevereiro
Libertadores: de 23 de fevereiro a 29 de outubro
Sul-Americana: de 6 de abril a 1 de outubro
Recopa Sul-Americana: 9 e 16 de março
Mundial de Clubes 2021: a confirmar (pela Fifa)
Por que a CBF decidiu apresentar aos clubes o calendário antes de publicá-lo?
Foi uma iniciativa importante para a gente apresentar o calendário de 2022, que é um ano, como foi 2020 e 2021, completamente fora da curva. Em 2020, sofremos muito pela paralisação do futebol, de todas as atividades do país. Sofremos para poder equacionar e entregar as competições. O calendário de 2022 é um grande desafio porque tem questões diferentes. Uma é a Copa do Mundo no fim do ano. As seleções precisam apresentar seus atletas no dia 14 de novembro, o que fez a gente antecipar o Brasileirão em cerca de um mês. A outra questão é a data Fifa, que não será usual: entre 30 de maio e 14 de junho, o que é algo diferente. Foi uma maneira de explicar e colocar todos aqueles impactados pelo calendário em uma apresentação para explicarmos o que virá.
Como foi a reação de quem se deparou com o cenário?
A reação foi positiva. Óbvio que o calendário é uma representação de uma média geral do que se vê no país, que é tão diverso. Tem federações grandes e pequenas, clubes grandes, médios e pequenos. Cada um com seu interesse, objetivo em cada temporada. Quando você reúne esses players, cada um enxerga o calendário com sua ótica. Mas a gente ficou satisfeito de explicar antes de fazer a publicação.
O Flamengo, por exemplo, reclamou...
Não vamos falar de clube individual. A gente teve diversas manifestações. Deixamos todos à vontade de falar e expor sua opinião. A gente entende as demandas. Mas o que ficou claro é que é o calendário possível, dentro de um quadro complexo. É o que vamos viver em 2022 e que não é diferente de 2021 e 2020.
Por que não antecipar mais o início dos estaduais para desafogar o calendário durante o Brasileirão e evitar desfalques no torneio mais importante?
O que a gente ressaltou na reunião foi que a gente vai conseguir ter um alívio em três rodadas, dentro das oito impactadas pelas datas Fifa de junho e setembro. São os dois períodos sobrepostos ao Brasileiro. Serão impactadas cinco e não oito. É o que foi possível, dentro do quadro complexo. É importante frisar que calendário é um reflexo do compromisso contratual dos clubes, das federações ao longo do ano. O desafio da CBF é refletir no pedaço de papel uma série de premissas contratuais, legais, respeito às férias, pré-temporada mínima, com novidades fora da curva, que haverá em 2022.
O que se tem em mente para 2023, já que 2022 terminará tão cedo?
Ainda vamos estruturar 2023. A boa notícia, se é que podemos chamar assim, é que vamos ter uma margem de manobra maior. A gente espera ter o calendário de 2023 mais espaçado, mais tranquilo.
Que lições a CBF tira em relação à condução do calendário de 2021? Teve muito adiamento, remarcação, discussão sobre datas...
O ano de 2021 foi completamente atípico. Ano atípico requer medidas não usuais. A gente trabalhou dentro do possível para poder equilibrar, atender, entendendo clubes quando precisavam, todos os atores. A gente não espera ter um ano semelhante tão cedo. O que a gente leva para 2022 é que a gente vai ser rígido com o que a gente publica em calendário. O que for possível estará exposto na publicação. A gente espera ter uma temporada que eu não diria tranquila, porque é apertada, mas uma temporada mais linear, com menor número de asterisco possível. Mas a temporada começou em março, com muitas variáveis.
Olhando o calendário, a gente enxerga os gargalos de sempre. Você imagina alguma solução a médio ou longo prazo? Qual seria, até para atender as demandas técnicas e de produto?
É uma busca incessante. A gente tem feito um trabalho ao longo dos anos olhando exatamente isso. Mas tendo que trabalhar com as dificuldades que aparecem ao longo do caminho. Estaduais já tiveram mais de 20 datas. Houve um processo de redução. Estamos em 16. Trabalhamos com readequação das competições continentais em 2016, que foram esticadas para o ano todo. Houve ajuste na Sul-Americana ano passado. Houve correção de distorções na Copa do Brasil, que não tinha times da Libertadores. A gente busca melhoria do calendário em termos de espaçamento, mas corrige distorções técnicas importantes. Tudo isso é consertar o calendário com o andar da carruagem.
Já imaginando 2023, qual seria o primeiro item a ser atacado?
A gente precisa chegar em 2023 para ver. Precisamos ultrapassar 2022, que é desafiador. A primeira etapa é resolver 2022.
Há demanda para reduzir estaduais?
Os estaduais estão indo para o terceiro ano com 16 datas. São compromissos contratuais. Qualquer discussão de ajuste em data tem questão contratual a se respeitar, que os clubes assinam.