O reflexo negativo do conturbado cenário político e da péssima fase no futebol, que culminou no rebaixamento para a Série B, se estendeu para o projeto "Vasco Dívida Zero", que arrecada contribuições voluntárias para aliviar o multimilionário débito do clube com a Receita Federal. As ideias e esforços dos torcedores que tocam a iniciativa resistem, mas os depósitos, nem tanto. Nesta sexta-feira, o movimentou bateu a marca de R$ 800 mil, mas deve ficar longe da meta de R$ 1 milhão na virada do ano e tem recebido depósitos cada vez menos regulares.
Houve mês em que o movimento embalou, recebeu aportes altos e passou de R$ 200 mil. Recentemente, porém, a média tem sido de R$ 30 mil. O desânimo está diretamente ligado com a falta de credibilidade da diretoria, apontam os organizadores. E, atrelado a isso, com o fato de que ainda há cruz-maltinos achando que a campanha foi criada pelo clube. A veia independente, no entanto, sempre norteou o grupo, que criou raízes em diversos estados do país.
- Infelizmente, tudo isso tem impactado na motivação de quem ajuda. Há um descrédito muito grande por causa do panorama atual. Estamos, inclusive, esperando uma definição política para saber se haverá mais apoio, se contaremos com um trabalho de marketing ativo para tentar dar impulsão à nova campanha. Precisamos acalmar a vida do clube. Não temos patrocínio de empresa, financeiro, então dependemos de rede social e temos dificuldades. Mas os pagamentos continuam. Não vamos desistir - explicou Guilherme Santos.
O administrador carioca é um dos responsáveis pela negociação com a Receita sobre novas estratégias de produção para a arrecadação. Ele revelou que haverá uma reunião com a procuradoria do órgão na segunda quinzena de janeiro para tentar repassar as receitas para o Refis (Programa de Recuperação Fiscal do Governo) e para a Timemania. Só que isso depende de informações do Vasco que, segundo Guilherme, foram prometidas a várias semanas.
- Nos deram total apoio na Receita, elogiaram a iniciativa, mas às vezes falta ação efetiva do Vasco. E difícil, temos que rebater quem cita errado. É um projeto de torcedores, mas todos têm que entender precisamos da instituição mesmo que para chegar oficialmente aos vascaínos.
Opositores internos se afastam
Durante a reta final do Brasileirão, o nome "Vasco Dívida Zero" estampou a camisa em dois jogos da equipe. Além disso, faixas foram espalhadas pelos estádios, oferecendo visibilidade. Jogadores vestiram o uniforme da campanha, posaram para fotos e gravaram vídeos. É frequente ouvir os dirigentes enaltecendo a iniciativa e reforçando o pedido de ajuda, já que o caminho é longo. A dívida ativa do clube neste setor é de mais de R$ 90 milhões, e oito das centenas de débitos já foram eliminados pelo projeto.
Como também se trata de vascaínos apaixonados, o sentimento de cada um é testado a cada golpe duro em meio à crise. Houve casos em que a oposição extrema a Dinamite afastou até alguns cabeças.
- Um dos pilares da campanha é o apartidarismo. Não o apolitismo. Quando se posiciona, acaba se envolvendo indiretamente. Mas ninguém faz campanha contra ou a favor de oposição. De um modo geral, tentamos não misturar as coisas. Dizer que ninguém ficou muito chateado com as notícias, é inverdade. Mas quem se aborrece, quer se manifestar mais abertamente contra a administração, se afasta alguns dias e depois pode voltar a ajudar - disse Guilherme.