A pandemia de coronavírus levou a um buraco nas contas dos clubes e a um aumento de seus débitos em 2020. A dívida líquida dos 15 principais times brasileiros atingiu praticamente R$ 10 bilhões. Neste cenário, Palmeiras e Flamengo aumentaram o abismo de sua vantagem financeira em relação aos demais, apesar de também terem fechado o ano no vermelho. Essas constatações são fruto de uma análise de 15 balanços financeiros de clubes: Athletico, Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Red Bull Bragantino, Santos, São Paulo e Vasco. Foram levantados os principais itens para avaliação, Superávit/déficit, Receita bruta, dívida líquida e o seu aumento.
O débito líquido dessas agremiações (passivo total menos o dinheiro que tem a receber) atingiu R$ 9,8 bilhões. Para isso, houve um aumento em torno de 20% neste débito líquido (R$ 1,6 bilhão) apenas no ano de 2020. Isso porque apenas três clubes fecharam de fato com superávit no ano: Athletico, Grêmio e Red Bull Bragantino. O Atlético-MG também registrou um superávit, mas o valor foi meramente contábil já que o clube considerou a valorização de patrimônio. Na prática, a agremiação também gastou mais do que arrecadou. É preciso fazer uma ressalva sobre as contas vermelhas dos clubes. Boa parte da receita de televisão e de premiações da temporada foi transferida para o início de 2021 quando acabou o Brasileiro - são valores de direitos de transmissão como pay-per-view. Portanto, em poucos casos, as contas poderiam estar no azul se todos os valores fossem recebidos no ano passado. Mas é fato que houve impacto significativo na receita dos clubes em bilheteria e sócio-torcedor. Tanto que a soma das receitas dos 15 clubes foi de R$ 4,7 bilhões, menos da metade da dívida líquida. Ou seja, se fossem uma empresa só, as agremiações precisariam de dois anos de renda para quitar seus débitos. É uma relação ruim para avaliar o quão saudável estão as finanças. Individualmente, no entanto, as situações são bem diferentes. Citados no título deste texto, Palmeiras e Flamengo tiveram déficits, mas têm suas dívidas líquidas abaixo de suas receitas. Mais, são claramente débitos controlados dentro do caixa disponível dos clubes para pagar. É o caso também dos três clubes que fecharam com superávit, Red Bull, Grêmio e Athletico.
Por que então há um abismo em favor de alviverdes e rubro-negros nas finanças? Por que só os dois clubes tiveram receitas acima de R$ 500 milhões mesmo na pandemia. O Flamengo continua como o mais rico com R$ 669 milhões, e o Palmeiras teve R$ 559 milhões. O Grêmio, que teve um desempenho financeiro melhor analisando todos os índices, fica um pouco atrás com R$ 489 milhões. Já o Athletico teve o maior superávit: R$ 134 milhões.
E o restante dos clubes? Todos devem mais de um ano de suas receitas. Ou seja, da lista de 15 clubes, dez têm débitos em volumes que comprometem sua capacidade de gerar caixa e pagar: Vasco, Fluminense, Botafogo, Internacional, Cruzeiro, Atlético-MG, Corinthians, Santos, São Paulo e Bahia
Dentre eles, o Galo tem a maior dívida líquida com R$ 1,2 bilhão. Sua receita real foi de R$ 418 milhões (excluídas as valorizações de patrimônio). Mesmo assim, só foi obtida graças à venda de parte do shopping Diamond Mall. O clube tem também o maior passivo a curto prazo, R$ 615 milhões, a ser pago em um ano.
Outros que vivem situações similares, receita baixa e dívida próxima de R$ 1 bilhão, Botafogo, Vasco e Cruzeiro. Apesar da receita mais alta, o Corinthians também tem a dificuldade de ter pendências de R$ 500 milhões a serem vencidas em um ano.
Veja abaixo os dados:
Dívidas líquidas (+ aumento ou - queda do débito)
Atlético-MG - R$ 1,2 bilhão — ( +R$ 462 milhões)
Cruzeiro - R$ 963 milhões — ( +R$ 164 milhões)
Corinthians - R$ 949 milhões* — ( +R$ 166 milhões)
Botafogo - R$ 946 milhões — ( +R$ 120 milhões)
Internacional - R$ 883 milhões** — ( +R$ 88 milhões)
Vasco - R$ 831 milhões — ( +R$ 191 milhões)
Flamengo - R$ 681 milhões — ( +R$ 172 milhões)
Fluminense - R$ 649 milhões — ( +R$ 7 milhões)
São Paulo - R$ 575 milhões — ( +R$ 72 milhões)
Palmeiras - R$ 565 milhões - ( +R$ 64 milhões)
Santos - R$ 544 milhões - ( +R$ 103 milhões)
Grêmio - R$ 396 milhões ( -R$ 14 milhões)
Bahia - R$ 268 milhões ( +R$ 44 milhões)
Athletico-PR - R$ 200 milhões ( -R$ 78 milhões)
Red Bull Bragantino - R$ 144 milhões ( +R$ 39 milhões)
* Não está incluído neste valor a dívida da Arena Corinthians que é de mais de R$ 500 milhões só com o BNDES ** Valor inclui acordo do Inter com a Brio (Andrade Gutierrez pelo estádio) que não precisa ser pago, ou seja, não é uma dívida de fato. Sem o contrato do estádio, a dívida líquida do Inter é R$ 597 milhões
Receitas brutas
1- Flamengo - R$ 669 milhões
2- Palmeiras - R$ 558 milhões
3- Grêmio - R$ 489 milhões
4- Corinthians - R$ 469 milhões
5- Atlético-MG* - R$ 418 milhões
6- São Paulo - R$ 358 milhões
7- Athletico - R$ 328 milhões
8 - Internacional - R$ 281 milhões
9- Santos - R$ 240 milhões
10- Vasco - R$ 192 milhões
11- Fluminense - R$ 182 milhões
12 - Botafogo - R$ 166 milhões
13- Red Bull Bragantino - R$ 145 milhões
14- Bahia - R$ 131 milhões
15- Cruzeiro - R$ 123 milhões
* Foi excluída a receita com valorização com patrimônio que é meramente contábil. Incluída a venda do shopping.
Superávit (+)/déficit (-)
1- Athletico - + R$ 134 milhões
2- Grêmio - + R$ 38 milhões
3- Atlético-MG* - + R$ 19 milhões
4- Red Bull Bragantino - + R$ 13 milhões
5- Fluminense - (-R$ 3 milhões)
6- Bahia - (-R$ 51 milhões)
7- Vasco - (-R$ 64 milhões)
8- Internacional - (-R$ 92 milhões)
9- Flamengo - (-R$ 107 milhões)
10- Santos - (-R$ 120 milhões)
11- Corinthians - (-R$ 123 milhões)
12 - São Paulo (-R$ 129 milhões)
13- Botafogo (-R$ 139 milhões)
14- Palmeiras - (-R$ 151 milhões)
15 - Cruzeiro - (-R$ 227 milhões)
* Superávit meramente contábil por causa de avaliação com valorização patrimonial. Na realidade, o clube teve déficit operacional