Cercado de desconfiança quando foi contratado em dezembro, Doriva foi um dos desfalques do título carioca do Vasco. Aos 42 anos, o ex-volante com passagem pela seleção provocou uma pequena revolução em um time desacreditado e agora enfrenta o desafio da Série A. No ano passado, foram apenas oito jogos e uma demissão. Agora, ele espera melhor sorte, e sem interferência.
O que significa para você o slogan “O respeito voltou”?
É a (volta da) credibilidade. Como o Vasco estava há muito tempo sem ganhar títulos e por ter sido rebaixado, acredito que, quando o presidente se refere a “O respeito voltou" é porque esta marca é muito grande. Que a imprensa e os torcedores adversários respeitem o Vasco por ser um clube tradicional, pelas glórias que teve e pela grandeza que tem.
O slogan dá uma ideia de ruptura, mas Martín Silva, Luan, Rodrigo e Guiñazú estão entre os principais jogadores da campanha e estavam no clube. Havia algo a ser aproveitado?
Sim, principalmente o matéria humano. Eles já estavam aqui, o que nos deixa mais forte. São atletas com peso importante e, sem dúvida nenhuma, a nossa escolha de mantê-los foi por que acreditavam que eram jogadores de nível alto que poderiam agregar ao nosso trabalho.
Todos esses jogadores são do sistema defensivo, que foi destaque no Carioca. Um time se monta pela defesa?
Uma equipe tem que ser sólida. Se você tem um sistema defensivo bom, e eu acho que nós temos, que defende bem por baixo e por cima e que tem estrutura boa, fica mais fácil de começar a montar a equipe. O goleiro é o principal, tem que transmitir confiança, e o Martín (Silva) transmite. Ali atrás, temos uma defesa equilibrada, com mescla de juventude (Luan) e experiência (Rodrigo) e laterais que tanto sabem defender como atacar. Logicamente, o meio-campo compõe o sistema defensivo e tem parcela muito importante. A defesa e o meio-campo são fortes quando a marcação começa no ataque.
Você já tinha convicção deste time desde a pré-temporada?
Foi gradativo. Ao meu ver, ganhamos a estabilidade no primeiro momento em que o Julio (dos Santos) entrou na equipe. Ele estava entrando bem nos jogos, às vezes no meio, às vezes como volante. A partir do jogo em que iniciou e fez os 90 minutos (vitória sobre o Fluminense por 1 a 0), a equipe ganhou muito. O setor (direito) ficou muito forte, com alternância de posições. O Serginho já jogou na lateral, o Madson se adianta e o Julio volta para buscar a bola atrás e fazer o jogo dele de frente. Com a bola dominada no pé, ele faz o jogo sair rápido e com qualidade.
O time titular estava há muito tempo definido, mas havia uma dúvida na posição de Marcinho, Bernardo, Jhon Cley e Rafael Silva, justamente a que definiu o título.
É verdade. Foi a posição em que eu mais alternei e foi a que fez a diferença. Naquele jogo contra o Fluminense, foi justamente o Rafael (Silva) que tinha jogado, mas ele oscilou e, por conta disso, saiu. Ele teve essa noção de que precisava melhorar. A partir do momento que eu vi a melhora, disse “vou te botar na frente da fila". Ele retornou contra o Flamengo (na semifinal), entrou no segundo tempo muito bem e deu resposta de que poderia ser titular de novo.
Atualmente, o grupo do Vasco tem mais de 40 jogadores. Não é exagero?
É preciso ter um elenco grande. O campeonato é longo, desgastante, tem cartões e lesões, mas, realmente, temos tido reuniões para repensar isso. Tem atletas que não temos utilizado tanto. Podemos cedê-los para que joguem, peguem experiência, amadureçam e evoluam. O atleta evolui quando está jogando, nem que seja em um clube de menor expressão.
Há espaço para reforços?
Temos feito contratações pontuais quando sentimos carência. Há lesões, cartões, oscilação de rendimento. Temos que ter opções para mudar o jogo, para jogar de acordo com adversário. Temos que ter na mão um elenco grande e diversificado.
Como você posiciona o Vasco hoje entre os 20 times da Série A?
Acredito que lá pelo oitavo. Tem muitos clubes (na frente), os cinco que estão na Libertadores e outros com elencos grandes e jogadores tarimbados. Pelo menos entre os dez (melhores) nós estamos.
Isso dá uma ideia daquilo que o Vasco busca na competição?
Depende da sequência na competição. Nossa ideia é começa bem e manter sempre entre os 10, é claro que mais próximo dos cinco primeiros. Se vamos conseguir, vai ser a competição que pode nos dar este parâmetro.
O presidente do Atlético-PR, Mário Celso Petraglia, é um dirigente tão polêmico quanto Eurico Miranda. Você sofre interferência no Vasco?
Não, é totalmente diferente. Não tenho nada contra o Petraglia, que me deu uma oportunidade em uma equipe de ponta, mas, infelizmente, não deu certo por uma série de circunstâncias. Ele é o mandatário, mas no trabalho do dia a dia houve muito interferência e acabou não dando certo. Os dois (presidentes) são totalmente diferentes.
Ano passado, no Atlético-PR, você trabalhou na Série A em só oito jogos. Isso passa pela sua cabeça agora?
Meus números (no Atlético-PR) não eram ruins, foram oito jogos, três vitórias, dois empates e três derrotas. (A demissão) foi mais por relacionamento, situações de interferência. É um clube difícil de trabalhar, todo mundo sabe. Comigo não foi diferente.
Você costuma falar da competitividade do mercado de treinadores. Fala sobre o Brasil ou pensa na Europa?
Quando cito esta dificuldade, é a realidade. Hoje em dia, se troca muito rápido. Se não tiver resultado, sua credibilidade acaba assim (estala os dedos). Todos os profissionais, sem exceção, sonham em dar o passo rumo a Europa. Se eu conseguir, será fantástico. Eu tive esta experiência como atleta, jogando nos principais centros, o que hoje agrega valor ao meu trabalho. Vivenciar isso como treinador seria muito bom.