Os técnicos dos times do Rio ficam de olho no campo e bola, mas ampliam os horizontes, observam as categorias de base como solução para a crise financeira que gera investimentos cada vez mais contidos, exaltam a importância do Campeonato Carioca, analisam quais são as causas para um cenário escasso de craques e dinheiro e apostam numa temporada de sucesso, apesar de contratempos e dificuldades.
O GloboEsporte.com formulou seis perguntas abordando diferentes temas para os técnicos Vanderlei Luxemburgo (Flamengo), Doriva (Vasco), Renê Simões (Botafogo) e Cristóvão Borges (Fluminense). À exceção de Luxemburgo - que não quis participar dos questionamentos para os treinadores com as mesmas perguntas -, os três comandantes analisaram o momento atual do futebol carioca e apostam em uma temporada de sucesso.
RENÊ SIMÕES
GloboEsporte.com:Como observa o atual cenário dos clubes do Rio diante da falta de dinheiro para grandes investimentos?
Não podemos avaliar como fruto apenas desse momento. Isso é resultado do passado. Acho que ficamos muito confortáveis, naquela de antiga capital federal, quando o dinheiro circulava por aqui. Depois ficamos naquela que o Campeonato Carioca é o mais charmoso, com os clubes mais famosos. Os clubes dormiram nessa situação. Agora, podemos ver Santa Catarina com quatro clubes na Série A, e o Rio de Janeiro com apenas três. Os clubes do Rio começam a ter uma retomada do que é uma administração esportiva. Fazendo isso, com o apelo que o Rio de Janeiro tem e a tradição do futebol carioca, os clubes voltarão muito em breve a ser fortes como eram.
Olhar para a base pode ser uma das soluções diante do quadro atual?
A base é a solução. A Fifa acabou com o dinheiro de investidores. É hora de fazer um trabalho muito forte na base para que ela forneça os jogadores que os clubes precisam.
Faltam craques no futebol do Rio?
O futebol mudou, é diferente. Os campos eram imensos, a velocidade era menor. A forma de jogar mudou. Acho que temos excelentes jogadores no Rio. Mas acho que a forma do futebol brasileiro fazer as coisas tem que ser repensada. Esse é o problema maior.
Qual o peso do Carioca? Vai ser diferente esse ano, já que ninguém joga Libertadores?
Acho que será um campeonato muito disputado. Você vê o Fluminense segurando seus principais jogadores, o Flamengo se estruturando com o Vanderlei, o Vasco com o Doriva, que é um treinador jovem, mas muito bom. Basta ver o trabalho que ele fez no Ituano no ano passado. O Botafogo está se reformulando e fazendo um trabalho diferenciando. Ainda temos os clubes menores que sempre entram com força na Taça Guanabara. Será um campeonato muito interessante, até porque tivemos um período de preparação que nunca tivemos. Antes, tínhamos que jogar com oito dias de treino. Agora foram 21, o que já é algo diferente.
Qual discurso usar para fazer com que o torcedor compareça ao estádio no Campeonato Carioca, que teve baixos públicos no ano passado?
Precisamos de bons jogos para fazer o torcedor se interessar pelo Campeonato Carioca. E o Botafogo está muito interessado. Pode ter certeza disso. O Botafogo não entra para fazer laboratório e dar desculpas. O Botafogo entra querendo ganhar o Carioca. E depois tem a obrigação de ganhar a Série B. Essa é obrigação.
O que esperar do clube ao longo da temporada?
Um time bastante aguerrido, muito trabalhador e inteligente.
CRISTÓVÃO BORGES
GloboEsporte.com: Como observa o atual cenário dos clubes do Rio diante da falta de dinheiro para grandes investimentos?
Isso é uma dificuldade na organização do crescimento de todos os clubes. E vejo um outro lado. Diante dessa dificuldade, também vai estimular a criatividade e com isso tem que se buscar saída. Esse estímulo vai fazer com que se busquem alternativas. O desejo de todos é se organizar, se estruturar, para ter um crescimento e solidez na temporada.
Olhar para a base pode ser uma das soluções diante do quadro atual?
A base sempre é solução. O problema é que todo mundo quer jogar tudo sobre a base. Aí as dificuldades existem em todos os setores e na base. Independentemente do lugar, na base ou no profissional, o importante é se estruturar, ter bons profissionais, estrutura de trabalho. Talento todo mundo descobre, tem que ter lugar para lapidar esses talentos. Aí, sim, a base passa a ser solução. Agora, hoje, na dificuldade que existe em todos os setores, falta de dinheiro, trabalha-se numa deficiência grande. Desse jeito a base não vai ser solução.
Faltam craques no futebol do Rio?
Esse tipo de conversa volta para o mesmo lugar. São outros tempos. Surgiam mais (jogadores). O futebol era de outra forma. Hoje, exige muito mais. Você pode ter um talento, mas se não for trabalhado vai ser perdido. E não só no campo. Estrutura, informação, cuidar, educar. Futebol não exige que só jogue bem. Tem que entender da vida, das responsabilidades, que são muitas. Para isso, tem que ter boa educação. A partir disso vão surgir outros craques. Antes muitos surgiam, era outra exigência. Tinha muito de qualidade natural e instinto. Hoje, a evolução técnica, tática, física e econômica é outra. Tem que estar preparado para isso.
Qual o peso do Carioca? Vai ser diferente esse ano, já que ninguém joga Libertadores?
O peso é muito grande. Quando se fala, se fala muito que em temporadas passadas o campeonato seria laboratório. Tudo mentira. Nada disso. É valendo. Se não ganha, o trabalho pode ser interrompido. Tem que se ganhar. Vejo e acredito num campeonato muito bem jogado e muito disputado. Por causa das situações de cada clube. Está todo mundo querendo passar pela transição, dificuldade econômica. Todos com menos investimento e mais aposta. Todos querendo dar certo. A vontade de ganhar já existe, mas vai ser aumentada pela necessidade de dar certo. É muito grande a necessidade, todos querem mostrar que acharam o caminho. A aposta é alta.
Qual discurso usar para fazer com que o torcedor compareça ao estádio no Campeonato Carioca, que teve baixos públicos no ano passado?
Nós estivemos num país (Estados Unidos, onde o time fez a pré-temporada) onde o conhecimento dele e a aplicação para grandes espetáculos é grande, obtém sucesso. Eles têm uma liga de futebol que daqui a cinco anos vai disputar com as melhores do mundo. Sabem fazer. Têm organização, interesse, sabem o valor de mercado e investem nisso. Falta para nós isso. Temos grandes jogadores, mas não cuidamos bem. Não temos campos bons, organização não é boa. Tudo no futebol é mais político. A gente quer quem gosta de futebol, mas tem que ser profissional. Quando a política entra, se sobrepõe, não dá certo. Tem que amar o futebol, mas tem que ser preparado. Futebol é maravilhoso para se vender e gerar muito dinheiro, mas tem que ser bem tratado. Precisa de quem? Do torcedor. O torcedor é bem tratado? Não, não é. Não conseguimos nem vender ingressos. Temos todos que melhorar. Se fizer bem, o produto vale. Quando o produto vale, todo mundo paga alto.
O que esperar do clube ao longo da temporada?
Estamos muitos entusiasmados, motivados, até pelo que falei em relação aos clubes do Rio. Vamos viver uma vida diferente, uma outra realidade, com dificuldades. O Fluminense está com essa transição de administração, todo mundo trabalhando muito para que isso aconteça da melhor forma, que dê certo, para que a gente possa estar trilhando o caminho correto. Estou contente por participar disso. A vontade e o trabalho estimulam nessa direção. Acredito que vai dar certo. O torcedor pode esperar um time que vai brigar pelo título. O Carioca não é preparo, não. Vamos brigar. Queremos começar a temporada sendo campeões. É difícil, com todo respeito aos demais. Vejo nesse campeonato uma importância maior para os clubes, para todos nós, especificamente o Fluminense, por tudo que está acontecendo no clube.
DORIVA
GloboEsporte.com: Como observa o atual cenário dos clubes do Rio diante da falta de dinheiro para grandes investimentos?
O futebol brasileiro está passando por um momento delicado. Muitos clubes têm inflacionado o mercado, pagado altos salários e muitas vezes não têm condição de arcar com esse orçamento. Os clubes precisam repensar as suas políticas justamente para terem os pés no chão. Precisam trabalhar mais dentro da realidade, sem fazer grandes loucuras. Para que o clube tenha uma política mais sólida.
Olhar para a base pode ser uma das soluções diante do quadro atual?
Com certeza. A base é sempre uma solução. No caso do Vasco, é um clube que sempre revelou grandes talentos e vamos ter os olhos bem atentos para os nossos jovens. Logicamente com a prudência necessária. Não podemos queimar as etapas necessárias no amadurecimento desses atletas. Vamos ter o cuidado para utilizar esses talentos no momento certo.
Faltam craques no futebol do Rio?
Não só no Rio, mas outros estados também passam por dificuldades. É muito injusta essa competição com o futebol europeu e asiático, que pagam salários absurdos. Precisamos nos manter dentro da realidade do nosso futebol.
Qual o peso do Carioca? Vai ser diferente esse ano, já que ninguém joga Libertadores?
Todo estadual tem o seu peso e valor. É um torneio de tradição, de rivalidade local. No Rio não é diferente. É a minha primeira experiência no estado e vim para vencer. Quero vencer. Vamos concorrer com grandes clubes, mas a ideia é vencer. Sei o peso de um estadual. É importante até para entrar forte e motivado no segundo semestre.
Qual discurso usar para fazer com que o torcedor compareça ao estádio no Campeonato Carioca, que teve baixos públicos no ano passado?
Precisamos vencer para conquistar o torcedor. Transmitir essa confiança dentro de campo, com performances convincentes. Um time que trabalha duro e que consegue vencer. As vitórias vão trazer a confiança para os vascaínos e, consequentemente, vamos ver os estádios enchendo através do nosso rendimento.
O que esperar do clube ao longo da temporada?
Esperamos fazer um grande trabalho. O Vasco está passando por um processo de renovação, nova diretoria, nova equipe, jogadores e treinador. É um momento novo que o Vasco está vivendo e estamos muito ambiciosos, mas sempre com os pés no chão. Temos a ambição de fazer um grande trabalho para deixar nosso nome na história do clube. E com certeza conseguir conquistar grandes coisas aqui.