Futebol

Doze anos depois, Felipe lamenta derrota no Mundial contra o Real

Felipe é um dos últimos representantes de uma espécie de jogador em extinção. Fala o que pensa, é do tempo em que o politicamente correto ainda não pautava a personalidade de cada um.

Talvez por isso admita que não soube administrar bem a imagemno começo da carreira, algo que, garante, não lhe tira o sono na terceira e provável última passagem pelo Vasco.

Em entrevista ao LANCENET!, o maestro relembrou o passado e apontou os favoritos ao título brasileiro e ao prêmio de craque da Série A. Felipe não fugiu das comparações entre Eurico Miranda e Roberto Dinamite, falou o que pensa do Vasco atual e, apesar de feliz com o brilho nos gramados, confessou: se os dois chutes tivessem entrado contra o Real Madrid (ESP), na final da Copa Intercontinental de 1998, sua vida poderia ter sido outra. A do Vasco, com certeza seria.

Bruno Marinho: Com o Vasco sem grandes planos no Brasileiro, quem você vê como favorito ao título?

- Cruzeiro, Fluminense e Corinthians estão brigando. O Santos eu também acreditava que poderia incomodar. O caminho do Fluminense émuito complicado e o futebol hoje está muito nivelado. O elenco do Cruzeiro, para mim, é o melhor. Tem mais jogadores para reposição. Já o Corinthians é um time de chegada, com torcida. O Fluminense também está muito forte.

Rodrigo Ciantar: E os jogadores, quem está sobressaindo?

- Neymar é um jogador fora de série. Esse Lucas, do São Paulo, vai disputar o prêmio de revelação, tem feito bons jogos. O Conca também está jogando bem, o Montillo... Olha, o Brasil é uma mãe para os argentinos. Imagine se é o jogador brasileiro que vai atuar na Argentina? Nego maltrata. Os argentinos encontraram a mina de ouro. \"Ganho dinheiro, tenho qualidade de vida, sou muito valorizado pela imprensa\". Eles merecem mesmo porque jogam para isso, mas se é o brasileiro na Argentina, vai precisar marcar cinco gols por jogo para ouvir um elogio.

BM: Você falou em imprensa, com quem você teve problemas na juventude. Que imagem acredita que as pessoas têm do Felipe?

- Não tenho a mínima ideia da imagem que as pessoas têm de mim. Estou no fim de carreira, não tenho de me preocupar muito com isso. Se você gostar de mim, vai me interpretar de uma forma. Também aprendi que \"Felipe vai à missa\" não vende jornal, mas \"Felipe vai à boate\" vende, já estou calejado com isso.

RC: Isso vale para a sua passagem pelo Flamengo e aquela polêmica da camisa no chão?

- Cada um interpreta como quer. Se você atira a camisa para o ar, ela tem de cair. Você já viu eu fazer um gol, ainda mais da forma que foi? Eu quis comemorar. O peso do rebaixamento do Flamengo cairia todo nas minhas costas, não nas dos garotos.

BM: Quando novo, você se sentia perseguido pela imprensa?

- A imprensa me perseguia, mas eu não esquentava. Quando a bola chegava, eu resolvia. Falar mal não é o problema, o problema é a forma de falar. Todo mundo tem o direito de jogar mal. Uma coisa é dizer que fulano jogou mal, outra é dizer que o cara é um merda. Temos família, entende?

RC: Você se arrepende de ter agido de alguma forma quando novo?

- Não tenho por que ficar me lamentando por nada que fiz. Se eu tivesse naquele tempo a cabeça que tenho hoje, poderia ter tido outro caminho na carreira. Ou não. É muito difícil ver um garoto com a cabeça madura. A pessoa tem de aproveitar mesmo. Eu não tive um relacionamento muito bom com a imprensa, mas não me esquentava. Hoje, você vê garotos coma imagemmuito boa. Na minha época não havia essa preocupação de trabalhar a imagem.

BM: Experiente, como você tenta passar ensinamentos aos jovens?

- Quando o Diogo subiu, conversei com ele para dizer que já havia passado pela mesma situação. Disse que só precisei de uma chance, eu era reserva dos juniores, subi e nunca mais desci. A oportunidade aparece, tem de estar pronto. O importante é que o garoto não pode se iludir, se acomodar por estar no profissional. Tem de dar o algo mais. Eu dou conselhos, mas não perturbo, já tive a idade deles. Na minha época, quando o cara ficava falando muito, eu dizia logo para não me encher o saco.

Mais novo, você teve atritos com Eurico Miranda. E agora?

- Eu tenho bom relacionamento com o Eurico. Quando vinha de férias, ele sempre me procurou para voltar. O futebol é o presente. O torcedor tem memória curta e as pessoas não têm muita consideração pelas outras. Jogador é que nem laranja, você vai chupando... Acabou, joga fora. O maior exemplo de ingratidão no futebol é o Pedrinho. Apesar do que o Vasco fez com ele, foi quem mais disse para eu voltar para São Januário.

BM: E como você vê o Roberto Dinamite como presidente?

- São estilos diferentes. Eurico tinha uma certa experiência, começou desde novo como dirigente. O Roberto está começando agora, fez um bom trabalho na Série B, mas ele tem que se cercar de profissionais. É complicado virar dirigente de uma hora para outra. A melhor maneira para ele continuar crescendo é se cercar de pessoas que entendam.

RC: Como você vê a estrutura do Vasco atualmente?

- É complicado falar, já deu problema outra vez. Eu disse que a estrutura era a mesma em relação ao vestiário. Na minha época, eram três campos de areia. Hoje, são de grama sintética. O Vasco não ter centro de treinamento é ruim. Os garotos pegam o ônibus ainda da minha época, treinam em lugares distantes, dependem dos outros. O Vasco não evoluiu como Cruzeiro, São Paulo... São clubes que estão sempre lá em cima, times com um CT.

BM: Você acredita que com os feitos da sua geração o Vasco teve a chance de obter o centro de treinamento e não aproveitou?

- Naquela época, o Vasco tinha oportunidade de ter um centro de treinamento. O Vasco perdeu o Vasco-Barra. Aquela estrutura, com uma reforma, ficaria de bom tamanho. Nada contra o Duque de Caxias, mas emprestar São Januário para os jogos, mais os nossos treinos todos os dias, o gramado fica ruim, não tem como.

RC: Você lamenta o fato de não ter brilhado na Europa?

- Foi coisa do destino. Na Roma, não tive culpa, fui vendido, o Eurico disse para eu me apresentar depois de dois meses. Quando cheguei lá, a Roma tinha trocado de treinador e o novo não me queria. Fiquei mais três meses parado. Isso é complicado para a cabeça do garoto. Não tive culpa. Na época, fui comprado por R$ 20 milhões, era garoto com contrato maravilhoso de quatro anos. Na volta, tive de ganhar o salário de antigamente. Quem não jogava ganhava mais do que eu. Aprendi muito com isso na época.

BM: Por falar em destino, o que você se lembra daquela partida contra o Real Madrid. Poderia ter mudado a sua vida, não é?

- O Vasco foi muito superior ao Real Madrid, mas não venceu. Eu teria sido eleito o melhor jogador em campo. Aquelas duas bolas ficaram na minha cabeça por muito tempo, elas poderiam ter mudado a minha vida. Mas não tenho do que reclamar, só tenho a agradecer pelo que conquistei. Se não entrou é porque não tinha de ser.

Fonte: Lancenet!
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