A eleição mais longa da história do Vasco não tem data para terminar. Depois de o presidente Alexandre Campello perder o apoio de seu principal grupo de sustentação, o Identidade Vasco, o clima político do clube voltou a esquentar. Há incertezas demais num momento em que as diferentes correntes voltam a conversar e a tentar entender os cenários.
Algumas questões são as mais urgentes: Campello realmente pode ser destituído, como vem se comentando nos bastidores? Como está a configuração do Conselho Deliberativo, o palco principal para que se desenrole qualquer disputa política? Abaixo, o GloboEsporte.com tenta responder estas perguntas.
Campello pode ser destituído?
Publicamente, os membros do Identidade Vasco negam qualquer intenção de tentar cassar o mandato de Campello. O discurso é de que irão fiscalizar de perto a transparência pregada pelo presidente.
O próprio mandatário, porém, está convicto de que pode ser alvo. Isso o fez buscar novas alianças há cerca de um mês, quando passou a conversar com outros grupos em busca de apoio. O impeachment também é temor de outras correntes do clube, a maioria alinhada com Campello e Julio Brant na última eleição.
O que a Identidade Vasco fará?
Com 42 conselheiros, o grupo promete fiscalizar a transparência de Campello a partir do Conselho Deliberativo.
- Todos nós aqui somos conselheiros do Vasco, continuamos na vida política do clube. Nós não pensamos em retornar. Procurei várias vezes tentar reverter esse quadro de crise. Pensamos em continuar no Conselho Deliberativo. Não há interesse em retaliação. Queremos que a gestão seja transparente e profissional. Isso que vamos exigir - disse Fred Lopes, ex-VP de Futebol.
Quais são as acusações contra Campello?
Se realmente houver a tentativa de impeachment, será necessária uma prova muito contundente contra o atual presidente. Por enquanto, duas questões vêm sendo criticadas pelo Identidade Vasco: a venda de Paulinho, classificada como caixa-preta pelo ex-vice de Futebol, Fred Lopes, e o empréstimo de R$ 160 mil que Campello teria feito com o ex-vice de Patrimônio, Luiz Gustavo.
O que diz o estatuto?
No parágrafo segundo do artigo 36, diz-se que "compete ao Conselho Deliberativo a cassação do mandato de membro nato ou eletivo motivada por falta considerada grave, importanto a cassação, neste caso, na eliminação do quadro social".
Ou seja, é de responsabilidade do Conselho Deliberativo decidir pela destituição de Campello. Para que isso avance, é preciso ter a aprovação de dois terços do Conselho: no caso, 200 dos 300 membros.
Como está a divisão política?
Hoje, o Conselho Deliberativo é fragmentado em até quatro grupos. A conta gira em torno destes números:
- 30 conselheiros eleitos pela chapa de Eurico Miranda;
- 43 conselheiros ligados ao Identidade Vasco;
- 65 conselheiros ligados aos grupos que apoiam Julio Brant (Sempre Vasco, Cruzada, Guardiões da Colina, Vasco Med, PetroVasco, Desenvolve Vasco e Vascão Gigante);
- 12 conselheiros ligados a Alexandre Campello (Vira Vasco).
Além destes, há outros 150 conselheiros natos - em sua maioria, ligados a Eurico Miranda, embora Julio Brant tenha uma parcela razoável de apoiadores.
Todos os grupos, porém, ainda analisam a situação. Até mesmo os apoiadores de Eurico não decidiram o que fazer em conjunto.
Qual a movimentação de Campello?
Sem sua principal sustentação no Conselho, Campello iniciou conversas com beneméritos como Otto Carvalho, Fernando Horta, Jorge Salgado, Antônio Peralta, José Carlos Osório, Faues Mussa, Manoel Moutinho e José Luís Moreira. Deles, recebeu promessa de apoio político no Conselho Deliberativo. De nomes ligados a eles devem sair os novos vice-presidentes, depois da retirada do Identidade Vasco.
Julio Brant pode se unir a Campello?
Em reunião na segunda-feira, os grupos que apoiam Brant definiram que não aceitarão quaisquer convites para cargos na gestão de Campello - o que não foi feito até o momento.
Por outro lado, Brant e seus aliados também decidiram se posicionar contra uma possível tentativa de impeachment no Conselho Deliberativo, caso avaliem que seja de cunho político.
Se houver prova contundente de irregularidades ou fraudes na gestão de Campello, é possível que os grupos que compõem a base de Brant apoiem o impeachment.
Se Campello for destituído, o que acontece?
De acordo com o estatuto, será feita nova eleição dentro do Conselho Deliberativo se a cassação ocorrer até metade do mandato. Depois disso, quem assume é o primeiro vice-presidente geral - no caso, Elói Ferreira, que é ligado ao Identidade Vasco e, inclusive, entregou o cargo de vice-presidente de Relações Especializadas.