Ao lado da mulher, a jornalista Clarissa Ivalski (32), com quem está há sete anos, e da caçula, Catarina (2), Edmundo (40), ex-craque da Seleção Brasileira, do Vasco, Palmeiras, Flamengo, Santos e Corinthians, entre outros, e atual comentarista da Band, em nada lembra o atleta explosivo de antigamente, que lhe rendeu a fama e o título de animal. Tímido à primeira vista, ele se desarma e ganha brilho nos olhos ao falar sobre o amor que tem pela família.
De domingo a quinta-feira, trabalho em São Paulo. Adoro o que faço, mas depois da gravação, voltar para o flat e ficar sozinho me deixa triste. É ruim não ter com quem conversar, dividir o dia, deixar de ouvir a Catarina dizer papai ou Vasco, não estar com minha mulher. Bate uma solidão... Por isso, estamos de mudança. Quero tê-las perto de mim, explicou ele, em sua casa, na Barra, Rio.
O rótulo de bad boy adquirido por suas atitudes polêmicas dentro de campo, e também fora, ele tenta explicar. Era jovem. Minha rebeldia vinha da indignação por minha infância carente. Quando me tornei um jogador de sucesso, a sociedade e a imprensa cobravam que eu fosse o inteligente, o bacana, o educado... Confundi as coisas e fiquei meio revoltado com o sistema. (risos) Mas com o tempo percebi que o mundo é assim. Aprendi levando pancada, revelou o comentarista.
Apesar da nova postura, os erros do passado ainda trazem consequências. Em junho passado, Edmundo voltou a ser detido em função do acidente que provocou a morte de três pessoas na Lagoa, bairro da zona sul carioca, em 1995. Consciente, ele não se isenta da culpa, mas acredita que o prazo para punições já expirou. Tenho noção do meu erro. Só eu sei o que senti com as minhas cobranças e a dos outros, também, disse ele, que tenta superar o drama na companhia de Catarina e dos outros filhos, Ana Carolina (16), Edmundo Jr. (12), ambos do casamento de 12 anos com Adriana Sorrentino (37), e Alexandre (17), fruto de uma relação extraconjugal com a então modelo Cristina Mortágua (41).
Você parece mais maduro. Considera essa sua melhor fase? Sou um cara que não se empolga muito com as coisas boas, nem se abate tanto com as ruins. Ao longo da minha trajetória, vivi fases incríveis e péssimas. Tenho tudo o que um homem gostaria: família bacana, saúde, emprego e bela casa. Não posso me queixar.
Já imaginou como teria sido sua vida sem o futebol? Minha mãe lavava roupa para fora e meu pai era barbeiro. Que oportunidades teria? Fiz até a 5ª série e me acho relativamente culto para meu histórico. Sonhava ser engenheiro eletrônico e me arrependo de não ter levado os estudos adiante.
Não pensa em voltar agora? Quero cursar Jornalismo. Agora, vou focar na mudança para São Paulo no próximo mês e na carreira de comentarista. Estou muito feliz na Band.
Como é estar do outro lado, analisando atitudes em campo? No início, tive medo de falar dos companheiros de futebol, porque achava que críticas ao desempenho dos atletas, muitas vezes, era algo pessoal. Hoje, sei que o julgamento técnico se restringe à informação.
A experiência que você ganhou na carreira o tornou um pai exigente? Sim. O estudo dos meus filhos é prioridade. Checo os cadernos. Só ganha mesada se tiver notas boas. Não afrouxo mesmo. (risos)
Você nunca teve muito contato com seu filho Alexandre. Como é essa relação hoje?
Ótima, a mesma que tenho com todos os outros. Convivíamos pouco, porque ele morava com a mãe e eu viajava muito em função dos jogos. Posso dizer que nossa relação é melhor agora.
Você e Clarissa não são casados legalmente. Pretendem oficializar essa união? Eu queria casar... Mas tem de ser na marra. (risos)
Clarissa Na minha concepção, nós já somos casados há muito tempo. Assinar papéis agora não tem mais importância.
Edmundo Ela é sempre reticente sobre o assunto. Digo para gente se casar e sair em lua de mel. Mas isso a gente faz sempre que pode, não é? (risos).
Pensam em ter mais filhos?Edmundo Eu gostaria.
Clarissa Seria interessante para Catarina ter um irmãozinho. Quem sabe em um ano?
Edmundo é romântico?Clarissa Acho que sim, mas não é do tipo que manda flores. Prefiro assim. O companheirismo é que dita a verdade de uma relação. Prefiro tê-lo ao meu lado a atitudes melosas.
O que admiram no outro? Clarissa é uma mulher íntegra. Namoramos três anos na ponte aérea, quando eu jogava no Palmeiras, em São Paulo. Ela sempre teve um comportamento exemplar. No conjunto da obra, Clarissa é especial: linda, excelente mãe e cuida muito bem da família.
Clarissa Edmundo é parceiro e carinhoso. Tem uma timidez inicial, mas depois, quando pega intimidade, surpreende, mostra-se muito divertido.
Este ano, você recebeu um mandado de prisão pelo acidente em que se envolveu em 1995, foi detido e está livre graças a um habeas corpus. Como se sentiu? Foi difícil. Pensei muito na minha família, no constrangimento pelo qual passariam. Confio na justiça e nos meus advogados. Eu não me isento da culpa pelo acidente, de jeito algum. Tenho noção do meu grande erro e sou totalmente solidário à dor das famílias que perderam seus entes queridos. O que não consigo compreender é isso tudo vir à tona logo agora que o processo já prescreveu.
Chegou a manter qualquer tipo de contato com as famílias das vítimas após o acidente? Tive um breve contato com eles logo depois que tudo aconteceu. Mas foi delicado e penoso para ambas as partes tocar no assunto. Resolvemos então prosseguir com as nossas vidas, cada um com sua dor.