Futebol

Edmundo fala sobre Julio Brant, eleições, Dinamite, Eurico e muito mais

A possibilidade de um outro ex-jogador e ídolo virar dirigente do clube mexe com os torcedores do Vasco. Há quem comemore a nova alternativa na vida política do clube, mas também há muitos outros que lamentam a possibilidade de ver mais um ídolo colocando à prova sua imagem fora das quatro linhas. Depois de seis anos de Roberto Dinamite, Edmundo se arrisca ao entrar na vida política do clube de São Januário. O atual mandatário conquistou uma Copa do Brasil, mas ficou marcado e desgastado com dois rebaixamentos em cinco anos. Mas nem por isso Edmundo se preocupa e pensa em tirar o time de campo às vésperas de os vascaínos irem às urnas para escolher uma nova gestão.

– Já ouvi de tudo. Mas a minha vida não foi de omissão, nunca. Sempre foi de ação, de combater aquilo que entendo que não está certo ou outra coisa que vejo que pode melhorar – diz Edmundo, hoje comentarista de futebol na TV Bandeirantes.

Com um pouco da língua afiada dos tempos de jogador, mas também politicamente correto em elogios ao amigo e adversário do seu grupo político Eurico Miranda e a Roberto Dinamite, o ex-atleta conta que descobriu um mundo novo quando passou a estudar a gestão de clubes, o que tornou sendo o embrião para a ideia de montar um grupo político e disputar as eleições vascaínas que estão marcadas para o dia 6 de agosto. Para ele, o clube perdeu chances de ouro de crescer na gestão Dinamite. E não pode mais tentar soluções que considera ultrapassadas.

Em entrevista por telefone ao GloboEsporte.com na tarde desta terça, Edmundo falou de Julio Brant, candidato da chapa Sempre Vasco, disse que espera apoio de outros ídolos e pessoas influentes do clube e que espera contribuir para que o Vasco viva dias melhores.

– Clube de futebol é mais importante que amigo e mulher. Mulher quando trai, a gente troca. Amigo quando faz sacanagem, a gente deixa de falar. Mas time de futebol pode cair, pode perder, o que for, que a gente continua fiel a ele – compara o ex-jogador.

GloboEsporte.com: Você aparece como uma novidade de última hora nesse processo eleitoral do Vasco. Como surgiu essa vontade de se meter na vida política e tentar entrar como novo dirigente do Vasco?

Edmundo: Isso começou com um grupo de vascaínos que gostam do clube e tiveram a ideia de fazer um curso e mergulhar no universo do Vasco para ver qual era a real situação do clube. Estudamos números, alternativas e descobrimos que se ficássemos parados, o clube teria mais dificuldade do que já está tendo, com perspectivas pequenas. Essa iniciativa começou a tomar corpo, foram entrando pessoas mais influentes, com novas ideias e novos projetos. Sempre tive uma gratidão enorme pelo Vasco, sempre quis fazer alguma coisa para ajudar. Para isso tinha que entender a situação. Fiz então um curso de gestão, depois outro, e montamos um grupo de estudo. No primeiro momento não havia cunho político. As pessoas queriam que eu ficasse à frente, mas em função do meu trabalho na TV eu sempre relutava.

Mas chegou um ponto que entendemos que, se não fizéssemos nada, o clube teria mais dificuldade ainda. Recentemente anteciparam receitas, o clube não tem mais nada para receber da Ferj porque já pegou a grana, então pensamos: onde isso vai parar? É uma falta de responsabilidade muito grande. Não queremos que nosso clube acabe, que passe mais dificuldade ainda. Clube de futebol é mais importante que amigo, que mulher. Mulher trai, a gente troca. Amigo se faz uma sacanagem, a gente deixa de falar. Mas time pode cair, perder que a gente continua fiel a ele. Descobrimos que não podíamos ficar na mesmice e começamos a montar um grupo totalmente fora da política do Vasco.

Numa eventual gestão desse grupo, qual seria sua participação? Assumiria uma vice-presidência do clube?

Não seria vice-presidente. Faríamos um comitê de gestão. O curso nos mostrou isso, que vendo de fora podemos decidir qual melhor caminho a ser resolvido. Mas hoje eu só dou apoio. Por meu nome ser mais conhecido, claro que as pessoas acabam tendo maior acesso comigo. Mas vou continuar na TV, é importante deixar isso bem claro. Sou só um vascaíno apaixonado que quer ajudar o clube. Temos projetos enormes e uma vontade de revolucionar a história do Vasco, de fazer diferente do que foi feito até aqui. Queremos buscar parcerias, construir arena, tornar o (programa) sócio-torcedor um dos maiores no cenário brasileiro. São sonhos, projetos, metas que traçamos, que desenhamos e queremos colocar em prática.

Como chegaram ao nome do Julio Brant para ser o escolhido a concorrer à presidência?

Ele tomou conhecimento através da imprensa de que tínhamos um grupo que fazia curso de gestão, aí nos procurou. Ele se incorporou ao grupo. Trouxe ideias novas, de como captar recursos para o clube, da possibilidade de construir arenas, que são um gerador de receitas. No primeiro momento ele só fazia parte do grupo. Quando começamos a pensar no nome, procuramos o Jorge Salgado, o Fernando Horta, o Olavo Monteiro de Carvalho. Tivemos mais de dez conversas com todas essas pessoas. Eles acenavam com a possibilidade de virem candidatos, como cabeça dessa chapa. Por um motivo ou outro acabaram saindo e colocaram questões pessoais que a gente não questiona. Então olhamos para dentro do grupo e nos apoiamos em pesquisas que apontavam o que o torcedor do Vasco espera: um nome sem ranço com a política, que seja jovem, empreendedor. Começamos a perceber que o Julio, dentro do dia a dia, era mais incisivo, trazia ideias novas e chegamos ao consenso de que ele seria a pessoa mais indicada.

Houve conversas com ex-jogadores, o Felipe, o Pedrinho, o Juninho e o Carlos Germano? Eles estão juntos com você nessa iniciativa?

Conversei com todos eles. Não pedi apoio nem convenci ninguém. Mostrei o projeto, as nossas intenções, e todos eles foram bem contundentes, disseram que estariam comigo nesse processo de melhora e de revitalização do clube que amamos. Só que cada um tem sua atividade. O único que está sem nenhuma é o Felipe, que tem os negócios dele. O Pedrinho trabalha comigo na TV, o Germano está dentro do clube, é situação. No momento oportuno vai se manifestar. Essa semana vou falar com o Juninho e vou ver o que ele quer. Nas vezes que encontrei com ele na Copa, ele se mostrou do nosso lado.

Com relação ao apoio de outras pessoas mais antigas do clube. Muito se falou anteriormente que o Olavo, o próprio Salgado e Horta estariam com vocês...

Nosso projeto foi apresentado para todos eles, que ficaram bem impressionados com nossas ideias e disseram que nos apoiariam. Mas foi no foro íntimo. Publicamente quem tem que dizer são os próprios. Não entendo de política, não sou envolvido nisso e nem sei como agir. A minha palavra eu dou, reafirmo e confirmo. Pode ser que tenham se apalavrado com outros ou que tenham escutado outros para se posicionar.

Você sempre se deu bem com Eurico, que hoje é candidato a voltar a presidir o Vasco. Houve tentativa de apoio ou aproximação nesse sentido nessas eleições?

Continuo me dando muito bem com ele. Gosto muito do Eurico. Ele teve papel fundamental e muito importante na história do Vasco. Mas a gente entende que a solução do futebol brasileiro, não só do Vasco, passa por reformulação total, de ideias novas, de projetos. Não adianta pensar nas soluções de antigamente. Os clubes já viveram do dinheiro da renda de jogos. Hoje isso é impossível. (O clube) vivia (do dinheiro) da TV, hoje também é impossível. Tem que trabalhar marketing, tem a venda de jogador, claro, mas tem sócio-torcedor, um emaranhado de recursos que são necessários para tocar o clube. Isso requer delegar poderes, com cada um na sua área, fazer centro de custo para que todos façam captação boa e tragam dinheiro para os clubes.

Hoje, os salários são astronômicos e a conta não fecha. Doutor Eurico é uma pessoa maravilhosa, sabe para caramba de futebol, de Vasco, mas divergimos em algumas coisas. Ele não acredita em marketing, em sócio-torcedor, acha que o Vasco tem melhor estádio do mundo, mas não é verdade. São Januário precisa de reforma, de estruturação. Hoje o público é mais exigente. Nas conversas que tive com ele, vimos que temos ideias diferentes, até pela minha idade, pelo que estudei, pelo que vi. Ele pensa diferente. Por isso conheci outras pessoas que têm cabeça parecida com a minha e acabamos formando esse grupo.

Muita gente fala que se trata de uma nova aventura, um ex-jogador, um ídolo, como foi Roberto Dinamite, vir aparecer na vida política e administrativa do clube. Como vê essa questão? Não teme que fique com a imagem tão desgastada quanto a do atual presidente?

Ah, já ouvi de tudo um pouco. Mas minha vida nunca foi de omissão, sempre foi de ação, de combater aquilo que entendo que não está certo ou aquilo que entendo que posso melhorar. Adoro o Roberto (Dinamite), não sei quais exatamente foram os problemas que ele teve. Mas acredito que quando se arregaça as mangas e vai para a rua trabalhar, corre atrás, as coisas acontecem. Acho que o Vasco perdeu as melhores oportunidades do mundo nesses últimos seis anos. Tivemos Pan, Copa das Confederações, Copa do Mundo, teremos Olimpíadas, temos um estádio próprio muito bem localizado. Um prefeito (Eduardo Paes), um ex-governador (Sergio Cabral) e o ex-presidente Lula que são Vasco. Se você arregaça a manga, vai e apresenta projetos, você consegue fazer o Vasco mais forte. Não estou aqui para criticar o Roberto, mas ele teve a chance dele, e espero que a sua imagem de ídolo não fique tão arranhada. Mas como administrador ele não fez o Vasco grande. Eu não tenho esse receio. Fui estudar e hoje sou completamente diferente do que era quando parei de jogar, principalmente em termos de conhecimento. Vivi futebol a minha vida inteira, mas percebi que não sabia nada quando comecei a estudar. Ainda tenho muita coisa a aprender, e isso me deu motivação para poder entrar mais de cabeça nisso tudo.

Fonte: ge
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