O Vasco fez Edmundo se tornar ídolo de uma das maiores torcidas do país. E devolveu tudo em títulos, raça e uma cada vez mais rara entrega, de corpo e alma, a um clube. Aposentado desde 2008, o agora comentarista da Band faz planos para retribuir o que, nas suas contas, ficou devendo fora de campo. Edmundo quer se presidente do Gigante da Colina.
O sonho teve que ser adiado para 2018. Enquanto isso, ele se prepara. Dono de um título de sócio benemérito benfeitor, precisa aguardar cinco anos. Nesse período, ele estuda e se estrutura para exercer o cargo sem cometer os mesmos erros do ex-presidente Roberto Dinamite – o primeiro vascaíno a arriscar a idolatria no posto máximo de São Januário.
“Estou me preparando. Já fiz quatro cursos: gestão e até mesmo da prática do futebol. Aprendi bastante. Eu quero estar preparado para que não aconteça comigo o mesmo que aconteceu com Roberto Dinamite, que não estava preparado para assumir um clube como o Vasco e acabou colocando em xeque a condição dele de ídolo. Nada contra a pessoa, que é maravilhosa. Mas pra você estar à frente de um clube tem que estar preparado e principalmente cercado de boas pessoas. No momento oportuno, que eu me sentir apto e pronto pra isso, eu quero disputar a eleição”, disse em entrevista exclusiva ao Portal da Band.
Edmundo garantiu que não teme que a sua idolatria seja deixada de lado caso seja mandatário. “Não é isso que me amedronta e sim o desafio mesmo de uma empreitada difícil como essa”.
Apesar de ter sido oposição a Eurico Miranda na última eleição, reconhece o trabalho do atual mandatário vascaíno. “O Vasco era brigado com a federação até o final do ano passado e hoje é parceiro. Tem o mesmo pensamento. O Vasco voltou, readquiriu o seu respeito, é líder do campeonato, único time invicto da competição. Hoje acredito que o respeito tenha voltado”, destacou, concordando com a frase lançada como lema da atual diretoria.
Sobre o clássico deste domingo (a Rádio Bradesco Esportes FM Rio transmite o jogo ao vivo, às 18h30, no Maracanã. Acompanhe lance a lance no Portal da Band), Edmundo conhece bem e até lembrou que se preparava de forma diferente. “Era um jogo diferente, que acabava tendo uma preparação especial, concentração maior. Mas o espírito de torcedor entrava em campo”.
Edmundo relacionou alguns jogos memoráveis no clássico entre Vasco e Flamengo e explica o porque. “Por dois anos seguidos 96/97 marcou muito minha vida e, por isso a lembrança. Foram dois placares 4 a 1, em que eu fiz três gols em cada. Em 97 além de ser campeão, fiz 29 gols e fui o artilheiro isolado, quebrando recorde de gols em uma só edição de campeonato brasileiro”.
Para o clássico de domingo, o ex-camisa sete não tem dúvidas de uma vitória vascaína. “2 a 0, gols de Gilberto e Dagoberto”, arriscou.
E ele até elege o novo ‘Animal’ vascaíno. “As características são bem diferentes. Entendo que o Bernardo tem uma personalidade parecida com a minha. Acho que o Gilberto também tem essa semelhança”.
Acompanhe a entrevista completa a seguir:
Portal da Band: Esse é o primeiro jogo oficial depois da polêmica da final do Carioca do ano passado.
Edmundo: Dentro do campo, normal. Uma rivalidade bem acirrada, mas que os jogadores vão ter um comportamento normal, porque não pode ser diferente. Embora não tenha o mesmo peso daquela decisão, que é sempre mais importante, é um Vasco e Flamengo, que tem uma rivalidade de diretoria, torcida, que sempre acirra muito. Vai ser um ótimo jogo porque os dois times vivem um bom momento. Tem jogadores novos, que vão jogar a primeira vez esse clássico.
Portal da Band: Vai ter algum rescaldo daquele jogo?
Edmundo: Acredito que não. O Marcelo de Lima Henrique, o árbitro envolvido diretamente, não apita mais no Rio. Já faz um ano, Vasco jogou a Série B. Maioria dos jogadores, principalmente do Vasco que foram os maiores prejudicados, não permaneceram. Isso não vai ser levado pra dentro de campo, apesar de a rivalidade ser muito grande. A cidade para. O Rio praticamente respira esse confronto. Em função disso é muito pegado, disputado. Acredito que se repetir um Vasco e Flamengo em uma semifinal ou final pode ser que possa voltar à tona todo aquele jogo da final do ano passado.
Portal da Band: Quando o Eurico Miranda assumiu a presidência do Vasco, disse que o respeito estava de volta. Pra você isso é sério ou demagogia?
Edmundo: Pode e deve ser levado a sério. O Vasco era brigado com a federação até o final do ano passado e hoje é parceiro. Tem o mesmo pensamento. A gente sabe que os árbitros são ruins mesmos, mal preparados. Não acredito que o erro do ano passado tenha sido intencional, mas acaba sendo intencional. Você sabe que quando há uma briga entre um clube e a federação e outro não é brigado, talvez possa ser induzido ao erro. O Vasco voltou, readquiriu o seu respeito, é líder do campeonato, único time invicto da competição. Hoje acredito que o respeito tenha voltado. Não adianta nada se no domingo o Vasco voltar a perder, ter erro de arbitragem. Isso é mais no psicológico. A volta dele teve um resultado bem positivo.
Portal da Band: Você sonha em ser presidente do Vasco. Mudou de opinião?
Edmundo: O homem que não sonha não vive. Tem que sonhar sempre. Eu realizei alguns sonhos meus. Depois de ter vivido coisas maravilhosas no Vasco, eu tenho esse sonho, desejo de ser presidente. Entre uma coisa e outra há uma distância muito grande. Eu tinha um título de sócio e eu abri mão, pois parei de pagar e ganhei um título de benemérito benfeitor. Eu tenho que esperar cinco anos pra poder ter direito a disputar uma eleição. Isso só vai acontecer em 2018. Nesse meio tempo trabalho na Band, que é uma coisa que me impede e tenho que manter a minha família. Esse tem o lado financeiro.
Portal da Band: Você está se preparando para isso?
Edmundo: Estou me preparando. Já fiz quatro cursos: gestão, e até mesmo da prática do futebol. Aprendi bastante. Eu quero estar preparado para que não aconteça comigo o mesmo que aconteceu com Roberto Dinamite, que não estava preparado para assumir um clube como o Vasco e acabou colocando em xeque a condição dele de ídolo. Nada contra a pessoa, que é maravilhosa. Mas pra você estar à frente de um clube como o Vasco tem que estar preparado e principalmente cercado de boas pessoas. No momento oportuno, que eu me sentir apto e pronto pra isso, eu quero disputar a eleição.
Portal da Band: Você teme que a sua idolatria corra risco?
Edmundo: Não é isso que me amedronta e sim o desafio mesmo de uma empreitada difícil como essa ser presidente de um clube da grandeza do Vasco assusta mais do que perder a idolatria, porque o clube vai ser sempre maior do que todo mundo, de qualquer ídolo. Tudo na minha vida foi desafio e eu sempre fiz com muito amor, dedicação. Se não der certo não foi por falta de emprenho ou preparação. Você pode pagar as dívidas, estruturar o clube, fazer quinhentas coisas, mas se não ganhar os títulos não vale nada. É um conjunto de coisas que precisam dar certo pra que você tenha êxito em uma passagem frente a um clube como o Vasco.
Portal da Band: Em clássicos contra o Flamengo você se superava em campo. Entrava junto o torcedor com você?
Edmundo: Sem dúvida nenhuma sim, mas só que preparado tecnicamente e fisicamente. Era um jogo diferente que acabava tendo uma preparação especial, concentração maior. Mas o espírito de torcedor entrava em campo com certeza porque eu vivo essa realidade desde que nasci o desejo de ganhar esse clássico. Eu pude realizar esse desejo duplamente como torcedor e jogador.
Portal da Band: Qual foi o jogo memorável pelo Vasco contra o Flamengo?
Edmundo: Por dois anos seguidos 96/97 marcou muito minha vida e, por isso a lembrança. Foram dois placares 4 a 1, em que eu fiz três gols em cada. Em 97 além de ser campeão, fiz 29 gols e fui o artilheiro isolado, quebrando recorde de gols em uma só edição de campeonato. Pra mim também foi o primeiro gol, em 92, no primeiro clássico contra o Flamengo marca muito e o do título de 92 também. O Vasco já era campeão e tinha o clássico pra fazer. O Flamengo saiu na frente, eu empatei no último jogo do campeonato dando título invicto. Marcou porque eu tinha 19 anos, era meu início de carreira. O gol foi lindo, em São Januário. Cada um tem o seu gostinho especial.
Portal da Band: Quem elege como o "Edmundo" do time atual?
Edmundo: Acho que não tem. As características são bem diferentes. Entendo que o Bernardo tem uma personalidade parecida com a minha, mas não gostaria de comparar o futebol. Acho que o Gilberto tem essa semelhança, apesar da posição diferente. Por ser aguerrido, determinado, ter sangue nos olhos, essas coisas que fazem diferença. Os tempos e times são outros. Eu não gosto de fazer essa comparação. São jogadores que me identifico mais porque eu era um cara que não gostava de perder. Me dedicava demais. Às vezes exagerava e tinha uma entrega muito grande.
Portal da Band: O fato de o Vasco estar na liderança influencia em um clássico?
Edmundo: Psicologicamente pode ser que sim, tecnicamente não porque historicamente esses dois times ganham um do outro mesmo estando em uma colocação pior ou um time inferior. Em relação à torcida isso pode influenciar bastante porque a torcida indo em maior número pela empolgação isso pode incentivar e dar moral e isso pode fazer a diferença.
Portal da Band: O que espera desse clássico?
Edmundo: Eu estou falando como torcedor espero que o Vasco vença. Gostaria que fosse de 2 a 0, gols de Gilberto e Dagoberto para que eles curtissem a importância e valorizassem o fato de jogar no Vasco. Pra mim são os dois principais jogadores do Vasco. Nos últimos anos dizem que é um gigante adormecido e espero que esses dois ajudem a acordar, reerguer essa agremiação que eu amo tanto.
Portal da Band: Você se arrepende em ter jogado no Flamengo?
Edmundo: Não. A experiência foi negativa por tudo que envolve: a minha relação com o Vasco, pelo ídolo que eu era no Palmeiras, pelo problema do acidente que eu sofri naquele mesmo ano, pelas promessas dos dirigentes do Flamengo que não foram cumpridas. Tudo isso faz com que você não tenha uma lembrança positiva. Não posso dizer que me arrependi porque fiz em sã consciência. Eu queria jogar ao lado do Romário, voltar para o Rio. Foi uma oportunidade que financeiramente e profissionalmente era muito boa, mas que acabou não dando certo. Acontece.