Tachados como “forasteiros” pelos adversários na campanha presidencial de 2014, o ídolo vascaíno Edmundo, Julio Brant e o grupo político que encabeçam tiveram três anos para mostrar que o segundo lugar na última eleição para presidente do Vasco não foi obra do acaso. Ao lado do hoje comentarista da Fox, Brant confirmou sua nova candidatura ao GLOBO, pregou a união da oposição e diz que tenta garantir na Justiça o que, segundo ele, faltou três anos atrás: eleições limpas e segurança para os sócios. Além desta chapa, a eleição promete: estão anunciadas ao menos duas outras chapa de oposição a Eurico Miranda: a do médico Alexandre Campello, e a do presidente do Conselho Fiscal, Otto de Carvalho Júnior. Todas precisarão ser oficializadas para o pleito de novembro.
Você será novamente candidato à presidência do Vasco? Por quê?
Julio Brant: Sou candidato sim, porque o momento é difícil, e o Vasco precisa de um grupo que traga profissionalismo à gestão, que consiga fazer a mudança que o clube precisa a partir do ano que vem. Vemos o fundo do poço ficar cada vez mais fundo. Queremos recuperar o Vasco, enquanto ele ainda é recuperável.
É possível ser eleito presidente sem a união da oposição?
JB: A união é fundamental, a oposição tem de se unir em uma campanha única, de fato. Vale ressaltar que essa não foi a principal razão da perda da eleição de 2014. A perda foi pela fraude que aconteceu, mesmo com outro candidato de oposição. Mas, sem dúvidas, um candidato único facilita, canaliza forças. A união é fundamental, de todos os vascaínos, para recuperar o Vasco.
Você acredita que esse movimento de união da oposição é possível?
JB: Acho que o movimento dos beneméritos e grandes beneméritos neste sentido é fundamental. O motivo pelo qual estávamos demorando para falar de eleição, como estamos falando agora, foi justamente esse, em respeito à experiência dos beneméritos. As reuniões feitas estão causando os efeitos que de fato queremos. Concluímos que, apesar dos candidatos distintos, caminharemos para um candidato único, com critérios estabelecidos. Na próxima reunião, vamos determinar quais serão esses critérios para definir o candidato da oposição e um prazo para isso ser feito.
Que critérios devem ser esses, no seu entender?
JB: Precisamos fazer uma pesquisa de opinião com os sócios votantes, com critérios estabelecidos com o consentimento de todas as chapas. Devemos fazer duas pesquisas para ver o candidato mais bem cotado, e o resultado que sair tem de ser respeitado pelas chapas da oposição.
Já tem algum nome definido para compor a diretoria com você?
JB: Nelson Sendas (empresário, filho do vascaíno ilustre Arthur Sendas, morto em 2008) vai estar conosco, ele já aceitou participar como vice-presidente. Mas nossa preocupação com nomes é secundária neste momento. Conversamos com nomes importantes, que mostram ao sócio vascaíno que temos desde executivos jovens a pessoas com grande tradição na vida do clube. Nosso desafio é ter um projeto que possa dar conta da necessidade do Vasco em janeiro de 2018. Queremos trazer viabilidade ao clube. Quem for de destaque vai ser diretor ou vice.
Edmundo, onde você entraria nessa nova diretoria do Vasco?
Edmundo: Entrei nessa história de política por paixão pelo Vasco, por ver o time padecer nessa última década. Temos um objetivo único que é reerguer o Vasco, mas participação direta, efetiva minha, ainda não sei. Tenho meu compromisso com a TV e espero cumprir isso. Acredito no grupo, nas pessoas, no projeto que temos. O Vasco não pode ficar na mão de apenas uma pessoa. O Vasco é dos vascaínos. Quero estar dentro do Vasco, mas hoje eu tenho medo de ir ao clube. Tem muito vascaíno do bem querendo ajudar o Vasco, mas que não faz pela maneira como o Vasco é conduzido.
Você conhece o Eurico Miranda muito bem. O que te faz crer que ele não é o melhor para o Vasco?
Edmundo: O Vasco vive o momento mais emblemático de sua vida, o mais difícil. O torcedor do Vasco precisa ter voz, e hoje ele não tem. Não tenho nada contra a pessoa do Eurico, adoro ele, a figura dele, e sou grato por muitas coisas boas que fez por mim. Mas quando ele disse que o projeto dele para o Vasco era ele... O Vasco é muito grande para ficar limitado a uma família apenas. É fundamental resgatar a participação ativa do torcedor vascaíno. Eu tenho uma ideia do Eurico como vice de futebol, presente nas reuniões da CBF, da Ferj (Federação do Rio), defendendo os interesses do clube. Com um projeto de modernização do clube e a representatividade que ele tem, pensamos em chamá-lo para o nosso projeto em 2014, mas hoje entendemos o que aconteceu. Ele se livrou de todos para conduzir o clube sempre da maneira dele. Nesses dois anos e meio de gestão, ele brigou com os maiores aliados, pessoas que o ajudaram a vida inteira. Então, fiquei muito à vontade na decisão que tomei de ir contra ele, de tentar algo transparente.
Por falar em ex-aliados do Eurico, vocês aceitariam conversar com José Luís Moreira (ex-vice de futebol do Vasco)e Fernando Horta?
JB: Estamos abertos para falar com todos os vascaínos dispostos a reerguer o Vasco. O que temos é uma proposta de trabalho, de profissionalização profunda. A conversa política tem de ser com todos os vascaínos. Torcedores e sócios precisam participar, não importa o lado. As pessoas que estão há muito tempo no clube, é natural que tenham passado por todos os lados. A preocupação com o hoje é o mais importante. Estamos vivendo um momento muito crítico, quanto mais gente para ajudar, melhor. Já conversamos com pessoas ligadas ao José Luís (Paulo Angioni, ex-gerente de futebol do Vasco, é quem tem feito a ponte entre as partes). Queremos conversar com ele.
Edmundo: O problema é que o novo assusta. As pessoas tentam, o tempo inteiro, nas conversas conosco, desqualificar nosso grupo. Não acreditavam que, em 2014, teríamos tantos votos. As pessoas, lá em 2014, só conheciam a minha figura, a chapa Edmundo-Julio Brant, mas hoje conhecem nossos projetos. Estamos sempre abertos para conversar, mas as pessoas só chegam perto para nos desqualificar. Não vou aceitar. Essas brigas, no geral, tenho medo de serem um movimento de chapa única. Não sei até que ponto são de verdade. Fico de longe vendo os movimentos no tabuleiro.
Há conversas com Otto de Carvalho Júnior. (candidato à presidência e também presidente do Conselho Fiscal) neste caso específico?
Edmundo: Estive com ele, que jura que está contra o Eurico, mas está lá no Conselho e não reprova as contas. Dizem que o Horta está brigado, mas está sempre sentado ao lado do Eurico. Nem no caso do Zé Luís eu acredito. Eurico mora no apartamento dele até hoje. Essa é uma visão minha, não do grupo. Talvez isso tudo seja um movimento para diluir votos e enfraquecer chapas.
Já tem um futuro vice de futebol?
JB: Meu sonho é ter um cara como o Edmundo nessa função, mas respeito o compromisso dele na TV. Mas tem outros nomes muito fortes, como o de Jorge Salgado. Durante muito tempo, ele atuou no futebol do Vasco, no futebol nacional (foi dirigente da CBF em 1990), e tem experiência e credibilidade. Converso com o Jorge Salgado sempre, é uma conversa muito aberta.
A oposição fala em viabilizar judicialmente a eleição. O que isso significa na prática?
JB: É atacar em duas frentes: queremos uma eleição limpa, diferente do que foi em 2014. Queremos a participação da Justiça para garantir uma lista de votos sem fraude, e que não haja violência, que o verdadeiro sócio possa votar tranquilo.
Edmundo: Entre outras convergências na oposição, está o desejo de eleição limpa. Se o sócio escolher o Eurico, como vascaínos, vamos apoiar, continuar torcendo, mas tem de ser transparente.