Filho de um sargento de polícia, Élton aprendeu, desde garoto, a viver de cidade em cidade. A cada transferência que o trabalho impunha ao pai, ele incorporava à rotina nomes como Iramaia, Itaeté, Marcionílio, Iaçu e Itaberaba. Élton não imaginava, mas a peregrinação pelo interior da Bahia serviu de preparação.
Com 17 anos, largou a família e foi morar no Paraná. Depois, viveu em São Paulo, foi parar na Polônia, voltou ao ABC paulista e, em 2009, aos 24 anos, ganhou uma certeza: encontrou no Rio de Janeiro e no Vasco o seu porto seguro. Autor de gols nos seus últimos oito jogos, ele tentará ampliar a marca hoje, às 16h10m, no Maracanã, contra o Duque de Caxias.
Se conseguir marcar, Élton pode dar ao Vasco a quarta vitória seguida pela primeira vez nesta Série B. E mais: o time pode ficar a três vitórias da Primeira Divisão.
Nunca fiquei dois anos num clube. Quero ficar no Vasco. Estou me sentindo muito bem aqui diz Élton, cujo empréstimo feito pelo São Caetano termina no fim do ano.
Um ritual diário diante do espelho
Até chegar ao Rio, a trajetória de Élton oscilou entre o sonho infantil com o futebol e a desilusão. O menino que jogava numa escolinha de Itaberaba fez quatro testes, dois do Bahia e dois do Vitória. Jamais passou. Aos 15 anos, ainda que a família não tivesse necessidades urgentes, largou o futebol e foi trabalhar numa gráfica, operando máquinas. Queria era esquecer a decepção.
No entanto, o futebol cruzaria novamente seu caminho sete meses depois.
No Intermunicipal, o mesmo torneio que revelou outro baiano, Obina, Élton despontou. Pensou em desistir por causa da incompatibilidade entre os treinos e o trabalho na gráfica, mas foi incentivado pelo pai a se dedicar só ao futebol. Contratado pelo Palmeiras do Nordeste, de Feira de Santana, retomaria sua peregrinação.
Em 2002, o Iraty me comprou.
Foi o único momento em que tive dificuldade de me adaptar. Tinha 17 anos e fui da Bahia para o Paraná.
Sentia saudade de casa. Evitava até telefonar, porque só piorava. Depois, até na Polônia achei tranquilo.
Fora o frio, é claro conta Élton.
Contratado pelo São Caetano em 2005, Élton ainda voltaria ao Paraná para defender o Coritiba. Observado por um olheiro, viveu breve temporada no Légia Varsóvia, da Polônia. A carreira mudaria, mesmo, em 2008.
Depois de voltar e ficar esquecido no São Caetano, foi emprestado ao Santo André. Os dez gols que marcou chamaram a atenção do Vasco.
Com tão pouca idade e o tanto de time que já passei, não é fácil.
Hoje, meu desafio é ficar no Vasco, ajudar mais o clube. Botei na cabeça que, até o fim do Brasileiro, quero chegar a 20 gols. São 13 rodadas e faltam sete gols conta Élton.
O artilheiro da Série B e do Vasco na temporada viveu momentos difíceis.
Durante o jejum de gols que o fez perder a vaga no time, temeu questionamentos. Afinal, não era conhecido antes de chegar ao clube: Entrava em campo sob pressão.
Hoje estou leve. Sei que uma hora ou outra posso marcar. Os outros jogadores falam: dá a bola para ele que a fase está boa.
Gols em sequência, artilharia da Série B e o protagonismo, no Rio de Janeiro, dividido com Adriano que, na Série A, marcou pelo Flamengo os mesmos 13 gols que o vascaíno. Nada disso mudou o jeito Élton de ser. O que mudou o baiano foi uma gaúcha.
Falei para os meus amigos que vinha atrás de uma carioca e arrumei uma gaúcha brinca.
Há seis meses, Élton mora junto com a modelo Karen. Se antes, já tinha um toque de vaidade, agora vê a companheira cuidar do estilo, Agora, é Élton by Karen brinca a gaúcha.
Antes de sair de casa, Élton gasta tanto tempo quanto Karen diante do espelho. Gel no cabelo, perfume, creme no corpo, óleo e alguns minutos para fazer as unhas da mão, mantidas impecáveis. Antes de posar para fotos, leva a mão ao cabelo, dá retoques no penteado e na roupa.
Diante da lente, mostra-se à vontade.
Sorri sem parecer forçado, é facilmente dirigido para fazer poses e tem o olhar de aprovação de Karen.
Se não fosse jogador, podia ser modelo. Olha só brinca, ao ver o resultado de uma das fotos.
É ela a responsável por comprar as roupas do atacante, que tem na orelha um brinco com a letra E e o número 9. A identificação com o Vasco está na parede da sala de sua casa, onde se destacam pôsteres do atacante em ação pelo clube.
Ele evoluiu muito e adaptou-se a uma nova característica, mais fixo na área. Foi semelhante ao que aconteceu com o Keirrison. Ele nasceu para o gol, precisa jogar perto do gol elogia Dorival Júnior.
Hoje, contra o Duque de Caxias, Élton terá Robinho a seu lado no ataque. No banco, Aloísio será uma sombra. Nílton vai entrar no meiocampo, já que Amaral está suspenso.
Na zaga, Gian volta na vaga de Titi. Lutando contra o rebaixamento, o Caxias foi motivo de uma conversa de Dorival com o time. O encontro teve participação até do presidente Roberto Dinamite.
Quando um time está nesta situação, se une e cria forças alertou o treinador.
Duque de Caxias: Vinícius, Oziel, Gustavo, Santiago e Marquinho; Mancuso, Leandro Teixeira, Juninho e Tony; Clayton e Gilcimar. Vasco: Fernando Prass, Paulo Sérgio, Vílson, Gian e Ramon; Mateus, Nílton, Alan e Carlos Alberto; Robinho e Élton. Juiz: Pablo dos Santos Alves (RJ).