Em 87, Sonja, outra gandula do Botafogo, fazia história
A gandula Fernanda Maia, 23 anos, se tornou, involuntariamente, uma das personagens da final da Taça Rio. Por repor a bola com rapidez para Maicosuel, no lance que originou o primeiro gol do Botafogo na decisão contra o Vasco, a jovem certamente será citada no futuro quando a partida no Engenhão for lembrada pelos torcedores. Mas o episódio de domingo não foi o primeiro capítulo da relação do Alvinegro com os gandulas.
Se no domingo, Fernanda ajudou Maicosuel a bater rapidamente o lateral e pegar a defesa vascaína pouco atenta, em 1987 um gandula literalmente cobrou um lateral para o Botafogo. O lance inusitado e único até hoje registado no futebol brasileiro ocorreu no Maracanã em 14 de março de 87, na partida do Bota contra o América, pelo Campeonato Carioca.
Após a bola sair pela lateral, o gandula cumpriu o seu papel e a mandou para o lateral-esquerdo Vagner. O lançamento fez a bola cair no peito do botafoguense, que dominou a redonda com categoria e não teve dúvidas: saiu jogando, como se tivesse recebido um passe de um companheiro. O árbitro Júlio César Cosenza não reparou que a bola havia sido lançada pelo gandula e deu prosseguimento normalmente à partida.
Dias após o jogo, questionado sobre a estranha jogada, o árbitro, sem convencer muito, alegou que havia marcado um toque de mão do atacante Luizinho, do América. E que os jogadores não teriam ouvido o seu apito. Isso apesar de o lance ter continuado por mais oito segundos após o toque (e o suposto apito). Até a bola, em disputa entre Luizinho e o zagueiro Mongol, ter saído pela lateral. E o gandula lançá-la para Vagner, diante de um impassível auxiliar.
Logo após a partida, o próprio Vagner, perguntado por jornalistas sobre o lance, brincou com a situação, sem comentar nada sobre a suposta marcação de uma infração pelo juiz.
No ano seguinte, quem chamou atenção à beira do campo foi uma menina. Também em um clássico Botafogo x Vasco, como no domingo. No Campeonato Brasileiro de 1988, vinte anos depois de ter comemorado o seu último título (o Carioca de 68), o Alvinegro fazia uma excelente campanha, dando esperança aos seus torcedores que o jejum de conquistas seriam finalmente interrompido. Em 1º de dezembro, o rival na sexta rodada do returno era o Vasco, um adversário de respeito, então bicampeão carioca (87/88).
E com jogadores com passagem pela Seleção Brasileira, como Geovani, Mazinho, Bismarck e o goleiro Acácio, o Cruz-Maltino foi superior e venceu por 3 a 0 (um gol de Geovani, cobrando pênalti, e dois de Mazinho), assumindo a liderança da Copa União.
A decepção da torcida do Botafogo, que compareceu em grande número ao Maracanã, ficou personalizada na gandula Sonja. A menina de 11 anos não conseguiu segurar as lágrimas ao ver o seu time de coração ser derrotado. Como consolo, ganhou uma camisa alvinegra do lateral-esquerdo Renato.
E a menina iria sorrir no ano seguinte, quando vários jogadores que estavam em campo naquela noite (Mauro Galvão, Paulinho Criciúma, Josimar, Carlos Alberto Santos, Luizinho, Mazolinha, Vítor) seriam campeões cariocas de 89, dando ao clube o tão sonhado título estadual.