Não é tão difícil entender como o Vasco conseguiu fazer um primeiro tempo tão bom e um segundo tão ruim no jogo de quarta-feira, contra o bom time da Universidad de Chile. Desde que estreou na temporada, dia 15 de janeiro, num amistoso contra o Cerro Porteño, do Paraguai, até esta primeira partida pelas semifinais da Copa Sul-Americana, foram nada menos que 72 jogos, num intervalo de 312 dias. Em média, o Vasco disputou um jogo a cada quatro dias, nos últimos dez meses. Se excluirmos a véspera dos jogos (quando os treinos são mais leves), o dia seguinte (destinado quase sempre à recuperação dos jogadores) e as horas passadas em aeroportos e aviões, vejam quanto sobra para que técnicos e preparadores físicos possam trabalhar. E não há time que jogue bem sem treinar.
Claro que não é a primeira temporada em que isso acontece. É verdade também que o Vasco não é a única vítima deste calendário cruel e desumano. O Santos, por exemplo, disputou o mesmo número de jogos e, ainda este ano, terá que atravessar o planeta para o Mundial de Clubes. Mas o Vasco não teve apenas o desgaste de jogos e viagens. Estes jogadores passaram recentemente por um trauma, quando viram Ricardo Gomes sofrer um acidente vascular cerebral hemorrágico à beira do campo, durante um clássico com o Flamengo.
Precisaram se superar para manter o equilíbrio e o foco e tiveram o atrevimento de, mesmo depois de ganhar a Copa do Brasil, disputar para valer o Brasileiro e a Sul-Americana. Sim, diferentemente do que fazem quase todos os clubes, o Vasco não abriu mão de competição alguma na temporada. E agora começa a pagar por esta ousadia.
Chegamos, portanto, a uma encruzilhada. Com salários cada vez mais altos, os clubes precisam aumentar o faturamento para manter bons jogadores. E não há mágica. No modelo atual, a única formade faturar é continuar jogando mais e mais.
O problema é que o torcedor está cansado de ser enganado. Não quer continuar pagando por jogos medíocres, com jogadores mal preparados ou equipes reservas. Já passou da hora de começar uma discussão séria sobre um calendário racional, que passe a discutir e valorizar a qualidade dos jogos e não a quantidade de jogos.
(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal Lance)