O Grêmio que o líder Vasco enfrenta neste domingo, pela 5ª rodada do Campeonato Brasileiro, é o mesmo adversário que marcou o fim de um ciclo bastante frustrante para Germán Cano. E que, olhando por outro lado, pode também ser enxergado como o início de sua guinada na carreira.
Três anos atrás, no dia 12 de dezembro de 2017, Cano disputou sua última partida pelo Pachuca na derrota por 1 a 0 para o Grêmio, pela semifinal do Mundial Interclubes, em Al Ain, nos Emirados Árabes Unidos. Entrou apenas no segundo tempo da prorrogação, quando a equipe de Renato Gaúcho já tinha a vantagem no placar graças ao gol de Everton Cebolinha, e nada pôde fazer nos 15 minutos que lhe restaram.
- Fui vendido ao Pachuca em 2015 e, ainda no primeiro semestre de 2016, com nove jogos, após uma entrada de um marcador, rompi o ligamento cruzado anterior do joelho. Fiquei sete meses parado. O Pachuca decidiu me emprestar ao Leon, que tem o mesmo dono. Consegui jogar várias vezes e retornei ao Pachuca. Em 2017, disputei o Mundial, acho que foram uns oito minutos. Lembro que o jogo contra o Grêmio estava truncado e que Everton entrou no segundo tempo e fez um golaço na prorrogação. Ele cortou para dentro e mandou um lindo chute. Infelizmente, não fomos para a final com o Real Madrid, mas foi uma conquista pessoal. Fomos terceiro do Mundial, uma experiência muito bacana. Foi um sonho que ficará no meu coração - recordou Cano.
A passagem de Cano pelo futebol mexicano iniciada ainda em 2014 ficou aquém das expectativas porque o atacante não engatou uma sequência de partidas e muito menos de gols. Uma lesão grave no joelho sofrida, ainda na primeira temporada pelo Pachuca, também dificultou as coisas para o argentino.
- Por aqui diziam que ele não havia conseguido se adaptar, que não estava contente. Era um pouco apático no dia a dia. E isso acabou fazendo com que não tivesse um bom rendimento - explica Alberto Villanueva, produtor e repórter da "Fox Sports" no México.
Depois da eliminação no Mundial, Cano foi acolhido no Independiente Medellín, clube pelo qual havia jogado por três temporadas antes de ir para o México e onde se sentia em casa. A escolha não poderia ter sido mais certeira. Em 2018 e 2019, o atacante marcou 74 vezes pela equipe colombiana. Com os 12 já anotados pelo Vasco, são 86 gols e um protagonismo indiscutível que fazem Germán Cano, aos 32 anos, reencontrar o Grêmio neste domingo surfando na crista da boa fase.
No México, não se adaptou
Então com 26 anos, Cano chegou ao Pachuca já com pompas de goleador depois das boas apresentações no Independiente Medellín. Só que, logo no início de sua passagem, precisou ficar meses fora de ação se recuperando da lesão no joelho. Foi emprestado ao Club León nas duas temporadas seguintes - na segunda, chegou a atuar em 34 partidas. Mas o rendimento continuou abaixo do que se esperava.
- A verdade é que a produtividade dele no futebol mexicano não foi muito boa - acrescenta Alberto Villanueva.
- Ele fez apenas 15 gols nos anos em que esteve aqui. Por causa das atuações abaixo, foi emprestado ao Léon, mas também não jogou bem. Muito se deve ao fato de não ter se adaptado ao México. Só ele sabe os motivos de não ter dado certo, nós só podemos relatar o que era falado. E o que era falado é que o Cano não se adaptou nunca. Uma pena, porque se esperava muito dele - conclui o jornalista.
Em 2017, ainda que tenha sido pouco acionado, o atacante fez parte da campanha do título da Liga dos Campeões da Concacaf, que deu ao Pachuca o direito de disputar o Mundial de Clubes. Quando voltou a Medellín, não se alongou muito sobre as aventuras em terras mexicanas:
- Eu tiro até um balanço positivo, (essa passagem) me ajudou muito a crescer, e isso é importante. As lesões me tiraram de muitos jogos e não pude me destacar, mas vejo a experiência como positiva - disse logo em sua reapresentação no Independiente Medellín.
"Se tiver confiança, vai triunfar"
Diretor de esportes da "Rádio RCN" de Medellín, Roget Taborda acompanhou de perto a segunda passagem de Cano pelo clube - a primeira foi entre 2012 e 2014. Para ele, com as circunstâncias corretas, o centroavante é perfeitamente capaz de levar uma equipe ao sucesso.
- Quando voltou a Medellín, ele brilhou por uma série de fatores. Primeiro: sua forma de ser, o que ele é como pessoa. Segundo: seu entorno futebolístico, os jogadores que teve no Independiente. Ele é um finalizador, busca a bola e finaliza de esquerda, de direita, de cabeça... Essa série de fatores o levou a ser um grande ídolo. Então, tem motivos para ser essa grande figura no Independiente Medellín. Mais do que isso: goza de uma grande simpatia no futebol colombiano - explica o jornalista, que se mostra atento aos feitos de Cano no Vasco da Gama.
- O Vasco também é importante para o Cano porque joga um futebol limpo, que tem muitas semelhanças com o futebol colombiano, onde se pode jogar com intensidade, rapidez e precisão. Qualquer equipe que tenha um jogador de área com a técnica e mobilidade que o Cano tem precisa fazer dele um goleador. Porque ele não fica parado, esperando que os jogadores o assistam. Não, ele forma parte do grupo, do conjunto. Colaborando, marcando, acompanhando... É um jogador que tem confiança para definir, tem uma boa finalização e, se tiver confiança do técnico e do grupo, vai sempre triunfar.
No Independiente Medellín, Cano foi artilheiro do Apertura (12 gols) e do Finalización (20) e eleito o melhor jogador do futebol colombiano em 2018; e em 2019, foi novamente o goleador do Apertura (21 gols) e do Finalización (13), terminou como campeão e artilheiro (seis gols) da Copa Colômbia e ainda se tornou o jogador com mais gols marcados na história do clube: 129.
No Vasco, que é líder do Brasileirão, já balançou as redes 12 vezes em 16 partidas na temporada. Ou seja, o momento de Germán Cano é outro completamente diferente se comparado com o de três anos atrás.