"Bate na perna esquerda do Romário, aí vem parecendo um passe". A lembrança brota como uma fotografia na memória de Juninho Paulista. Foi dele o gol de empate, que deixou nas cordas um Palmeiras que acabava de assistir, incrédulo, a desaparecer uma vantagem de 3 gols. Tudo em 18 minutos. Dali para frente, era questão de tempo o quarto gol, o título do Vasco e a maior virada das últimas décadas no futebol brasileiro. Nocaute inapelável.
A noite de 20 de dezembro de 2000 era a chance para o Vasco virar a página de um ano difícil. Vice-campeão do Mundial de Clubes da FIFA, realizado em janeiro, no Rio, um time de investimento e expectativa altos voltaria a sentir, em junho, o desgosto de uma derrota na final. E logo contra o maior rival, no Campeonato Carioca. Mas havia esperança para o clube derrotado por Corinthians e Flamengo nas grandes decisões do ano. O Vasco já estava na final do Campeonato Brasileiro, contra o São Caetano, e decidiria, contra o Palmeiras, a Copa Mercosul, equivalente da Copa Sul-Americana.
Quando a bola rolou, o Palmeiras fez valer a vantagem de jogar em casa e abriu 3 a 0 num intervalo de 9 minutos: Arce, aos 36, Magrão, aos 37, e Tuta, aos 45, deram ao Vasco uma missão praticamente impossível: fazer quatro gols em 45 minutos. "Lembro que tava um clima realmente tenso, as pessoas cabisbaixas", recorda Juninho Paulista. Só que, como recorda o meia, havia algo de diferente naquele time. "Eu nunca senti uma confiança tão grande numa equipe como era a do Vasco nessa época. Quando a gente tomava um gol, a gente não se abalava. Sabia que ia chegar e fazer os gols".
E haja confiança para um grupo que tinha acabado de perder seu treinador. Presidente do Vasco, Eurico Miranda tinha demitido Oswaldo de Oliveira por divergências no horário de apresentação para o treinamento, dois dias antes da decisão. Coube a Joel Santana a missão de comandar o clube nas duas decisões seguidas: Campeonato Brasileiro e Copa Mercosul. "O Eurico teve muita sorte pelo grupo de profissionais que ele tinha. Além de excelentes jogadores, eram pessoas de caráter, porque, senão, poderia ir tudo por água abaixo. O que a gente menos precisava era desse tipo de situação", recorda o camisa 23 do Vasco.
Mas o time reagiu. E em grande estilo. Romário, duas vezes de pênalti, Juninho, aproveitando passe sem querer de Romário, e, mais uma vez o Baixinho, em rebote de Juninho, escreveram a história que vascaíno e palmeirense nenhum se esquecem. Palmeiras 3 x 4 Vasco. Faixa no peito e início de outra virada, a de um ano que, se começou com duas frustrações, terminaria com dois títulos marcantes: a Copa Mercosul e o Campeonato Brasileiro.