Futebol

Entrevista: Paulo Autuori pede evolução dos técnicos no futebol

Foram anos fora do Brasil, mas agora as malas de Paulo Autuori estacionam de vez no Rio de Janeiro, mais particularmente em São Januário. Foi no estádio do Vasco que o garoto começou a se apaixonar por futebol. A trajetória do vitorioso treinador, bicampeão da Libertadores e campeão mundial, agora tem um desafio definitivo: usar sua experiência vencedora para reerguer um clube com dificuldades que parecem não ter fim.

Em entrevista ao Globo Esporte, o técnico ratifica sua opção pelo Vasco, diz que o futebol brasileiro ainda produz os melhores jogadores, mas já não é o melhor do mundo, sai do muro quando escolhe entre Messi e Cristiano Ronaldo e comenta o atraso da sua classe, que não se recicla com os melhores treinadores do mundo.

- Parou porque há uma arrogância de que não temos nada para absorver - diz o técnico do Vasco.

Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista com Autuori.

Protagonismo de técnicos

- Acho que isso hoje está em proporções exageradas. Não sei se isso continuar aumentando se será legal para o futebol. As pessoas precisam entender que o técnico é uma função a mais no futebol. Às vezes a gente perde um lance do jogo porque a câmera está em cima do treinador. Lembro na Copa do Mundo que o Joachim Löw era filmado a todo momento, porque estava com a mão no nariz, essas coisas. A função do treinador é formar uma equipe. E uma boa equipe é formada por jogadores.

Retorno pela família

- Existem coisas que te fazem tomar decisões. Uma delas é ficar perto da minha mãe, que está ótima, mas já tem 92 anos. Foi uma decisão pessoal e profissional também. No Catar sentia falta de verdade do futebol. Eles têm uma série de coisas, mas falta a matéria-prima dos jogadores e o público. Sinto tranquilidade de abordar esse assunto porque falava isso com as autoridades de lá.

Momento do futebol brasileiro

Posso dizer que dá para trazer grandes jogadores e formar uma equipe extraordinária para ser campeão brasileiro? É difícil, mas até dá para dizer. A nossa tarefa é, junto com essa equipe, mesmo que seja no limite, torná-la competitiva e de qualidade\"

- Considero que ainda temos e vamos ter por muito tempo a capacidade de gerar os melhores jogadores. Mas não podemos dizer que temos o melhor futebol do mundo. Porque isso engloba uma série de coisas, não só jogadores, mas técnicos, árbitros, dirigentes, calendário, estádios, facilidade para o público, presença de público. É um momento complicado, nas eleições dos melhores do mundo havia dois, três disputando sempre. Hoje não temos nenhum. Existem vários fatores para explicar. Mas, dentro da minha área, acho que perdemos muito quando entramos nessa de copiar o sistema completamente ultrapassado, como o 3-5-2, um sistema que não te dá mobilidade alguma, não é versátil. E hoje vemos uma carência de atacantes, meias, laterais. Aí começamos a nos descaracterizar.

Atraso de treinadores

- Posso assegurar uma coisa, trabalhei com italianos, franceses, espanhóis, alemães: entre preparadores físicos, médicos, nutricionistas, fisioterapeutas os brasileiros são top. Tanto é que os clubes permitem que seus jogadores venham a fazer sua recuperação aqui. E a nossa classe (de treinadores)? Parou. E parou pela arrogância de que não temos nada para absorver do lado de fora.

Trabalho no Vasco

- É preciso separar as coisas de forma muito clara. O Vasco tem uma tradição vitoriosa. E para seguir essa tradição é preciso que o time vença. Esses momentos difíceis na parte financeira, somados ao momento complicado de se buscar jogar no mercado me permitem falar sem qualquer hipocrisia: não vamos enganar o torcedor. Não adianta dizer que vai trazer esse ou aquele jogador para depois tornar isso uma bola de neve ainda maior, torna-se um ciclo vicioso. Posso dizer que dá para trazer grandes jogadores e formar uma equipe extraordinária para ser campeão brasileiro? É difícil, mas até dá para dizer. A nossa tarefa é, junto com essa equipe, mesmo que seja no limite, torná-la competitiva e de qualidade. Para quem sabe num curto espaço de tempo, e tenho que ter certeza de que isso pode acontecer, chegar um ou dois jogadores. E nesse momento a equipe precisa estar pronta para saber absorvê-los.

Botafogo 1995, Cruzeiro 1997 ou São Paulo 2005

Entre preparadores físicos, médicos, nutricionistas, fisioterapeutas os brasileiros são top. Tanto é que os clubes (europeus) permitem que seus jogadores venham a fazer sua recuperação aqui. E a nossa classe (de treinadores)? Parou. E parou pela arrogância de que não temos nada para absorver do lado de fora\"

- Não tenho dificuldade em dizer isso. Em 2005 peguei o grupo mais vitorioso no São Paulo. O Leão foi campeão Estadual, saiu. Cheguei, fomos campeões da Libertadores e Mundial, depois saí. Chegou Muricy, entrou e foi tricampeão Brasileiro. Depois, com Ricardo Gomes, outra grande campanha no Brasileiro. Esse grupo ganhou com todos técnicos. Ele (o grupo) se amoldava ao trabalho de todos treinadores. Quando falo que não deve haver protagonismo, digo por isso: o protagonismo desse grupo do São Paulo era imenso.

Cristiano Ronaldo ou Messi

Messi é mais jogador, tem mais talento. Cristiano Ronaldo é um grande atleta, um grande jogador também, com um poder mental notável, nasceu na Ilha da Madeira, onde minha filha também nasceu, mas a naturalidade do Messi para fazer as jogadas é incrível. Sem nenhuma invenção, sem nada, leva pancada, levanta, faz a jogada e só para quando comemora o gol. Sem vibrar à toa. Hoje o lateral corta a bola para fora e vibra. O goleiro defende e vibra. Nada contra, mas isso é muito pouco. É se contentar com muito pouco. Tem que comemorar vitória, comemorar título.

Fonte: ge
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