Enquanto os clubes de futebol brasileiros ainda procuram aprimorar os seus modelos de programas de sócio-torcedor, na Europa, o cenário é bem diferente. O Internacional, com 105 mil sócios, tem hoje o mais bem sucedido programa no Brasil, enquanto no Velho Continente, o Benfica, de Portugal, lidera a lista com 224 mil pagantes regulares, o que garante R$ 25 milhões por ano. Para atrair o torcedor, vantagens desde a compra de ingressos exclusivos até direito a voto. Mas a solução no Brasil seria reproduzir os modelos europeus? Para o especialista em marketing Sylvio Maia, a resposta seria "não" (assista ao vídeo).
- A Europa tem muitos clubes ligados a uma cidade. Com as grandes franquias americanas em várias modalidades é um clube por cidade, então a cidade toda respira (o clube). No Rio de Janeiro são quatro clubes, é difícil fidelizar quatro públicos diferentes num mesmo ambiente. Isso é um grande dificultador para importar modelos. Você pega o Borussia, que tem um histórico de relacionamento com o torcedor enorme, com 80 mil pessoas por jogo de média, e Dortmund respira o Borussia. A Bavária inteira respira o Bayern (de Munique). Simplesmente importar não, a gente deveria achar o nosso modelo - explicar o professor de gestão e marketing do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).
Entre os principais rivais que ameaçam a liderança do Benfica nesta lista de sócio-torcedores aparece justamente o Bayern de Munique, atual campeão europeu, com mais de 217 mil sócios. Acredita-se que, em pouco tempo, chegará ao lugar mais alto neste quesito. Marcel Marcondes, diretor esportivo da cervejaria Ambev, aposta no momento da economia brasileira para mudar o atual cenário local.
- A gente não deveria aceitar mais ter um futebol tão diferente nacionalmente do que tem na Europa. Temos uma economia que tem mais dinheiro girando aqui no Brasil do que na Espanha, Itália e França. A gente tem mais dinheiro em dólar girando aqui do que nesses países europeus - destaca.
Para o especialista em marketing Sylvio Maia, os clubes também precisam ser mais flexíveis para oferecer novos produtos ao seu público consumidor.
- Acho que uma coisa que o futebol precisa mesmo é olhar o marketing. Quando se fala "branding", é olhar a marca. Se você for olhar, os escudos não se deixam mexer, um absurdo. O Barcelona já mexeu cinco, seis vezes, e aqui você não consegue flexibilizar nada. Se não consegue flexibilizar nada, não tem produtos novos, se não tem produtos novos, não tem linhas de receitas novas.
Por enquanto os clubes ainda não movimentam nem o equivalente a 0,5% do PIB brasileiro. Uma década com Copa do Mundo e Olimpíadas no país parece uma boa oportunidade para alavancar esses números.