Alvo de severas críticas, o calendário do futebol brasileiro, enfim, começa a ser reformulado. Para o próximo ano, a Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj), inclusive, já definiu que o Campeonato Carioca será disputado em um turno único, reduzindo o seu tempo de duração. Todavia, esse foi apenas o primeiro passo.
Recentemente, cerca de 75 jogadores criaram um movimento para mudar o calendário da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A insatisfação dos atletas com a maratona de partidas e o pouco tempo de preparação dos clubes, porém, já não é novidade. Com a Copa do Mundo de 2014, a sequência de jogos deve ser ainda mais intensa. Quais mudanças podem ser feitas para melhorar o calendário? O trio de especialistas do Yahoo Esporte Interativo responde:
1) Na discussão sobre a melhora do calendário, um dos pontos mais abordados é um possível fim dos campeonatos estaduais. Vocês estão de acordo com essa mudança?
Henrique Marques - Comentarista Esporte Interativo
Acho que o fim é possível, mas acho que fazer um campeonato mais curto, com os times grandes entrando apenas no final da competição seria o ideal. É uma forma de não acabar com equipes tradicionais pequenas.
Fred Caldeira - Repórter Esporte Interativo
É uma mudança que se faz urgente há anos. Não há mais espaço para os desinteressantes campeonatos estaduais nesse calendário absurdo.
Aline Nastari - Repórter Esporte Interativo
Acho que o fim dos campeonatos estaduais não seria o ideal pelo que representam em algumas praças, por serem símbolos de tradição do futebol e pelo que significam para os times pequenos. Mas acredito que os estaduais deviam ser reelaborados, ter um formato mais curto, talvez com os times grandes entrando apenas em uma segunda etapa mais decisiva.
2) Além disso, que outros pontos podem ser melhorados?
HM - Sigo pensamento da primeira pergunta. Acho que os estaduais poderiam ser mais curtos, com os clubes grandes entando apenas em uma segunda etapa da competição.
FC - Com o fim dos Estaduais, haveria tempo para uma pré-temporada decente. Não se prepara uma equipe em dez ou quinze dias. É desumano até mesmo com os treinadores.
AN - Uma hipótese que considero boa é reelaborar o Campeonato Brasileiro em duas fases. A primeira de grupos e a segunda de mata-mata como funciona na Champions League, Copa do Mundo, etc. Assim o número de jogos seria reduzido.
3) Na última semana, o candidato a presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, afirmou que pretende criar uma liga de clubes para gerir o Campeonato Brasileiro nos moldes da Premier League. O que vocês acham dessa ideia?
HM - Acho importante. Os exemplos que temos lá fora são bem sucedidos. Mas é necessário que os responsáveis pensem realmente nos clubes e não em benefício próprio.
FC - Difícil opinar sobre uma possibilidade superficial e sem muitos detalhes revelados. Na Inglaterra, em certo ponto, deu certo, mas aumentou ainda mais a distância financeira entre clubes grandes e pequenos. É um caminho que pode ser perigoso.
AN - Boa no sentido de que pode gerar mais receita para os clubes, já que, aqui no Brasil a CBF é presa apenas à uma emissora. Na Premier League a maior arrecadação é com as cotas de TV, já que os jogos de uma competição são divididos entre várias emissoras, aumentando o valor pago pelos direitos.
4) A mudança na disputa da Copa do Brasil obrigou os clubes da Libertadores a disputarem mais um torneio no segundo semestre. Isto atrapalha ainda mais a qualidade do futebol do país?
HM - Eu gostei. Acho que o problema não está aí. Fazia tempo que a Copa do Brasil não ficava tão interessante. O problema maior é a organização geral e não essa mudança pontual.
FC - Do lado físico, atrapalha. E muito. Não adianta você adicionar clubes da Libertadores com a promessa de haver grandes jogos se os elencos estão esfarelados fisicamente. Na atual conjuntura, é loucura somar mais jogos ao calendário.
AN - Com certeza, pois o número de jogos é ainda maior e, aumentando o desgaste dos jogadores e diminuindo o nível técnico. O melhor exemplo é o Atlético-PR que deixou o time principal fora do estadual, assim participou de menos jogos e hoje tem tido um desempenho físico de destaque nos jogos do Brasileiro.
5) Além do acúmulo de datas, os horários das partidas - especialmente quarta às 22h e sábado às 21h - são alvo de reclamação dos jogadores. Em que medida esses horários afetam nosso futebol?
HM - Eu acho que o torcedor é muito prejudicado. Os horários são péssimos para quem faz o espetáculo e para quem assiste, porque são feitos para a TV. Para os torcedores têm a questão da segurança, ter aula ou trabalhar no dia seguinte, etc. Para os jogadores, eu não conheço a preparação física aprofundadamente, mas acredito que deva influenciar de alguma forma já que no fim do dia, geralmente, o corpo está se preparando para o descanso.
FC - Afetam em muitos aspectos. Para o torcedor, é terrível. Apesar de já termos criado (por imposição) a cultura de assistir futebol nesses horários, é desumano um cidadão sair do estádio em torno de 0h30 para trabalhar às 7h na manhã seguinte. Sábado às 21h da noite é um horário que não faz nenhum sentido a não ser para a transmissora. Para os atores do futebol, ou seja, jogadores e cia, também não é agradável. Passam o dia inteiro na concentração para jogar bola em um horário, teoricamente, de descanso.
AN - Primeiramente, na presença do público, os jogos das 16h nos fins de semana costumam ser bem mais cheios. Durante a semana, o horário muito tade é um impecilho para o trabalhador que tem que acordar cedo no dia seguinte. Tem também o desgaste dos jogadores que saem tarde dos jogos e devem ser reapresentar no dia seguinte, pois tem apenas dois dias para se preparar para a partida posterior. Ou seja, culmina em noites mal dormidas, treino regenarativo no dia seguinte, ausência de tempo para treino tático/técnico e desgaste ainda maior.