Novatos na arte de fidelizar seus torcedores em programas de sócios, alguns dos principais clubes do país têm superestimado a possibilidade de ganhar adeptos a curto prazo, oferecendo benefícios muito parecidos entre si. Associadas à iniciativa batizada de Movimento por um futebol melhor — que conta com parceiros comerciais e uma rede de descontos para sócios torcedores — as 34 equipes pretendem alcançar, juntas, a meta de 3,5 milhões de sócios até o Campeonato Brasileiro de 2015.
Trata-se de um número ambicioso, considerando a média de, aproximadamente, 100 mil sócios por time. Levantamento do ano passado apontava que, no mundo, apenas oito equipes conseguiram angariar 100 mil ou mais.
Alcançar o objetivo não deve ser tarefa simples. Hoje, os 29 times que já fazem parte da estratégia (cinco são esperados nos próximos dois anos) somam menos de 600 mil torcedores com seus carnês pagos mensalmente. Ou seja, para chegar aos 3,5 milhões, seria necessário aumentar em quase seis vezes a quantidade de brasileiros associados a um clube de futebol.
O especialista em marketing esportivo Cesar Gualdani concorda que a meta dificilmente será conquistada no período de tempo estipulado. “A expectativa do mercado em relação ao programa ainda é bem empírica. Mas, da maneira como os clubes pensam seus programas atualmente, eu acho muito difícil. Para o que foi projetado, os números indicam uma projeção pessimista”, avalia.
No início do ano, quando lançou seu primeiro programa de sócio-torcedor, a diretoria do Flamengo, por exemplo, estimava um total de 200 mil fãs do rubro-negro associados e um faturamento de, no mínimo, R$ 140 milhões anuais. Não está nem perto disso. Até este mês, o clube contava com pouco mais de 37 mil sócios que pagam mensalidades em dia — o que significa que apenas um crescimento de 430% poderia levar o time da Gávea a alcançar sua meta inicial ainda em 2013.
Pelo menos uma década mais experiente no assunto, o Internacional — primeiro a implementar, em 2002, esse tipo de programa entre os brasileiros — segue com projeções mais cautelosas. Sabendo que o aumento exponencial nos primeiros meses tende a cair com o tempo, o time acredita que essa marca de 200 mil só será alcançada em 2019. “Em 2015, esperamos chegar aos 150 mil. Mas isso é normal: para chegar aos 100 (mil), demoramos sete anos”, comparou o vice-presidente de Comunicação do clube gaúcho, Noberto Guimarães, em entrevista ao Correio.
Os 105 mil sócios do Colorado são o máximo que um time brasileiro conseguiu em termos de associados. É o suficiente, por exemplo, para colocar o Internacional no Top 10 do mundo, mas mal chega à metade do que conquistou o Manchester United, por exemplo.
Único clube, entre os 12 principais do país, a apresentar queda no número de associados no último trimestre, o Corinthians também vem procurando o pedal do freio na hora de se entusiasmar com o programa. As metas do atual campeão do mundo para o seu programa Fiel Torcedor normalmente não são divulgadas, mas, segundo Pedro Campos, responsável pelo programa no Departamento de Marketing do clube, até junho, se havia alcançado 40% do objetivo. Desde então, porém, caiu em mais de 10% o número de sócios corintianos. “Houve a queda, mas ela é prevista. Além da sazonalidade, estamos formulando as regras para adesão de dependentes e fazendo um novo cadastro”, justifica Campos.