Em um momento de baixa popularidade, a presidente Dilma Rousseff participou, nesta terça-feira, de um encontro com parlamentares, dirigentes de futebol e representantes dos jogadores, para comemorar a lei de renegociação das dívidas dos times, sancionada na semana passada. Em uma reunião informal, na sala de audiências do Palácio do Planalto, a presidente ganhou camisetas e flâmulas do Internacional, do Atlético Mineiro, do Coritiba, do América Mineiro e da Chapecoense, posou para fotos e fez discurso defendendo o esforço coletivo para ganhar o jogo. Pelos clubes, falou o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello.
— Os clubes dão um sentido ético também para a vida na sociedade. Eles mostram que no esporte você tem que se esforçar. Sem trabalho, ninguém consegue nada. Sem o suor do rosto, ninguém consegue nada. Primeira grande contribuição que clubes de esportes e atletas podem dar. A segunda, é que ninguém ganha sozinho. É preciso de equipe. É preciso que você tenha capacidade de construir uma equipe. E terceiro que eu acho que também é algo fundamental: o sentido de honra e respeito ao adversário, quando inclusive tem aquela troca de camisas entre dois clubes que acabaram de disputar remidamente uma partida — disse a presidente.
O presidente do Vasco, Eurico Miranda, chegou quando a reunião já havia começado. Segundo Dilma, a lei vai permitir melhores condições de governança, de transparência e de responsabilidade fiscal. A expectativa, disse Dilma, é que o resultado seja positivo para o futebol brasileiro, os clubes e os atletas, mas especialmente para a população, que paga os impostos.
— É um ponto de partida para um processo de modernização que todos nós queremos. De modernização, de profissionalização, de melhoria de gestão. Em todos os setores da atividade humana isso é necessário — afirmou a presidente, cobrando dos clubes um saneamento "sério efetivo" das finanças:
— Nós apoiamos o saneamento dos clubes e vamos garantir condições adequadas para o parcelamento da dívida. E sobretudo o que nós queremos é que essa renegociação resulte em um equilíbrio financeiro sustentável. Ou seja, que tenha durabilidade e que seja viável. Nós esperamos que todas as responsabilidades assumidas como contrapartida sejam cumpridas e nós certamente teremos de zelar por isso em nome do interesse público.
Com a lei em vigor, a presidente passou a bola para os clubes:
— O que está em jogo é que o jogo está começando. E agora o jogo é com os senhores. Nós esperamos que essa legislação contribua de fato para que esse jogo seja jogado com toda competência que caracteriza o futebol deste país.
Descontraída, ao receber as camisetas dos times, a presidente fez questão de deixar claro que se divide entre o Atlético Mineiro e o Internacional:
— Eu tenho dois mantos sagrados — disse Dilma, abrindo a camiseta do Inter.
Fazendo coro aos dirigentes e aos atletas, o ministro do Esporte, George Hilton, disse que a lei é boa, mas ainda precisa de ajustes. Hilton afirmou estar confiante de que os clubes vão aderir à legislação. Segundo o ministro, ainda será criada a autoridade pública, para fiscalizar o cumprimento das contrapartidas pelos times, como pagamento em dia das dívidas e dos salários.
— Temos muita coisa ainda para avançar do ponto de vista dos atletas, das conquistas, do ponto de vista também do clubes. O refinanciamento foi muito bem acertada em razão das dificuldades que os clubes enfrentavam — afirmou.
Bandeira de Mello disse que a lei permitirá a modernização e moralização do futebol brasileiro. Para ele, a lei traz medidas e contrapartidas "extremamente severas", mas necessárias para a organização do futebol brasileiro. O presidente do Flamengo fez questão de lembrar que o clube, nos últimos anos, sacrificou o investimento no esporte, para equilibrar as finanças.
— O Flamengo já fez o dever de casa, já cumpre todas as contrapartidas previstas na lei. A partir de agora, a gente espera que haja uma competição em igualdade de condições. É muito fácil você colocar um time poderoso em campo quando você não está pagando imposto, quando você está atrasando salário, e a partir de agora essas condições serão equalizadas e acredito que nós vamos acabar com o dopping não financeiro que ainda existia no futebol brasileiro — afirmou.
Os representantes do Bom Senso, Tiago Gasparino (Arapongas) e Vinicius Golas (Pelotas), disseram que a lei, de um modo geral, atende às expectativas dos jogadores, mas defenderam mais avanços, como a democratização das eleições das federações estaduais. Também cobraram mudanças no calendário do futebol brasileiro. Atualmente, os times pequenos só participam de competições no começo do ano, deixando muitos atletas desempregados no segundo semestre.
O deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), que foi relator da proposta na Câmara, disse que agora vai trabalhar para derrubar o veto aos artigos que autorizava a transformação dos clubes em sociedade empresária, criando um regime próprio de tributação e permitindo que lancem ações na Bolsa. Para ele, isso criaria novas fontes de financiamento dos times.