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Eurico Miranda minimiza problema com patrocinadora

No último fim de semana, Alex Evangelista, gerente científico do Vasco, aguardava a presença de "Doutor Dias", presidente da Lasa Farmacêutica, patrocinadora master do clube, como palestrante no Ciprres (Congresso Internacional de Prevenção, Recuperação e Rendimento Esportivo). Assim como o pagamento de R$ 10 milhões a que o Vasco teria direito, entretanto, Dias não apareceu – a organização do congresso avalia ação judicial.

Anunciada com pompa por Eurico Miranda, que a tratou como "revolucionária", a Lasa deu calote no clube semanas depois de ser anunciada. O histórico de mudanças de dono, batalhas judiciais com funcionários que não recebiam e até a perda de grande parte de sua sede mostram, no entanto, que não era difícil de prever esse cenário, como mostra o UOL Esporte em reportagem exclusiva. 

"Doutor Dias", que foi convidado por Evangelista para a palestra, é Raimundo Dias Silva, sócio majoritário da Lasa. Sua empresa enfrenta processos cíveis e trabalhistas com valores altos, problemas financeiros, e chegou a perder quase um terço de sua sede, leiloada judicialmente, contra a vontade dos sócios, para cumprir ordens judiciais de pagamento. Nas ações, funcionários alegam estar sem salários desde 2014, e falam em "sumiço" dos donos.

Ao contrário do que foi anunciado em janeiro, quando o patrocínio foi acertado nos últimos dias de Eurico Miranda na presidência, a empresa não pertence ao grupo multinacional indiano Maneesh Pharmaceuticals – ele se retirou da sociedade em 2014. Desde a semana passada o UOL Esporte tenta entrar em contato com representantes da Lasa das mais variadas formas. O site da empresa está em construção com a frase "Estamos chegando", enquanto o Facebook oficial tem apenas seis publicações e chegou a interagir com torcedores do Vasco, mas passou a ficar inativo há cerca de três semanas, mais ou menos quando a empresa parou de se comunicar com o clube. Lá há um telefone da fábrica, mas as ligações para ele não são completadas.

Os sinais foram inexplicavelmente ignorados pelo Vasco, que apesar de tudo fechou um acordo que previa o pagamento de R$ 18 milhões anuais – chamado de "revolucionário" por Eurico Miranda, o contrato tinha valores superiores aos do anterior, com a Caixa Econômica Federal. Diante do calote no primeiro pagamento, que deveria ser de R$ 10 milhões, a diretoria atual estuda formas de rescisão.

Processos falam em sumiço de donos e empresa inativa

O UOL Esporte obteve nove processos trabalhistas movidos contra a Lasa, que ainda é alvo de mais de 20 outros na esfera civil. Nas ações, ex-funcionários dizem que a empresa já não funciona regularmente, que seus donos sequer apareciam no local, e que estavam sem receber salários desde períodos que variavam entre 2014 e 2015.

Nos mais antigos, iniciados em 2015, a Lasa se defende e admite atravessar sérios problemas financeiros, atribuídos à crise no Brasil. É em um deles que a empresa vê uma parte significativa do terreno de sua sede ir a leilão – depois de uma luta até as últimas instâncias, o terreno, que abrangia quase um terço da sede, é arrematado por um terceiro, contra a vontade dos sócios.

Nos processos mais atuais, de 2017, um representante da empresa admite as dívidas, chegando a firmar acordos com os ex-empregados sem sequer contar com a presença de um advogado. Este representante é Tiago Bentes, filho do "Doutor Dias", identificado como gerente de Marketing. O profissional não atendeu às ligações e nem respondeu às mensagens via Facebook.

Raimundo Dias adquiriu sua participação na empresa diretamente do grupo indiano Maneesh, em 2014, comprando 85% das ações e se tornando sócio majoritário.

Os detalhes do contrato entre Vasco e Lasa

O Vasco assinou contrato de um ano com a Lasa nos últimos dias de Eurico Miranda na presidência do clube, mais precisamente em 16 de janeiro de 2018. No documento firmado entre as partes, ficou acordado que a empresa farmacêutica efetuaria um depósito à vista de R$ 10 milhões e pagaria mais R$ 8 milhões desmembrados ao longo da temporada.

Os valores envolvidos na transação – maiores que os pagos pela Caixa Econômica Federal em 2017 (R$ 12,5 milhões) - foram motivos de comemoração e ganharam ares de "grand finale" para a diretoria que estava de saída. Eurico, eufórico, emitiu uma nota oficial onde tratou a parceria como "muito além de um simples patrocínio" e classificou a empresa como "revolucionária". Ainda no comunicado, publicado no site do clube, o ex-presidente informava que a logomarca da Lasa já estaria estampada no uniforme a partir de 31 de janeiro, na estreia na segunda fase da Libertadores, contra a Universidad de Concepción (CHI).

Como o pagamento de R$ 10 milhões não foi feito no prazo, o novo presidente vascaíno, Alexandre Campello, notificou a Lasa e estipulou mais dez dias para um posicionamento da empresa, tempo este que expirou e fez com que o dirigente autorizasse o departamento jurídico a iniciar o processo de rescisão de contrato.

Com o imbróglio, o uniforme nunca exibiu a logo da Lasa e segue "liso" até agora, com quatro partidas disputadas na Libertadores e oito no Campeonato Carioca.

Eurico revela multa e minimiza situação: "Não tem problema"

Após o levantamento, o UOL Esporte entrou em contato com o ex-presidente do Vasco, Eurico Miranda. O cartola disse que não tinha conhecimento da situação financeira da Lasa e revelou que o valor da multa rescisória pelo não cumprimento dos acordos é de pouco mais de R$ 2 milhões.

"Claro que não (se sabia da situação). Não tem qualquer tipo de problema. No contrato assinado tem multa rescisória. É só executar essa multa", avaliou, complementando em seguida quando questionado sobre o valor: "Para cima de R$ 2 milhões".

Eurico ainda disse que, no momento da assinatura do contrato, a Lasa estava em "plena atividade". O dirigente também preferiu enaltecer os valores que estavam envolvidos no negócio e os benefícios que eles poderiam trazer ao Vasco:

"Quando assinei o contrato a empresa estava em plena atividade, a proposta era muito boa e eu achei que seria muito bom para o Vasco. Tem a multa rescisória. Se não cumpre o lado que tem que cumprir, tem que pagar. É só executar a multa".

Eurico, então, foi questionado sobre como havia sido feita essa aproximação e negociação com a Lasa. O cartola informou que as conversas tiveram início por meio do setor de marketing do clube. Na época, Flávio Carvalho e Henrique Serra, membros do grupo político "Casaca", de apoio a Miranda, estavam à frente do departamento sob o comando do então vice da pasta, Marco Antônio Monteiro.

No programa "Casaca! no rádio", disponibilizado no site do grupo dia 1 de março de 2018, Sérgio Frias, que foi vice do Conselho Deliberativo na gestão Eurico, revelou que a negociação com a Lasa durou cerca de dois meses e cita nominalmente os diretores Flávio e Henrique, enaltecendo o trabalho realizado por ambos no departamento. Após enumerar os feitos da dupla no setor, ele lembrou que os valores envolvidos na parceria eram os maiores do século em termos de patrocínio máster do clube e defendeu o contrato mesmo após o Vasco levar um calote da empresa.

"Eles (Flávio e Henrique) conseguiram colocar a marca Vasco num patamar de valoração para patrocínio máster no valor de R$ 18 milhões. Evidentemente o contrato foi feito com precaução para que o Vasco pudesse ser ressarcido de qualquer problema e isso está previsto em contrato", declarou.

Na semana passada, o UOL Esporte entrou em contato com o ex-vice de marketing Marco Antônio Monteiro e o mesmo não quis falar sobre o assunto. "Eu já saí do Vasco tem mais de um mês. Eu não vou falar sobre Vasco em respeito à diretoria que está lá. Assim como respeitam de um lado, respeitamos de outro. Vocês (jornalistas) têm de procurar a diretoria que está lá. Eu não vou falar a favor ou contra. Se eu saí, saí. Se acabou, acabou", declarou por telefone.

Vasco já iniciou processo de rescisão de contrato com a Lasa

O novo vice-presidente jurídico do Vasco, Rogério Peres, informou que o Vasco já iniciou o processo de rescisão de contrato com a Lasa e de execução da multa. "Os procedimentos internos foram iniciados. Estamos terminando de fazer essa minuta para montar o processo. Não é de grande complexidade, mas não pode ser feito de maneira irresponsável", disse.

O advogado, no entanto, preferiu não revelar se o clube se limitará somente à ruptura ou entrará com outros tipos de ações contra a empresa na Justiça. "Nesta questão prefiro não comentar. São estratégias. Não é conveniente que outra parte tome ciência de nossos planejamentos", declarou.

Eurico Miranda, que atualmente é presidente do Conselho de Beneméritos e votou em Alexandre Campello, foi perguntado se tem ajudado no processo e se acha que o clube deve processar a Lasa, mas preferiu não entrar em maiores detalhes.

"Eles (nova diretoria) leram o contrato. Está lá. Por isso eles deram um prazo. Se acharem que tem que processar a empresa, que façam".

Fonte: UOL Esporte
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