Num clube de tradições religiosas, Eurico é nome do pai, do filho e do espírito beligerante que comanda o Vasco. O todo-poderoso, que suscitava temor de aliados e adversários, já não tem o mesmo tamanho da época de grandes conquistas. A julgar pela campanha do time no Brasileiro, é um Eurico no diminutivo que está cada vez mais presente mesmo quando se afasta da rotina do futebol. Segundo dos quatro filhos do dirigente, Eurico Angelo Brandão de Oliveira Miranda, o Euriquinho, já é reconhecido nos corredores e gabinetes de São Januário como o primeiro na linha sucessória.
A ausência do filho do presidente no treino de ontem, na Urca, pode ser vista como a exceção que confirma a regra. Foco das tensões, que sugerem um racha no futebol, Euriquinho passou a ser notado até quando sai de cena. Mesmo quando se afasta, já não se pode esconder o desconforto que vem causando.
— Não vou falar do filho dos outros porque não gosto que falem dos meus — disse um antigo parceiro de Eurico, que prefere o anonimato para evitar ser ainda mais ofuscado pela ascensão da nova liderança.
Com boas relações no mercado, aos 37 anos, Euriquinho é visto como um dos responsáveis pela formação do atual elenco. Foi pela mediação dele que os agentes Carlos Leite e Claudio Guadagno se reaproximaram, embora o primeiro tivesse processo contra Eurico e o segundo fosse representante do ex-jogador Juninho Pernambucano, rompido com a atual diretoria. Com o ídolo afastado, a maneira com que a torcida o saudava, serve agora para deixar o filho do presidente no lugar do Reizinho.
— Euriquinho é inteligente, tem personalidade e conhece os meandros do clube. Claro que pode gerar conflitos — disse o grande benemérito Pedro Valente, que já trafegou entre a situação e a oposição até encontrar o equilíbrio em dez artigos. — Fiz um decálogo para os postulantes à presidência. Um dos pontos é não nomear parentes. Outro, o impedimento de assumir cargos públicos.
Ao lado dos irmão, Mário e Álvaro, Euriquinho foi funcionário do gabinete do pai em sua passagem pela Câmara dos Deputados, entre 1995 e 2002. Com a perda do mandato, Euriquinho encontrou acolhida no legislativo municipal. Entre os meses de janeiro de 2013 e 2015, Euriquinho foi assessor parlamentar do então vereador Marcelo Queiroz, atual secretário municipal de Administração.
— Euriquinho é um grande quadro do PP. Foi meu contemporâneo na graduação de Direito na PUC-Rio. Na Câmara, me assessorou em um dos meus principais eixos de atuação: o esporte escolar e universitário — disse Queiroz
A passagem pela Câmara coincidiu com o período em que seu pai esteve longe do poder no Vasco. Elogiado pela sua ação social, Euriquinho tem chamado mais atenção na área comercial do futebol. Embora admita a semelhança com o temperamento do pai, costuma dizer que o espelho de casa o tornou mais flexível. Quem convive com ele, no entanto, identifica que seu maior problema é a paixão exacerbada e a ânsia por voltar aos tempos em que suas explosões eram de alegria com o Vasco. O amadurecimento de um projeto vencedor leva tempo.