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Ex-diretores do Vasco estão por trás do sucesso do Olaria

Futebol e pagode nunca competiram como negócio. Foram sempre complementares na preferência dos frequentadores do Olaria Atlético Clube. Nos últimos anos, com as andanças do time pela Segundona, as noites de sábado foram mais concorridas do que as tardes de domingo na Rua Bariri. A maré mudou conforme as tendências. Os cartazes espalhados pela sede que convidavam para o samba no salão hoje anunciam show do NX Zero e a festa flash back no ginásio. Para driblar o prejuízo financeiro, em campo o Olaria entrou na era da terceirização. Líder isolado do Grupo B da Taça Rio, à frente de Botafogo e Fluminense, a rotina continua sendo típica de clube de subúrbio, com a diferença de que, por ora, o futebol voltou a ser a grande atração.

— Se ganharmos de Americano e Volta Redonda, contra o Vasco é festa — diz o zagueiro Thiago Eleutério, sobre os confrontos que decidirão uma vaga nas semifinais.

Dos 31 jogadores do elenco, Thiago faz parte de um grupo que é minoria. Ele, o lateral Ivan, o zagueiro Rafael Santos, o volante David e o atacante Waldir fizeram toda a formação de base no Olaria. Entre encontros e desencontros, esbarram-se há uma década nas dependências do clube. São bachareis em como sobreviver às dificuldades de um time pequeno. Os relatos que impressionavam agora são motivo de boas risadas. Teve partida oficial com colete por falta de uniforme, treino com camisa e short do Vasco e meião do Olaria, preleção tomando Coca-Cola e comendo coxinha de galinha horas antes de enfrentar o Flamengo, e até nudez de técnico no vestiário como pagamento de promessa depois que o time voltou a marcar um gol de falta.

— A coisa tá melhorando. Teve época que a gente só treinava três vezes na semana por falta de campo — lembra Waldir.

Até o primeiro trimestre de 2009, empresários se revezavam no comando do futebol. Muita gente custou a acreditar que a novidade daquele 1º de abril não era pegadinha do dia da mentira. Uma empresa montada pelos ex-vascaínos José Luis Moreira, o “Zé do Táxi”, que em tempos de vacas magras foi o mecenas de São Januário, e pelo ex-vice jurídico Paulo Reis assumiria o departamento de futebol por cinco anos. Paulo Angione, ex-gerente de Palmeiras, Vasco e Flamengo, participou do início do projeto, foi trabalhar no Bahia mas continua dando consultoria à distância.

Volta à elite no ano passado

O grupo recebeu carta branca do atual presidente, Heitor Belini, um ex-jogador que se elegeu para seu segundo mandato com a plataforma de dobrar o número aproximado de três mil sócios. O diagnóstico inicial apontava para a necessidade de mudança de mentalidade. Apesar de pequeno, o Olaria queria ser tratado com respeito. Horários passaram a ser cobrados e faltas punidas. A engrenagem começou a girar. Vice-campeão da Segunda Divisão, o time voltou à elite em 2010 depois de quatro anos e conquistou o Torneio Washington Rodrigues, disputado pelos terceiro e quarto colocados da Taça Guanabara. Este ano veio o bi.

— O maior problema aqui ainda é a falta de visibilidade — aponta o supervisor do futebol, Gilson Ferreira, cujas raízes cruzmaltinas só reforçam o carinho pelo Olaria. — Sempre foram próximos, desde os tempos do Pintinho e do Eurico. Tenho um sentimento grande por esse clube.

No futebol, visibilidade é sinônimo de televisão. Na Taça Guanabara, apenas um jogo do clube foi transmitido pela TV aberta, e outros dois no pay-per-view. Na Taça Rio, a esperança é o confronto com o Vasco, na última rodada. A distância da telinha afugenta o patrocinador. Ainda assim, a boa campanha no primeiro turno rendeu um contrato com uma ótica até o fim do Estadual. A nova receita ajuda a bancar a folha mensal de R$100 mil e parte do prêmio de R$50 mil prometido ao time em caso de classificação às semifinais. Para quem costuma viver no limite, sonhar é quase uma necessidade.

— O salário hoje é pago em dia, mas ainda não dá para fazer aquela graça — lamenta David.

— É, para viver na folia realmente não dá — diz Thiago.

— No máximo, dá pra levar a “nega” no mercado uma vez por mês — decreta Waldir.

Historicamente, o maior rival do Olaria é o Bonsucesso, com quem disputava o “Clássico da Leopoldina”. Nas últimas duas décadas, o Madureira sempre serviu de parâmetro e, atualmente, a rivalidade com o América é a que mais cresce. No universo sem glamour dos clubes pequenos, compartilhar dificuldades ajuda a estreitar os laços. A amizade de quem sobreviveu às provações da bola é o combustível para o que vem pela frente. Contra Americano, Volta Redonda e Vasco, estará em jogo mais do que uma vaga nas semifinais. Como tradição não paga as contas, o futebol precisa ser a grande atração para o Olaria garantir seu lugar na telinha.

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal O Globo)

Fonte: Jornal O Globo
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