A defesa de Cássio cara a cara com Diego Souza nas quartas de final da Copa Libertadores da América de 2012 foi tão impressionante que pouca gente lembra do lance que veio logo na sequência.
Em meio ao momento de euforia e assimilação dos torcedores no Pacaembu, o escanteio foi cobrado e Nilton cabeceou firme. O goleiro do Corinthians só olhou e a bola explodiu no travessão antes de sair pela linha de fundo.
Em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva, o autor do lance ofuscado, mas não menos perigoso contou os bastidores de um dos confrontos mais marcantes da história recente do futebol brasileiro.
Se eu tivesse feito o gol, Nossa Senhora… Eu acho que eu seria tão odiado por alguns corintianos (risos).
Tenho muitos amigos corintianos e o pessoal fica até brincando: ‘Nossa amizade ia acabar naquele momento, nem ia ligar mais para você, ia tirar da agenda’.
Bem-humorado e em quarentena na Capital Paulista, Nilton afirmou que viu ali sua primeira grande oportunidade de ser campeão da Libertadores escorregar pelos dedos. Mais tarde, ele pararia junto com o Internacional em uma semifinal.
“Quando vi o Paulinho cabecear e nossa luta indo por água abaixo foi traumatizante. É um jogo que você não esquece. Eu demorei um tempinho para poder assimilar e entender que a gente tinha sido eliminado jogando tão bem”.
O QUE DIZER SOBRE DIEGO SOUZA?
Eu queria matar o Diego no sonho, pelo telefone, quando estava com ele…(risos) Parceiro meu.
Apesar de brincar com o ex-companheiro, Nilton reconhece que talvez tomasse a mesma decisão na hora de concluir o fatídico lance para os vascaínos.
“A gente fala que daria cavada, tirada, mas só vai saber quem estava ali. Se eu fosse o Diego, eu ia manter a tirada, porque aconteceu comigo no Mineirão, um Cruzeiro e Atlético, dei uma arrancada do meio campo até a entrada da área, Ronaldinho me acompanhando, eu poderia ter dado uma tirada e eu acabei finalizando, preferi finalizar, e o Vitor defendeu com os pés. É um peso muito grande na hora”.
Eu posso garantir que foi mérito do Cássio, porque o Cássio pegou na ponta da unha, fez uma armadilha para o Diego bater naquele canto e estava preparado para quilo. Na sequência, mandei a bola no travessão e falei: ‘A bola não vai entrar hoje’. Cara, poderia ter um pênalti, que o Cássio ia pegar naquela noite.
Indiretamente, Alessandro é um dos protagonistas de toda essa história, afinal, foi a partir de um erro do lateral que tudo isso aconteceu. E Nilton também aproveitou a amizade com o ex-capitão do Timão para revelar uma conversa mais íntima.
“O Alessandro é meu parceiro e hoje eu falo para ele: ‘Você entregou o bicho para o Cássio, né?’. E ele diz: ‘A minha alma saiu do meu corpo’”
“Ia acabar com a carreira dele. Depois você vê ele levantando a taça, aquele peso. Muito legal”.
RECONHECIMENTO DE TITE
Nilton tinha 25 anos quando teve de absorver a eliminação. Antes, em 2004, ele havia trabalho com Tite no próprio Corinthians. À época, ainda era só uma promessa em transição entre a base e o profissional.
A relação com o atual técnico da Seleção Brasileira e o desempenho no Pacaembu ocasionaram uma cena ainda no gramado, logo após o apito final naquela quarta-feira.
Quando acabou, o Tite entrou em campo e veio na minha direção. Achei que ele ia falar com os jogadores do Corinthians para comemorar, mas ele veio em mim e disse: ‘Garoto, você jogou muito’. Eu falei: ‘Obrigado e parabéns pela vitória’. Ele respondeu: ‘Pode ficar tranquilo, porque o campeão era para sair desse jogo’. Eu disse que torceria para o Corinthians ser mesmo, porque assim teríamos saído para o campeão.
E olha que tinha o Santos do Neymar, p… time.
A maior lamentação, no entanto, talvez esteja ligada ao primeiro duelo, em São Januário, quando as equipes alvinegras ficaram no 0 a 0 em um jogo debaixo de muita chuva.
“O jogo de ida estava a coisa mais linda, lotado. Anularam aquele gol do Alecsandro, falaram que ele estava impedindo por um pé, mas fizeram aquela linha na diagonal, não é possível (risos). O campo estava um mangue”.
De qualquer maneira, Nilton evita reclamar. Afinal, foram três títulos Brasileiros na carreira, além de estaduais e Copa do Brasil. O carinho recebido pela passagem no Corinthians também é motivo de orgulho para o volante, hoje sem clube desde a saída do CSA.
“O pessoal sempre lembra e isso tem 11 anos, cara. Para você ver que eu deixei uma boa impressão”.