Nesta quinta-feira, o Fenerbahce, da Turquia, visita o Krasnodar, da Rússia, pelos 16-avos de final da Liga Europa, e conta com um brasileiro para sair com um bom resultado.
Trata-se do volante Souza, de 28 anos, revelado pelo Vasco e com boas passagens por Grêmio e São Paulo no Brasil, além do Porto, de Portugal, na Europa.
Contratado pelo time de Istambul em julho de 2015 por 8 milhões de euros (R$ 26 milhões, na cotação atual), o meio-campista é titular absoluto e um dos pilares do time aurinegro na busca pelo inédito título da Uefa. Na atual temporada, são 27 jogos e dois gols marcados até agora.
O atleta vem jogando tão bem que recentemente foi até elogiado em pleno campo de jogo por ninguém menos que Paul Pogba, craque do Manchester United e simplesmente o jogador mais caro da história (custou R$ 348,5 milhões para ser tirado da Juventus pelos Red Devils).
Isso aconteceu durante a partida entre os "Diabos Vermelhos" e o Fener, em 20 de outubro, pela Liga Europa, em Old Trafford. Mesmo goleando a equipe turca por 4 a 1, o astro francês viu muita qualidade no futebol de Souza, e fez questão de dizer isso a ele.
"Nessa hora o jogo ainda estava 1 a 0 para eles, e eu estava marcando o Pogba no escanteio. Enquanto eles preparavam a cobrança, perguntei pra ele se queria trocar camisa no intervalo, e ele respondeu: 'Com certeza'. Aí me olhou de novo e perguntou: 'Você é brasileiro?'. Eu respondi que sim, ele deu um sorriso e falou, arranhando um português: 'Dá pra ver! Tem muita qualidade, muita qualidade! (risos)'", contou o volante, ao ESPN.com.br.
O ex-são-paulino diz ter ficado extremamente feliz com o reconhecimento.
"Depois trocamos camisa, ele me desejou boa sorte e deu os parabéns pela partida. O Pogba é um cara que, apesar de ser um talento mundial, é muito humilde. Tenho o futebol dele como referência e sempre o assisti, mesmo ele sendo mais jovem que eu. O fato dele me elogiar e gostar do meu trabalho me deixou feliz demais. E ele entende muito o português, porque tem vários amigos brasileiros e adora nosso país", relata o atleta.
Souza, aliás, tem uma explicação para o passeio que o Fenerbahce levou em Old Trafford. Ele revelou que seu time teve um grave problema com o voo antes da partida.
"Rapaz, você acredita que um pássaro se chocou contra nosso avião, a janela trincou a a gente teve que fazer um pouso de emergência. Ficamos parados umas quatro horas em Budespeste. Com isso, complicou toda nossa programação. Quando chegamos em Manchester, nem conseguimos treinar, só pisamos no gramados e fomos embora", lembra.
Apesar disso, ele assegura ter ficado satisfeito com sua atuação contra o United.
"Para mim, foi um sonho jogar em Manchester, num estádio em que tantos craques já brilharam. Foi muito emocionante. Perdemos por 4 a 1, foi complicado, mas achei que fui bem individualmente. Recebi muitos elogios não só no Brasil, mas na Turquia também. Saí de campo com a sensação que dei minha vida e honrei a camisa do Fener", brada.
A vingança em cima do time de José Mourinho viria alguns dias depois, quando o Fenerbahce recebeu os Red Devils em Istambul precisando vencer de qualquer forma para avançar para a próxima fase. Com uma boa atuação de Souza, que foi titular, e também dos atacantes Sow e Lens, os aurinegros ganharam por 2 a 1 e seguiram em frente.
"A gente precisava vencer de qualquer jeito, não podíamos nem pensar em empatar. Estávamos com o orgulho ferido pela goleada na primeira partida e entramos voando em campo. Com um minuto, o Sow já meteu um golaço de bicicleta, que nos deu ainda mais ânimo e um gás muito grande para vencer. Controlamos a partida e corremos poucos riscos. Foram dois grandes jogos, que irão ficar guardados na minha memória", afirmou.
'O mais importante é sair suado de campo'
Dono de 75 partidas e seis gols pelo Fener, Souza diz que fica impressionado a cada contato que tem com a torcida do time turco, conhecida pelo fanatismo.
"A torcida realmente é atípica. Eles são muito fanáticos, cobram bastante, mas apoiam que é um absurdo. Pra jogar aqui, tem que ter muita personalidade, não só qualidade. Muitas vezes você tem só qualidade, mas acaba não jogando. O importante para eles é sair suado de campo", ensina o brasileiro, que ainda não levantou troféus pelo clube.
"Você precisar dar seu melhor sempre, tentar o máximo em todos os lances. Mesmo que você erre algo, eles sabem reconhecer seu esforço e te empurram de uma forma que nunca vi. A torcida é um combustível extra que temos aqui. Por isso, quando eles lotam o estádio e apoiam a gente, ficamos praticamente imbatíveis em casa", salienta.
Um clássico contra o rival Galatasaray, em novembro do ano passado, ilustrou bem.
"Nesse jogo eu sofri um pênalti, o Van Persie fez o gol e ganhamos de 2 a 0. Eu fui eleito o melhor em campo e muito elogiado por todos. Foi um dos melhores jogos que fiz na Turquia. Nos dias seguintes, foi só festa pra mim (risos)", diverte-se Souza.
"A torcida vai ao CT e traz flores, dá beijo no rosto, nos abraça. A gente no Brasil não está acostumado com isso. No máximo uma selfie e um autógrafo. O carinho deles é fantástico. Na rua, eles nos param o tempo todo para foto, abraço e dar um beijo no rosto (risos). No começo eu achava estranho, mas hoje acho o máximo", exalta.
A vida em Istambul, aliás, não poderia estar melhor, mesmo com todas as diferenças culturais entre brasileiros e turcos.
"Eu me adaptei bem demais à cidade junto com a minha família. Tenho mais dos anos e meio de contrato com o Fener e pretendo renovar para ficar muito aqui ainda. Eles pagam bem, e ainda tem essa situação com a torcida que é ótima, ainda mais que eles adoram brasileiros por causa do Alex. Tenho um carinho enorme pelo clube", ressalta.
Com suas boas atuações no Campeonato Turco e na Liga Europa, Souza espera estar atraindo a atenção do técnico Tite para tentar abocanhar uma vaga na seleção.
"Ser convocado é consequência do bom trabalho. Claro que quando eu estava no São Paulo a visibilidade era maior, mas aqui é boa também. Não adianta querer cavar, tem que merecer vestir a camisa da seleção. Se o Tite me chamar, será fruto do meu trabalho e ficarei muito feliz", discursa o atleta, que tem cuidados extras com sua forma.
"Tenho trabalhado forte e jogado bem. Ainda trouxe um fisioterapeuta e um preparador físico do Brasil, eles moram na minha casa aqui. A gente faz um trabalho para previnir lesões, e eu não tive nenhuma desde 2015. Faço tudo para estar sempre bem e devolver ao clube e aos torcedores todo o carinho e respeito que eles me dão", conta.
Enquanto jogador do São Paulo, ele fez três partidas pela seleção, em 2014.
'Torcida do São Paulo até hoje pede a minha volta'
Natural do Rio de Janeiro, Souza começou jogando futebol em uma escolinha de São Gonçalo e foi aprovado em um teste no Vasoc aos 9 anos. Ficou na Colina até os 21, sendo revelado ao lado de jogadores como Alan Kardec, Alex Teixeira e Philippe Coutinho.
Talentoso, subiu para o profissional aos 18 anos e, em 2009, vestiu pela primeira vez a camisa da seleção brasileira no Mundial sub-20 do Egito. Ao lado de nomes como Douglas Costa e Paulo Henrique Ganso, foi titular na campanha do vice do torneio, perdendo a final nos pênaltis para o forte time de Gana - Souza inclusive perdeu uma das cobranças.
No ano seguinte, despertou o interesse do Porto, que o contratou do Vasco por 3,75 milhões de euros (R$ 12,15 milhões, na cotação atual).
"Fiquei muito feliz por ir para o Porto, porque é um time no qual muitos brasileiros fizeram sucesso, fora que é bicampeão da Champions League. Era um sonho meu jogador na Europa. Em Portugal, atuei com várias feras: Falcao García, Hulk, James Rodríguez, Otamendi... Em um ano e meio, venci cinco títulos! Foi o melhor ano dos últimos tempos do clube. Acho que o mais legal foi o da Liga Europa", recorda.
"Quando voltamos depois da final em Dublin, tinha um mar de gente no aeroporto esperando a gente. Foi lindo! Eles nos acompanharam até a praça central da cidade e lá tinha mais um monte de gente. A imagem disso vai ficar pra sempre na minha cabeça. Tenho todos os vídeos desse dia guardados até hoje no meu computador", relata.
Souza não chegou a se firmar como titular do Porto, e, após 39 partidas pelos "Dragões", pediu para ser emprestado ao Grêmio, que o procurou em 2011: "Lá eu consegui ter uma sequência, jogar bem e me destacar de novo", cita.
Em Porto Alegre, o volante deve duas boas temporadas, sendo titular e fazendo mais de 100 jogos com a camisa tricolor. Chamou a atenção do São Paulo, que acertou a vinda do meio-campista em troca do zagueiro Rhodolfo, que foi para o Sul.
"Todo mundo falou que eu saí do Grêmio, que ia disputar a Libertadores, pra ir jogar no São Paulo e disputar Copa do Brasil e Sul-Americana, mas para mim foi uma honra vestir a camisa do São Paulo. Sabia da grandeza do clube, e que para minha carreira isso seria muito importante", elogia.
"Quando fui para o São Paulo, meu salário não mudou nada, para você ver que eu queria mesmo ir. Não tinha dúvidas que a visibilidade seria outra. Tudo o que pensei aconteceu. Fui convocado para a seleção e, em 2014, terminamos o Brasileirão em 2º lugar. Pena que o Cruzeiro estava voando, senão dava para ter sido campeão", lamenta o volante.
Segundo o próprio atleta, sua melhor partida pelo São Paulo foi uma vitória por 4 a 2 de virada sobre o Botafogo, no Mané Garrincha, na qual ele fez dois gols. Souza foi negciado com o Fenerbahce no ano seguinte, com a sensação de dever cumprido.
"Não ganhei títulos, mas saí do clube de cabeça erguida. Até hoje a torcida manda mensagens nas pedindo para eu voltar", finaliza.