A pausa de três semanas para a disputa da Copa das Confederações poderia servir para o Vasco se ajustar dentro e fora de campo e retornar mais forte no Campeonato Brasileiro. Mas o que se viu no período sem jogos foram dois treinos cancelados, um amistoso suspenso e um período de treinos fora do Rio de Janeiro que não aconteceu. Tudo por influência direta dos salários atrasados. Se a diretoria se desgastou por conta da inadimplência e os jogadores correm o risco de sentirem a falta dessas atividades quando a competição retornar, uma pessoa saiu ainda mais fortalecida desta turbulência: Paulo Autuori.
Em conversas com os jogadores, principalmente os mais experientes, Paulo Autuori deixou claro entender as dificuldades e que apoiaria as decisões do elenco - fossem elas bem fundamentadas. Esse comprometimento fez o treinador ser ainda mais admirado pelos jogadores, que viram nele uma voz de força junto aos comandantes do clube.
A última sexta-feira foi a data estabelecida pelo Vasco para pagar um mês de salários atrasados. Naquele dia, um grupo formado por Renato Silva, Nei e Wendel, entre outros, decidiu que se a promessa não fosse cumprida por inteiro - ou seja, se nem todos recebessem, como já havia acontecido em outras ocasiões - eles se recusariam a treinar no dia seguinte. Como o pagamento não foi verificado em todas as contas correntes, a greve foi comunicada pelo capitão Carlos Alberto a Paulo Autuori, que prontamente concordou e transmitiu à direção. A atitude do técnico foi motivo de conversas e elogios dos atletas.
- Ele mostrou que é sujeito homem - resumiu um jogador, referindo-se ao treinador vascaíno.
Mas se engana quem pensa que a atitude colocou Autuori contra a diretoria. Pelo contrário: o Vasco tem cada vez mais a certeza de que ele é o homem certo para comandar a equipe, e a vontade de mantê-lo em São Januário é um dos principais estímulos para que se busque sanar as dívidas com o elenco. Isso porque o treinador já deixou claro desde a chegada que, se os salários permanecerem ou começarem a atrasar a partir do início de julho, ele vai embora.
Ao mesmo tempo em que compra a briga dos jogadores, Paulo Autuori reafirma sua confiança nos dirigentes. Em suas entrevistas, faz questão de destacar o empenho do clube para dar fim aos problemas financeiros e elogia a movimentação da diretoria para fazer com que elenco e comissão técnica pensem apenas no que acontece dentro de campo.
- A partir de julho não pode mais haver atrasos em relação aos profissionais que trabalham. E eu não falo só de jogadores, falo de todos os funcionários. É a meta que a diretoria quer cumprir e tenho certeza que vai fazer - disse Autuori, em entrevista na última sexta-feira.