Futebol

Fagner já dava sinais de talento aos 9 anos

A cada passo, uma provação. Assim pode ser definida a caminhada de Fagner até aqui. Por trás do visual moderno e tatuado, uma origem humildade, cercada de obstáculos. No capítulo a parte desta história, há o Corinthians, adversário desta quarta, que o criou e que viu, mais do que todos, que o desprezo seria o grande combustível de sua determinação.

Talentoso desde moleque, com apenas 9 anos foi descoberto numa escolinha de sua região, no simples Jardim Capelinha, próximo ao Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo. A alegria de estar no Corinthians, porém, foi contrastando, aos poucos, pela ausência em todos os jogos e torneios. A dispensa na lista de relacionados para um campeonato importante foi a deixa para tomar uma decisão: jogaria por outra equipe, nesta mesma competição, mesmo ainda estando treinando no Timão.

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– Era um time da prefeitura (Jorge Bruder - foto em destaque) que ficava perto de onde morávamos. Com aquela idade (9 anos) ele falou para mim: “Pai, eu não quero nada. Só quero jogar contra o Corinthians – se recorda Calisto, pai do lateral.

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Foi por esta equipe que Fagner (à esq.) provou seu valor (Foto: Bruno Braz)

Então Fagner foi ao pequeno clube numa quinta-feira e já no sábado estreava pela competição. Para chegar ao confronto com o Timão, no entanto, precisava levar o modesto time às semifinais, fato que acabou aconteceu. Na partida, fez um gol, deu passe para outro e foi o melhor em campo. A classificação não veio, já que após o 2 a 2 no tempo normal, o Bruder perdeu nos pênaltis. Porém, sua missão já estava cumprida: havia provado seu valor ao Timão.

Os dirigentes corintianos, então, o viram com outros olhos e, ainda naquele campeonato, o convidaram a assistir a final contra o Juventus. Depois, fó só alegria:

– Acabou sendo premiado o melhor jogador do campeonato. No ano seguinte, se firmou no Corinthians e, em pouco tempo, já era titular e capitão – relembra Calisto, revelando os primeiros passos da trajetória do seu filho no agora adversário desta quarta.

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Fagner (à esquerda) nas divisões de base do Corinthians (Foto: Bruno Braz)

Seria o Corinthians capaz de duvidar de Fagner novamente nesta noite no Pacaembu?

ACIDENTE GRAVE E MUITA SUPERAÇÃO: EXEMPLO DE GARRA

Ainda bem criança, Fagner aprendeu a lidar com as pancadas que a vida proporciona. Após a separação dos pais, não teve a presença da mãe por perto, e acabou sendo criado pelo pai Calisto:

– Fagner teve a ausência de uma das coisas mais importantes na vida de uma criança: a mãe. Isso é duro de suportar – diz o pai, que também cuidava do irmão mais velho Fábio.

Aos seis anos, sofreu um acidente numa porta de vidro que o colocou em risco de morte ou amputação do braço esquerdo:

– Quase morreu. Foi socorrido às pressas num hospital público. Foi feita uma cirurgia errada (nos ligamentos rompidos) e ele quase perdeu o braço. Foi recuperar depois, num outro hospital, e tive até que vender o carro para pagar parte da cirurgia para ele não perder o braço – relembra Calisto, destacando que, por este motivo, o lateral passou a fazer tatuagens (a primeira foi para cobrir a cicatriz).

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Fagner e o pai na Holanda (Foto: Bruno Braz)


Na Holanda, com apenas 17 anos, sozinho e sem ser aproveitado (depois da mudança de técnico, nunca mais entrou e chegou a ser preterido por um zagueiro na lateral-direita), pensou em largar:

– De vez em quando me ligava de madrugada: “pai, estou com minha mala arrumada e vou embora. Não quero nem saber se não vou jogar bola mais, mas eu vou embora.”

AS SUPERAÇÕES DE FAGNER

Ele, o pai e o irmão

Após separação, ainda criança Fagner conviveu com a ausência da mãe.

Acidente grave

Com seis anos, se cortou numa porta de vidro e correu risco de morte e de ter o braço esquerdo amputado.

Martírio

Com 10 anos, ia sozinho para o treino no Timão. Pegava três conduções, num trajeto de quase três horas.

- Diziam que eu era maluco por deixar, mas sempre trabalhei com comércio e não tinha tempo para levá-lo - justifica o pai.

Barreiras

No começo no Corinthians, um técnico quis mandá-lo embora por ser muito baixo, mas a diretoria o bancou.

Perrengues

Antes de ir para o PSV, fez um contrato com o Vitória apenas para servir de “ponte” até completar 18 anos. Prometeram apartamento, mas ficou morando na casa de um casal e sem receber salário. Na Holanda, pensou em largar tudo por não estar jogando.

BATE-BOLA
Calisto (Pai de Fagner em entrevista na sua loja em São Paulo-SP)

LANCE!: A ideia do nome Fagner foi sua? Você é fã do cantor?

Calisto: Temos o filho Fábio, mais velho. Aí veio ele e dei a ideia de dar o nome. Não coloquei exatamente só pelo cantor. Teve influencia? Claro que teve, até porque só conheço um Fagner. Mas o cantor é Raimundo Fagner, e eu quis tirar o Raimundo, não é? (risos). Gosto de todas as músicas, mas hoje nem ouço mais.

L!: E quando ele começou a fazer as tatuagens, o senhor aprovou?

Calisto: Primeiro foi o brinco...Nunca proibi de nada e nunca obriguei a nada. Ele falou que queria colocar brinco, eu acho ridículo, mas tudo bem. A veio a tatuagem. A tatuagem pesou, mas aí ele ficou grande, fez a primeira e fez outras (risos).

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Calisto em seu local de trabalho: orgulho do filho (Foto: Bruno Braz)

L!: Ver o Fagner ganhando prêmios e conquistas faz passar um filme na cabeça das dificuldades passadas?

Calisto: Com certeza (seus olhos ficaram marejados). Fico muito orgulhoso, mas ninguém consegue nada sem luta. Ele lutou muito por isso.

COM A PALAVRA
José Augusto (Técnico de Fagner no juvenil e nos juniores do Corinthians)

Sempre determinado, focado e disciplinado

\"Ele praticamente iniciou a vida dele no Corinthians. Foi só sucesso nas divisões de base. Sempre foi esse jogador que está hoje no Vasco. Determinado, disciplinado e focado. O que ele joga no Vasco é o que demonstrava aqui. É o que sempre digo: quem joga no Corinthians não sente pressão em lugar algum. É um jogador que só tenho que falar elogios. Um menino de grupo que a diretoria sempre apostou em estar na Seleção. Já fazia a jogada de ameaçar cruzar e cortar para dentro. Quando nos encontramos ele disse: “professor, não vou esquecer jamais dos momentos que passamos. Aprendi muito”. Isso faz bem para o treinador. É um orgulho vê-lo bem hoje.\"

Fonte: Lancenet!
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