A cadeira do dentista, onde Felipe passou parte da manhã de ontem, é mais confortável do que o banco de reservas do Vasco. Aborrecido por ter sido substituído na vitória (2 a 1) sobre o Lanús, o jogador jura, porém, que não xingou o técnico Cristóvão. Com a coragem de quem sai sorrindo de um consultório dentário, Felipe desfaz o mal-entendido: os palavrões proferidos na saída de campo foram para o funcionário da Conmebol que impedia a sua passagem.
- Fiquei aborrecido. Qualquer jogador fica. Mas entendo a situação do treinador. Esbravejei, mas não foi com o Cristóvão. Não xinguei o Cristóvão. Foi com aquele cara que não me deixava sair de campo. Ele cismou que eu só poderia sair depois que a plaquinha eletrônica mostrasse meu número. Como ele não entendia bem português, saí xingando mesmo - explica.
Ao fim do jogo, Felipe foi designado para o exame antidoping, e, portanto, não esteve com Cristóvão no vestiário. Já refeito da decepção, não acha que será preciso convidar o treinador para uma conversa olho no olho.
- Não cometi nenhum ato de indisciplina. Cristóvão é o comandante, é ele quem manda. Só achei que eu estava bem na partida. E sou fominha de bola mesmo. Eu queria continuar no jogo porque achei que dava para a gente fazer mais gols. Talvez, a intenção dele tenha sido aumentar o poder de marcação, já que a gente estava vencendo. Jogador tem que sair chateado quando é substituído. Todo mundo deve ter vontade de jogar.
Apesar de ter sido substituído nos últimos três jogos, Felipe prefere pensar no coletivo. Não vê motivo para a troca de treinador, que continuará merecendo seu apoio. E acha que as vaias e xingamentos da torcida a Cristóvão são, no futebol, que nem dor de dente: todo mundo passa por isso um dia.
- Foi uma reação normal. A torcida não concordou com a substituição. Não foi a primeira vaia e nem será a última. Futebol é assim mesmo. Mudar para quê? Não há razão para o Vasco trocar de treinador nesse momento - encerra.
Apesar da vitória sobre o Lanús, o discurso ao fim do jogo foi de derrota. O que não significa que o time esteja jogando a toalha na Libertadores. Segundo Felipe, o Vasco continua com boas chances de se classificar, ainda que vá decidir a sorte na casa do adversário argentino.
- Ficou um pouquinho de frustração porque a gente podia ter feito um placar mais dilatado. Mas o Vasco está acostumado a jogar fora de casa. O importante é que a gente venceu - diz.
Embora não estivesse mais em campo, Felipe soube da reação dos jogadores, que fizeram questão de sair de campo ao lado de Cristóvão.
- Isso mostra que o time é unido na vitória e na derrota. Foi assim que o Vasco conquistou a Copa do Brasil. E é assim que a gente vai buscar outros títulos.