O programa \"Vasco Olímpico\" entrevistou na última quarta-feira (21/02) a meio-campo Ana Clara, da equipe de futebol feminino do Vasco. A jovem de 17 anos, que foi revelada em São Januário, falou sobre sua trajetória no futebol, sobre o Vasco na Copa do Brasil e analisou o momento vivido pelo futebol feminino no país.
Confira a transcrição completa da entrevista:
Atuação contra o Intercap-TO
\"A gente desde o começo do jogo sufocou elas. A nossa posse de bola foi muito maior e a gente conseguiu encurralar o time delas de uma maneira que a gente nunca tinha feito antes, mas deixamos a desejar na finalização. A gente trabalhou muito durante a semana justamente para não pecar de novo, pois isso já tinha acontecido no Tocantins no jogo retrasado, quando a gente ganhou delas de 2 a 1. Agora nesse jogo de volta a gente já teve alguns errinhos nessa parte, mas vamos melhorar\".
Início na Copa do Brasil
\"Essa competição não é fácil. É uma das competições mais importantes a nível nacional. A gente vem buscando esse título, a gente trabalha em cima disso com as jogadoras mais novas e com as jogadoras mais experientes. É com essa mescla que a gente acha que vai conseguir chegar até as finais. Juntando o talento das meninas da base do Vasco junto com as jogadoras mais experientes, que já tiveram várias passagens pela Seleção Brasileira principal, a gente acha que pode chegar ao título. Copa do Brasil é mata-mata, não tem jeito. Cada jogo é mais difícil A gente vai pegar agora uma pedreira pela frente, que é o Kindermann de Santa Catarina. É o time que não tem muita divulgação, não é muito conhecido Brasil a fora, mas eu conheço essas jogadoras pelo fato de muitas delas terem sido minhas companheiras na Seleção sub-17. Eu sei da qualidade que elas têm, sei que o time tem um trabalho profissional e que não vai ser fácil\".
Convívio com Tânia Maranhão
\"Eu aprendo com ela a cada treino, a cada minuto ela sempre vai me dando várias instruções e me mostra qual é o melhor caminho. Ela dá segurança total ao sistema defensivo. Eu me sinto muito respeitado por ela e o legal é isso. A gente se respeita muito, não só nós duas, mas como o time inteiro. Eu me espelho muito nela e espero no futuro seguir o caminho que ela seguiu e me tornar uma jogadora como ela\".
Trajetória
\"A minha carreira é bela, mas é curta. Estou no Vasco desde 2010, estou lá desde o sub-15. É um carreira curta, mas é vitoriosa. O trabalho é contínuo e já ganhei vários títulos pelo Vasco, o mais importante foi o Mundialito lá em Portugal no ano passado. Graças ao Vasco eu consegui realizar meu sonho de chegar na Seleção e disputar dois campeonatos. Fui campeã Sul-americana, mas a gente infelizmente perdeu na Copa do Mundo do ano passado. Eu tenho certeza que mais para frente muita coisa vai rolar. O carinho que eu tenho pelo clube é muito grande, pois foi lá que me formei, foi lá que os primeiros técnicos me ensinaram boa parte da técnica e também da responsabilidade que eu tenho dentro de campo. Toda a parte de comunicação também foi trabalhada e acho isso interessante, pois eles trabalham isso com a gente desde cedo. O carinho que eu tenho pelo clube é muito grande, principalmente pelas pessoas que trabalham lá\".
Futebol Feminino no Vasco
\"O projeto que foi iniciado pelo nosso diretor Tadeu Correia está em vigor desde 2008. A gente teve várias reuniões com a Marinha, vários convênios com a Marinha, com o time profissional da Marinha. É um trabalho que vem da base. A gente tem as escolinhas de futebol, as categorias sub-15, sub-17, sub-20 e adulta. É o único time grande do país que tem todas as categorias de base de futebol feminino atuando. Cada categoria tem uma comissão, é um trabalho muito organizado, pois todas as comissões se ajudam e isso faz com que o trabalho seja muito melhor. Outra coisa é ressaltar é o apoio que a gente tem das jogadoras mais experientes, que estão sempre nos ajudando. Cito aqui a Tânia Maranhão, a Bárbara e a Dani Batista, que são jogadoras que tiveram passagem também pela Seleção Brasileira principal, não só a militar. A gente tem o apoio também do René Simões, que era treinador do futebol feminino e a gente agradece bastante a ele também. A gente espera ganhar essa Copa do Brasil para mostrar ao torcedor vascaíno a força que o nosso futebol tem. Nossa base já mostrou a força que tem, pois a gente já ganhou várias etapas de estaduais, várias etapas da Copa Coca-Cola na categoria sub-15, fomos campeãs mundiais na categoria sub-17 e conquistamos vários títulos no sub-20\".
Cobertura do Só dá Vasco
\"Eu quero agradecer muito ao pessoal do Só dá Vasco que estão sempre divulgando o nosso trabalho. Isso é o que a gente precisa, pois a gente faz a nossa parte dentro de campo. A gente precisa mostrar para todo mundo o que a gente faz, pois nós somos muito capazes. O Futebol Feminino do Vasco vem crescendo, já é o quintou ou sexto ano com profissional em ação. A gente tem conquistado vários títulos e a divulgação tem sido muito importante\".
Ausência dos grandes clubes na Copa do Brasil Feminina e ausência da torcida vascaína em São Januário
\"Se eu citar para você os principais clubes femininos na atualidade aqui no Brasil eu tenho certeza que pouquíssimos vão reconhecer: Centro Olímpico, Vitória de Santo Antão, Kindermann, o Foz de Iguaçu. São times que realmente não tem nome. A gente tem a camisa do Vasco e está levando ela para o Brasil inteiro. Isso faz com que a gente tem uma visibilidade muito maior porque temos torcedores pelo país inteiro. Quando a gente foi jogar em Tocantins eu fiquei impressionada com o número de torcedores que tinham lá, impressionada. Raramente tem um jogo do Vasco masculino lá, que é para que eles torcem. Quando o feminino foi para lá foi motivo maior para ele ir ao estádio e ver o Vasco jogar, torce pelo time que eles gostam, até porque eles só podem torcer diante da TV. Eu fiquei muito feliz com a presença da torcida, que ajudou o nosso time e empurrou. A torcida é o décimo segundo jogador em campo. Nosso jogo em São Januário não foi tão divulgado como a gente gostaria, infelizmente. Não teve tantas pessoas presentes, até porque a data iria mudar e não mudou. Não mudou e não conseguiram passar para a torcida isso. Foi um pouco complicado essa questão de data. Realmente a torcida deixou a desejar, eu não estou criticando, mas acho que vale muito a pena assistir o jogo. Quase todas as jogadoras que entram em campo pelo Vasco tem passagem pela Seleção Brasileira, todas são jogadores conhecidas e reconhecidas. São jogadoras que sabem jogar futebol, que tem experiência e que trabalham mais de vinte anos no ramo. É um futebol muito bonito e acho que vale muito a pena ir ver\".
Convite a torcida do Vasco
\"Esse sábado vai rolar o primeiro jogo das oitavas de finais da Copa do Brasil. Vão se enfrentar o Vasco e o Kindermann-SC as três horas da tarde. O ingresso está dez reais e cinco reais a meia. A gente precisa muito do apoio de vocês, pois esse jogo vai ser muito difícil pois elas querem também messe título inédito e visibilidade para o time delas. A gente precisa desse títulos para levar cada vez mais o nome do Vasco ao topo e manter cada vez mais a hegemonia do futebol feminino no Vasco, que já é apresentado para todos os cantos do Brasil\".
Posição
\"Na verdade eu desde o começo da minha carreira no Vasco eu sou meio-campista. Agora eu estou como zagueira no adulto, até pelo fato de eu estar jogando na Seleção como zagueira por conta do meu passe e do meu lançamento. Por conta disso eles preferiram me colocar para jogar mais recuada para ajudar na marcação e melhorar a saída de bola. Facilita muito jogar com Tânia Maranhão do meu lado, pois ela é uma referência. É impressionante o futebol que aquela mulher joga, a calma que ela me passa e passa para o time. É mais ou menos isso. Procuro trabalhar a bola com calma, com clareza e dando passes simples. O engraçado é que como zagueira não posso inventar muito não, deixo para as meninas lá na frente fazerem o que elas gostam\".
Onde prefere jogar hoje
\"Eu me encontrei como zagueira. Estou gostando muito, pois toda a vista do campo e vejo todo o jogo. Não me importo de passar o jogo inteiro gritando. É muito engraçado porque elas reclamam comigo e dizem que eu falo demais, mas faço isso só para ajudar o time mesmo. Eu estou sempre à disposição de todas as meninas para poder ajudar. Não vou brincar atrás, seriedade sempre acima de tudo\".
Sobre jogar na Europa
\"Não na Europa em sim, mas eu gostaria de sair do Brasil. Eu deixo isso um pouco mais para frente, pois agora eu estou numa fase muito boa dentro do Vasco e eu quero defender a camisa vascaína por um bom tempo. O carinho que eu tenho pelo clube é muito grande. É difícil aqui no Brasil porque ninguém vê o futebol feminino como investimento, vê como um gasto. Arrumar patrocínio é muito difícil pois não tem tanto retorno quanto eles gostariam. Para você patrocinar, você visa o lucro. É difícil ter lucro com o futebol feminino, apesar de ser um esporte bem reconhecido que é o futebol. Apesar de ser um esporte que tem evoluído a cada ano com o trabalho da CBF e dos clubes do Brasil. A gente vê que a realidade é essa, a dificuldade de não poder treinar, falta de dinheiro para transporte e alimentação. É um pouco complicado, mas eu acho que nada disso nunca vai tirar o meu gosto de jogar, nunca vai tirar o meu amor pelo futebol e muito menos meu carinho pelo clube. Pretendo sim sair do Brasil, mas não agora\".